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COP26: Agropecuária brasileira recusa ser “vilão” na discussão climática

Agricultores e criadores de gado do Brasil presentes na cimeira do clima da ONU recusam ser “vilões” na discussão climática, defendendo que também pugnam pela sustentabilidade e que “questões ideológicas” devem ficar fora da discussão.

Em entrevista à agência Lusa, o vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Muni Lourenço, afirmou que há “um grande esforço para a sustentabilidade”, considerando que essa ideia “tem uma certa dificuldade de chegar a outros países de forma verdadeira, genuína”.

“Um terço de tudo o que está preservado no Brasil, de florestas de vegetação ativa, é mata privada de produtor, preservada e criada pelo produtor, prestando um serviço ambiental enorme para o Brasil e para o mundo. Temos expectativa de um devido reconhecimento”, declarou.

A CNA, que representa cinco milhões de produtores, considera que a ideia de que agricultura e pecuária no Brasil são destruição de ecossistemas e que o desmatamento “é um equívoco”.

“O crescimento da agropecuária não é na base da supressão de florestas. Os produtores cumprem restrições extremamente rigorosas, inexistentes em outros lugares do mundo, que limitam o uso de áreas de imóveis rurais”, indicou, referindo que no bioma da Amazónia, só 20% de cada propriedade rural podem ser usados para exploração agrícola ou pecuária.

Os mais de cinco milhões de produtores recenseados formam “o maior cadastro ambiental rural do mundo” e “apenas 02% dos que aderiram praticaram desmatamento ilegal”, indicou, acrescentando que “mesmo residual, essa infração tem que sofrer as punições legais”.

Entre 2010 e 2018, foram aplicadas tecnologias de redução de emissões em mais de “52 milhões de hectares de terra, mais do que todo o território da Alemanha, com recuperação de pastagens que somam mais de 26 milhões de hectares e que representam sequestro de carbono”.

O sistema de agricultura de baixo carbono aplicado nessa extensão permitiu durante esses anos “evitar a emissão do equivalente a 170 milhões de toneladas de dióxido de carbono” e a meta até 2030 é aumentar a área para 70 milhões de hectares e evitar mil milhões de toneladas de emissões de gases com efeito de estufa, tanto dióxido de carbono como metano da produção pecuária, representando 28% de toda a propriedade agrícola do país.

“Somos um país com pobreza, com recursos públicos escassos. Percebemos algum nível de desinformação a respeito do país, alguma desonestidade intelectual. As questões ideológicas e comerciais têm que ficar de fora da mesa ambiental”, defendeu.

Muni Lourenço destacou que a agricultura e pecuária no Brasil mudaram um país que “há pouco mais de 50 anos era inexpressivo na produção de alimentos, importava arroz, milho e leite, para um país que ocupa uma posição muito destacada na produção de alimentos”.

Na última colheita, o país “produziu alimentos equivalentes ao necessário para consumo de mais de mil milhões de pessoas, mais de cinco vezes a sua população”.

“Esperamos que nessa COP26 possamos finalmente ter decisões concretas em relação, por exemplo, a fundos financeiros, principalmente dos países desenvolvidos, que possam acelerar a transição. O Brasil é um país emergente, de dimensões continentais, e que precisa desses apoios de recursos para que possamos continuar. Já fizemos muito, podemos fazer muito mais”, argumentou.


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