Covid-19: Agricultores de Aveiro “no fio da navalha” querem apoios que Governo “só apregoa”

Agricultores do distrito de Aveiro alertaram hoje para o crescente número de pequenas e médias explorações a fechar devido à crise pandémica, dizendo-se “no fio da navalha” porque o Governo não entrega ao setor os apoios que apregoa.

É essa a análise de Carlos Alves, presidente da União de Agricultores e Baldios do Distrito de Aveiro (UADBA), que esta manhã disse, em Ovar, que “a agricultura não é uma prioridade para o Governo” e que os produtores regionais de leite, carne e hortícolas “precisam desesperadamente de uma injeção de fundos para sobreviver”.

Enquanto produtor de mirtilo, o responsável não é dos que enfrenta mais dificuldades porque o fruto se destina “sobretudo a exportação”, mas, só nas últimas semanas, dois criadores de raça arouquesa “fecharam portas porque não conseguem competir com os preços cada vez mais baixos da carne importada” e vários produtores de leite de Aveiro, “que já antes andavam mal, agora estão a vender o litro abaixo do preço de custo”.

É nesse último segmento que a situação está mais complicada: “Só no último ano, foram 30 as explorações leiteiras que fecharam no distrito de Aveiro. Algumas ainda resistem, mas estão no fio da navalha e vai haver muito mais gente a fechar portas este ano, porque a agricultura não é uma prioridade para o Estado e o facto é que os apoios que o Governo apregoa não chegam ao terreno”, afirmou o presidente da UADBA.

Face ao fecho de restaurantes e da hotelaria, às restrições quanto a feiras e mercados, e à inibição geral do consumo devido à crescente fragilidade financeira das famílias, Carlos Alves diz que a situação é “massacrante, sobretudo quando os produtores veem o mercado a ser invadido por produtos estrangeiros, muitas vezes de qualidade inferior, mas a preços mais baixos”, com os quais não conseguem competir.

“Alguns dos nossos produtores andam a vender a alma ao diabo para conseguir escoar alguma coisa, mas isto é incomportável e vai acabar por ter consequências graves, gerando muito desemprego”, avisou.

O presidente da UABDA defende, por isso, que o Estado “tem que acordar para a vergonha que é um país importar 60% a 70% da sua alimentação” e passar a valorizar a produção agrícola, leiteira e pecuária nacional, com estratégias concretas que, por um lado, permitam aos produtores “viver com dignidade” e, por outro, garantam “a sobrevivência das famílias portuguesas e a qualidade do que lhes chega à mesa”.

No imediato, a solução será distribuir pelo setor parte das verbas do Fundo de Recuperação da União Europeia, embora Carlos Alves não esteja otimista quanto à eficácia da respetiva programação financeira, mesmo que as verbas a atribuir à agricultura sejam “num montante mais razoável” e efetivamente empenhado em “garantir e dignificar” a soberania alimentar do país.

“Já vamos na terceira vaga da pandemia e as ajudas da primeira e segunda, além de serem insuficientes, ainda chegam a conta-gotas, talvez porque o Governo tem falta de funcionários para auscultar a realidade do terreno, não apura os problemas com rigor e depois não tem noção das medidas reais que deve implementar”, explica.


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