O trabalho florestal comporta uma série de riscos que estão associados à indefinição do local de trabalho, onde o trabalhador florestal tem de enfrentar uma diversidade de situações que terá de resolver de forma rápida, autónoma e coerente.
Os empregadores devem assumir a responsabilidade sobre a segurança e saúde no trabalho da empresa, com vista a reduzir os possíveis acidentes que aí possam suceder, implementando uma cultura de segurança.
A floresta(1) em Portugal ocupa, actualmente, cerca de 38% do território nacional, ou seja, 3.350 mil hectares. Cerca de 87% desta floresta pertence a proprietários privados, 10% são baldios e os restantes 3% são área do Estado. Pode-se acrescentar que a área florestal nacional tem condições para aumentar, se tivermos em conta os 2.300 mil hectares de áreas incultas, improdutivas ou de terras agrícolas de fraca capacidade de uso. No entanto, a pequena e dispersa propriedade continuará a dificultar a eficiente gestão florestal, onde se incluem as questões relacionadas com a prevenção de riscos profissionais.
Para além da redução da população activa na agricultura e florestas, uma das preocupações deste sector é a disponibilidade de mão-de-obra qualificada. Como consequência, a mecanização é um imperativo de continuidade da actividade. Daí a necessidade de desenvolver novas máquinas ou adaptar o tractor agrícola para o trabalho florestal, aumentando a segurança do operador e a vida útil daquele equipamento, organizando ainda a formação profissional adequada dos seus operadores.
Utilização de máquinas: a formação profissional é essencial
Para o trabalho com a motosserra, que passou a ser uma máquina cada vez mais segura pela introdução de melhorias nas suas características – nomeadamente ao nível da protecção dos riscos associados como, por exemplo, o ruído e vibrações – ou para o uso de equipamentos de protecção individual (e.p.i.) específicos, a formação dos operadores é cada vez mais necessária como prevenção dos riscos profissionais.
Para as máquinas multifunções – harvester(2) – a formação profissional é essencial, dada a complexidade de laboração das mesmas, exigindo, por exemplo, conhecimentos em sistemas computadorizados.
Pelos custos que acarreta, a oferta de formação para preparar operadores, tanto de motosserras como de máquinas pesadas e sofisticadas é muito escassa. Por isso, o trabalho com estas máquinas está entregue à auto-formação e à venda dessa mão-de-obra especializada como prestação de serviço.
Assim, no plano da segurança, higiene e saúde no trabalho florestal, são prioritárias duas frentes de actuação:
- A formação de agricultores nas técnicas básicas de silvicultura(3) onde a especialização incidirá nos equipamentos – adaptação do tractor agrícola às operações florestais e o uso de equipamento (e.p.i.) específico;
- A formação de operadores qualificados para a prestação de serviços em operações florestais que não está ao alcance do agricultor-silvicultor.
Organização do trabalho precisa-se!
O trabalho florestal comporta uma série de riscos que estão associados à indefinição do local de trabalho, onde o trabalhador florestal tem de enfrentar uma diversidade de situações que terá de resolver de forma rápida, autónoma e coerente.
É um trabalho realizado, normalmente, de forma isolada, o que dificulta, por exemplo, a acção pronta de primeiro socorro em caso de acidente.
Os empregadores devem assumir a responsabilidade sobre a segurança e saúde no trabalho da empresa, com vista a reduzir os possíveis acidentes que aí possam suceder, implementando uma cultura de segurança, começando por identificar os riscos e organizar o trabalho, tendo em conta a idade, a condição física, o estado de saúde e a formação dos seus trabalhadores. Neste último caso, devem identificar as necessidades de formação dos recursos humanos da empresa e desenvolver as suas competências.
Por outro lado, as responsabilidades dos trabalhadores passam por uma cooperação estreita com os empregadores na promoção da segurança e saúde, não só debatendo as medidas a adoptar, como acatando as medidas já implementadas para todos e para cada um.
É importante que os trabalhadores façam uso correcto dos equipamentos que lhes são destinados, bem como dos equipamentos de protecção individual (e.p.i.).
Estas preocupações e medidas de prevenção sugeridas vão na linha do debate que eventualmente irá ser feito no seminário “A segurança na Floresta” que vai ter lugar no próximo dia 7 de Junho, na Lousã, promovido pela Federação dos Produtores Florestais de Portugal, com o apoio do Instituto para a Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho. Debate que, mais do que nunca, se torna pertinente e oportuno.
José Azevedo
Técnico do ISHST
Instituto para a Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho
(1) – Floresta é a classe de uso do solo que identifica os terrenos dedicados à actividade florestal. A classe floresta inclui os seguintes tipos de ocupação do solo: povoamentos florestais, áreas ardidas de povoamentos florestais, áreas de corte raso e outras áreas arborizadas. (DGF/IFN-200).
(2) – Harvester- processador de corte especialmente concebido para rentabilizar a exploração florestal, possibilitando a sequência das operações de abate, corte de ramos, traçagem, toragem, descasque e empilhamento.
(3) – Silvicultura – Ciência que estuda a cultura, ordenamento e conservação da floresta, tendo em vista o contínuo aproveitamento dos seus bens e serviços.