Os microorganismos que decompõem o estrume da pecuária e fertilizam os arrozais convertem os compostos orgânicos em metano, contribuindo com 53,6 por cento das emissões agrícolas no país. Por isso, para que Pequim alcance a neutralidade de carbono até 2060, será essencial mitigar as emissões de metano do arroz.O metano é um gás que contribui para o aquecimento global em maior escala, comparativamente com o dióxido de carbono.
O solo quente e encharcado da imensidão dos arrozais chineses fornece condições ideais para a metanogénese, que é uma etapa do processo biológico anaeróbio no qual os micro-organismos chamados arqueias metanogénicas produzem metano (CH4) como produto final do metabolismo da decomposição do estrume dos arrozais.
Estudos apontam que 53,6 por cento das emissões agrícolas de metano, em toda a China, são produzidas nas grandes extensões de cultivo de arroz. Por isso, a ausência da China na Conferência sobre Alterações Climáticas, em Baku, trava a discutissão de estratégias para Pequim mitigar as emissões de metano derivadas à produção do cereal.
Isto se a China quiser alcançar a neutralidade de carbono, até 2060, dizem os especialistas.
Propostas para diminuir o metano dos arrozais
Outro grupo de investigadores de institutos tecnológicos indianos fazem ainda outras contas e avança com mais estimativas da produção de arroz e mais preocupações.
Porém, a produção de arroz também está associada às alterações climáticas, pois é uma das as fontes globais de emissões de gases de efeito estufa. Com o aumento projetado de 28 por cento na produção global de arroz até 2050, as emissões globais de metano (CH 4 ) e óxido nitroso (N 2 O) aumentarão também.
Para promover a produtividade e mitigar as emissões do gás de efeito de estufa, os cientistas monitorizaram o uso de um bioestimulante microbiano derivado de metano, para investigar o rendimento do cereal e emissões do gás poluente nos campos de arroz, ao longo de três ápocas de cultivo.
Os cientistas apuraram que houve um aumento significativo no rendimento na produção do arrozal, até 39 por cento. Ao mesmo tempo registaram uma redução nas emissões de CH 4, entre 31 a 60 por cento, e de N 2 O, entre 34 a 50 por cento.
Ainda não se sabe se a China e outros países asiáticos irão adotar este bioestimulante ou outra estratégia. Porém, os investigadores afirmam que começam a existir soluções para “intensificar a produtividade do arroz com uma pegada de gás efeito de estufa menor, criando assim uma solução de win-win-win, ou seja, onde agricultores, clientes e o meio ambiente ganham em silmutâneo”.
“O metano é 80 vezes mais perigoso do que dióxido de carbono”
Estima-se que sejam produzidos entre 50 e 100 milhões de toneladas de metano por ano e a agricultura do arroz é uma das grandes fontes de metano atmosférico, possivelmente a maior das fontes desse gás.
O presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, há cerca de um ano, na COP28, no Dubai, Emirados Árabes Unidos alegou que “o metano é 80 vezes mais perigoso que o dióxido de carbono”, sublinhando a necessidade de haver maior investimentos para mitigar os efeitos de um dos “principais gases causadores de alterações climáticas”.
“Até então, só tem recebido dois por cento de investimento: É uma equação errada”, afirmou Banga.
“O metano é uma área rara e clara onde sabemos que há soluções de baixo custo, soluções eficazes e simples que podem ser replicadas e dimensionadas. Mas esperança não é uma estratégia. Devemos agir”, sublinhou.
Foram entretanto anunciados 15 programas dirigidos a vários países, com um custo de mil milhões de dólares, que visam cortar as emissões de metano até 40 por cento nos arrozais.
Methane is a vastly more potent greenhouse gas than carbon dioxide in the short-term.
Projects backed by the @worldbank to bring down methane will cost billions, according to President Ajay Banga. Here’s why he believes it’s worth it: pic.twitter.com/LSasNLBOoj— Becky Anderson (@BeckyCNN) December 4, 2023
Também a simples separação de resíduos orgânicos em aterros sanitários no Brasil cortou quase todas as emissões de metano, desviando-o para fornecer eletricidade a 200 mil residências.
Em julho deste ano, no Fórum Económico Mundial, Banga reiterou que “o metano é 80 vezes mais perigoso que o dióxido de carbono” e sugeriu: “Procurem eliminar dez milhões de toneladas de metano que está concentrado no cultivo de arroz e em propriedades com gado”.
Global Methane Pledge
Na COP26 foi fançado o Compromisso Global de Metano – Global Methane Pledge (GMP) – que contou com 158 participantes. União Europeia e Estados Unidos tiveram uma ação preponderante.
O GMP gerou um impulso sem precedentes para a mitigação do metano, com vários trabalhos em curso que visam seis áreas de ação, incluindo: o Caminho da Energia, o Caminho dos Resíduos, o Caminho da Alimentação e Agricultura, Planos e Políticas de Metano, Dados para Ação do Metano e Finanças para Redução do Metano.
O compromisso era reduzir o metano total em 30 por cento até 2030. Todavia, até agora, de acordo com a norte-americana Newsweek, o primeiro, o segundo e o quinto maiores emissores globais de metano – China (16 por cento), Índia (oito por cento) e Rússia (cinco por cento) – “recusaram-se a assumir qualquer compromisso com a mitigação do metano”.
Pequim apenas prometeu incluir o metano e óxido nitroso no plano nacional de ação climática, a partir de 2035.