Cultivar uma horta em casa é uma excelente forma de obter alimentos frescos e também uma das atividades mais terapêuticas para escapar ao stress do dia-a-dia. Tudo isso, no entanto, pode cair por terra se não soubermos alguns princípios básicos para retirar o melhor proveito dos legumes e evitar dissabores com as pragas.
Ao iniciar uma horta, pensamos sobretudo nos alimentos que queremos cultivar. Mas tão importante são também as plantas que vão partilhar a vizinhança com os nossos legumes.
Sabia que algumas espécies simplesmente não se dão bem juntas? E que outras, em contrapartida, foram feitas para andarem lado a lado?
Conhecer as melhores e as piores combinações é crucial para evitar doenças, melhorar a saúde e maximizar o rendimento de qualquer horta. Chama-se a isso alelopatia – termo usado para descrever como algumas espécies libertam substâncias químicas que inibem ou estimulam o crescimento de outras espécies ao redor.
Evitar as más companhias
Certas plantas competem por nutrientes, luz solar ou espaço, enquanto outras podem prejudicar o desenvolvimento dos vegetais que estão na sua vizinhança.
A cebola, por exemplo, se estiver ao lado do feijão, irá interferir com o processo de fixação de nitrogénio, acabando por atrofiar o seu crescimento. O mesmo poderá acontecer se a ervilha estiver ao lado do alho.
Não é também boa ideia juntar a batata e o tomate pois ambos são vulneráveis às mesmas doenças, aumentando as probabilidades de uma contaminar a outra.
Pelos mesmos motivos, o tomate e o pepino não devem partilhar o mesmo espaço. Além de poderem transmitir o míldio, são ambos extremamente competitivos por exposição solar e nutrientes.
Promover as boas amizades
Há outros vegetais que, em contrapartida, foram feitos para viverem juntos, oferecendo proteção recíproca contra pragas, distribuição equilibrada de nutrientes no solo ou refúgio contra o vento e calor.
As couves, por exemplo, precisam de plantas com folhas largas, mas pouco exigentes em alimento.
As culturas sensíveis às pragas comuns, como nabos, rabanetes ou rúcula têm de estar bem afastadas umas das outras. Os legumes suscetíveis ao calor e à escassez de água, como é o caso da alface, beneficiam da sombra e da proteção contra o vento das plantas altas, como é o caso dos tomates, dos pimentos ou do milho doce.
Morangos e cebolas pode parecer uma combinação improvável, mas resulta na perfeição por não competirem pelos mesmos nutrientes do solo.
Outros casamentos, igualmente bem-sucedidos, são o feijão e as abóboras ou as curgetes e as abóboras.
Depois de explorar alguns princípios elementares da convivência entre legumes e plantas, fique a conhecer os bons e os maus companheiros de 12 alimentos selecionados pela Tree for The Future, organização americana que treina agricultores em todo o mundo em agrossilvicultura e uso sustentável da terra.
ALFACE
- Bons companheiros: hortelã, feijão, beterraba, cenoura, milho, calêndula, cebola, ervilha, rabanete e morangos
- Rivais: salsa
- Dicas: a hortelã repele lesmas, que se alimentam de alface
ESPINAFRE
- Bons companheiros: feijões, alface, ervilhas e morangos
- Rivais: batatas
- Dicas: feijões e ervilhas providenciam sombra aos espinafres
ACELGA
- Bons companheiros: beterraba, cenoura, calêndula, rabanetes e nabos
COUVE
- Bons companheiros: beterraba, aipo, hortelã, cebola, batata, orégão, alecrim, endro e sálvia
- Rivais: feijão de vara, pimentas, morango e tomate
- Dicas: aipo, cebola e ervas aromáticas afastam pragas. Alecrim repele a mosca-da-couve
BRÓCOLOS E COUVE-FLOR
- Bons companheiros: manjericão, pepino, alho, alface, calêndula, hortelã, cebola, batatas, rabanete, alecrim, endro, sálvia e tomilho
- Rivais: mostarda, orégão, morangos e tomate
- Dicas: alecrim repele a mosca-da-couve. Endro atrai vespas que, por sua vez, controlam pragas
TOMATE
- Bons companheiros: feijões, manjericão, cenoura, espinafre, aipo, melões, calêndula e pimentas
- Rivais: repolho, couve, milho, ervilhas, batatas, alecrim, brócolos, couve-flor, endro
- Dicas: cultivar manjericão a 25 cm dos tomates aumenta o seu rendimento. Calêndula controla praga de lagartas e nemátodos.
BERINGELA
- Bons companheiros: Feijões, pimentas e batatas
PIMENTOS DOCES E MALAGUETAS
- Bons companheiros: manjericão, cebolas, espinafres, batatas
- Rivais: feijão, couve, repolho
BETERRABA
- Bons companheiros: brócolos, repolho, couve-flor, couve, alho, cebola, sálvia, alface
- Rivais: feijão de vara
- Dicas: feijões e beterrabas competem entre si por nutrientes. Folhas de beterraba, após a decomposição, acrescentam magnésio ao solo.
CENOURA
- Bons companheiros: feijões, alho, alface, cebola, salsa, ervilhas, tomate, alecrim
- Rivais: endro, pastinaca
RABANETE
- Bons companheiros: couve, milho, pepino, beringela, alface
- Dicas: rabanete pode ser usado como armadilha contra alguns escaravelhos e pulgões
NABO
- Bom companheiro: ervilhas
Referências da notícia
Lindsay Cobb. Companion Planting 101. Tree for The Nature.
Joyce E. Parker, William E. Snyder, George C. Hamilton & Cesar Rodriguez‐Saona. Companion Planting and Insect Pest Control. Intechopen
George Kuepper & Mardi Dodson. Companion Planting: Basic Concepts & Resources. Appropriate Technology Transfer For Rural Areas (ATTRA).
Kassimira Ilieva-Makulec, Michał Bielecki & Grzegorz Makulec. Plants with known antagonistic properties against pests: how they influence non-target free-living soil fauna? Studia Ecologiae et Bioethicae.
Siew Loon Cheong, Yuen Lin Cheow & Adeline Su Yien Ting. Characterizing antagonistic activities and host compatibility (via simple endophyte-calli test) of endophytes as biocontrol agents of Ganoderma boninense. Biological Control.