O impacto da crise de energia na China ocorre em todos os tipos de setores e por motivos muito diversos e está a começar a ser sentido em todo o mundo, prejudicando vários setores que vão da fabricante de automóveis, como a Toyota aos criadores de ovelhas australianos e fabricantes de embalagens em cartão. Além disso, a escassez de fertilizantes causará num aumento significativo nos preços dos alimentos, refere uma notícia do espanhol El Economista.
Na passada quarta-feira, dia 6 de outubro, o preço do gás natural atingiu novos máximos nos mercados europeus devido à forte procura à medida que o inverno se aproxima, especialmente na Ásia, mas também devido a uma oferta limitada e aos baixos ‘stocks’ existentes.
Os constrangimentos ambientais na extração de carvão levaram a graves carências energéticas, retardando algumas fábricas, e a uma súbita mudança na procura de gás na pior altura possível para a Europa, à medida que esta caminha para o inverno, defendeu o analista do Commerzbank em declarações à AFP.
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A crise de energia também coincide com o início da colheita agrícola na China, o que levanta preocupações sobre um aumento significativo nos preços dos alimentos.
“Se a escassez de eletricidade e os cortes de produção continuarem, podem tornar-se outro fator que causa problemas de abastecimento global, especialmente se começarem a afetar a produção de produtos para exportação”, disse Louis Kuijs, economista sénior para Ásia da Oxford Economics, citado pelo jornal espanhol.
Aumento do preço da energia pode ser “início do colapso”, diz a AEMinho
Por cá, hoje, a Associação Empresarial do Minho (AEMinho), com sede em Braga, alertou o Governo que o aumento “exponencial” dos custos da energia pode “representar o princípio do colapso da competitividade das empresas portuguesas, nomeadamente do setor industrial”.
A AEMinho adiantou estar “profundamente preocupada” com o impacto do aumento dos preços, “num tecido empresarial e industrial em que os encargos energéticos chegam a representar 30% a 40% dos custos de produção”, num comunicado citado pela Lusa.
“Chegam-nos relatos de associados para os quais o custo com a energia quase que duplicou e que veem hoje a sua situação, que já difícil pelo contexto que vivemos nos últimos anos, pela situação da calendarização da carga fiscal que já foi alvo de intervenção da AEMinho no passado, pela carga fiscal em si e pelo aumento desconexo dos combustíveis, ficar agravada, colocando em risco não só a sua competitividade no mercado, sobretudo no mercado internacional, do qual dependemos em larga escala, como também, em casos mais extremos, a viabilidade dos seus negócios e da sua atividade”, reforça a associação.
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Na industria do papel, segundo o El Economista, o impacto no sector do papel, deve-se ao facto de a produção de caixas de papelão e de materiais de embalagem ter sido ‘bloqueada’ temporariamente pelo aumento vertiginoso da procura durante a pandemia. Agora, os problemas vêm do lado da oferta.
Os apagões e o racionamento de eletricidade na China afetaram a produção. A previsão é que a oferta desse setor seja reduzida entre 10% e 15% entre setembro e outubro, segundo o Rabobank. Isso criará ainda mais complicações para as empresas que já sofrem com a escassez global de papel.
O jornal espanhol analisa também o impacto da crise energética na agricultura e preço dos alimentos. Os preços mundiais dos alimentos já estão no pico de uma década. A inflação dos alimentos está subir e a crise de energia pode piorá-la. A cadeia de abastecimento alimentar está em risco. A época da colheita está a chegar à China e será um grande desafio para o maior produtor agrícola do mundo.
Relata o El Economista, que nas últimas semanas várias fábricas chinesas foram forçadas a fechar ou a reduzir a produção sob pressão dos governos regionais que tentam cumprir as metas de emissão de CO2 estabelecidas por Pequim. Esse é o caso dos produtores de soja que moem grãos para produzir farinha para ração animal e óleo para cozinhar. Os preços dos fertilizantes, um dos elementos mais importantes da agricultura, estão a disparar, atingindo os agricultores que já estão à mercê da pressão dos custos crescentes.
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Fora da China, os criadores de ovelhas australianos esperam que a procura por lã seja muito menor. A razão é que a indústria de ‘tecelagem’ da China está a reduzir a produção em até 40% devido às quedas de energia da semana passada, revelou a Australian Broadcasting, citado pelo El Economista. […]