Pode a agricultura recorrer a mão-de-obra disponível de atividades em paragem para fazer face às suas necessidades a médio prazo? João Pacheco, consultor especialista em questões europeias, revela que a questão da mão-de-obra sazonal é um problema muito sério. Desde logo porque uma parte da produção europeia estava dependente da vinda de trabalhadores de outros países, como a Bulgária, a Roménia ou a Polónia. Mas, com o fecho das fronteiras, essa mão-de-obra desapareceu: “E de fora da Europa então nem se fala. Sei que há algum voluntariado na França e na Bélgica, mas inscrevo-me no campo dos realistas: não estou a ver a massa de desempregados a ir trabalhar nos campos. Até porque existem apoios sociais para o desemprego e as pessoas não vão fazer isso”, frisa. As soluções, na sua opinião, “serão muito ad doc, muito locais e vamos ter problemas”. João Pacheco aponta ainda o desafio da circulação de bens, com “filas de camiões nas fronteiras. Tenos de assegurar que a camionagem continua e começa a haver muito absentismo”.
As mudanças no padrão do que se consome também preocupam este consultor. Produtos como o peixe ou os hortofrutícolas estão a ter quebras e há uma reafectação grande do consumo. Por isso “não podemos ficar à espera do vai acontecer e temos de antecipar”, refere.
A crise na Europa vai ter um impacto grande na procura de bens agrícolas, com previsões para um menor poder de compra dos cidadãos, a transferência de consumo para produtos mais baratos e as exportações a deixarem de ser a ‘válvula de escape’. Por isso, João Pacheco defende que a nível europeu deve ser aproveitado o facto de estar a ser discutido o regulamento de transição da PAC para acomodar estas questões: “Não acredito que a nova PAC entre em 2022 e muito provavelmente não irá entrar em 2023. Há que aproveitar para tomar medidas para adaptar a PAC à atual situação. É preciso acionar o Fundo de Crise já, pois é necessário mais dinheiro para gerir a crise e dar mais agilidade aos agricultores”, frisa.
Por fim, a questão ambiental: o foco não pode continuar a estar todo no lado do ambiente. E dá números: “Os estudos de impacto apontam para que se 10% da área agrícola da Europa entrar em seat aside para zonas de biodiversidade e 30% entrar em modo de produção biológico, a queda na produção de alimentos será de 15%”. Um alerta para o desequilíbrio que pode acontecer na produção se as regras apertarem a nível ambiental: “Não podemos fazer omeletes sem ovos”, conclui.
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