De Montejunto Ao Mar… Um Mar De Vinhas – João José Carvalho Ghira

Quem em manhã de dia limpo do mês de Junho subir ao alto de Montejunto e espraiar a vista na direcção do mar, ficará extasiado com uma longa manta verde que se estende a seus pés. E se apurar a vista, não é difícil concluir que muitos dos retalhos dessa manta são parcelas de vinhas, alinhadas em direcções diversas, procurando o jeito do ondulado do terreno.

E se dúvida surgir, então vale a pena voltar ao mesmo local no Outono, onde esses retalhos tomam os tons do amarelo dourado ao castanho avermelhado, qual aguarela de mestre.

É assim de facto a Estremadura, desde sempre terra de vinhedos, talvez mais noutros tempos do que hoje, mas continuando a ser sempre a grande adega de Portugal assumindo-se como província de maior produção de vinho.

Mas não só em quantidade. Também a qualidade mereceu referencias particulares. São várias as opiniões que o atestam e não resistimos a recordar o texto de Cincinnato da Costa, inserido no Portugal Agrícola em 1900: “Da colecção, extremamente variada, de castas da Região da Estremadura várias são as que têm muita distinção natural e produzem vinho de boa qualidade, vinhos finos de mesa que são verdadeiras jóias enológicas.”

E depois de épocas em que o mercado exigia quantidade, assiste-se hoje a uma confirmação do nível qualitativo dos vinhos da Estremadura, confirmação do nível qualitativo dos vinhos da Estremadura, confirmação essa que vem da opinião do consumidor mas muito em particular dos excelentes resultados alcançados em concursos tanto nacionais como no estrangeiro.

Mas o que são hoje os vinhos da Estremadura?

Tudo evolui e na situação em apreço as tendências do consumidor atingem importância relevante. Sem se fugir à manutenção de alguma tradição houve que recorrer a outras castas que então vieram promover uma maior robustez nomeadamente aos vinhos tintos que deixaram de ter quase o exclusivo do João de Santarém, que entretanto também “evoluiu” para Castelão.

Os brancos agora em época de perfeita recessão ganharam em frescura e aroma, perdendo algum pesado e oxidado que o Fernão-Pires maduro transmitia.

Nestes, mais ainda que nos tintos, a evolução da tecnologia foi determinante e os vinhos leves que entretanto ganharam identidade própria, saíram francamente beneficiados.

Podemos ainda constatar hoje que a diversidade de vinhos continua a ser grande e que não será de estranhar se tivermos em conta a diversidade de tipos de solos que se apresentam do maciço cársico à foz do Tejo assim como as variações climatéricas da orla atlântica às abas de Montejunto e Candeeiros.

A região da Estremadura em termos vinícolas experimenta também com sucesso numa incursão na elaboração de espumantes e não podemos deixar de referenciar a sua tradição na produção de aguardentes, em particular na zona da Lourinhã cuja denominação está legalmente reconhecida.

E os licorosos, com referencia assinalável ao embora já muito limitado Carcavelos.

Sobre a Estremadura vinícola muitas considerações se poderiam desenvolver. Na impossibilidade de o fazermos da forma mais agradável, na presença do sujeito, sugerimos que cada qual de per si faça o exercício, evoluindo a belo prazer por entre as denominações de Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Bucelas ou Colares, Carcavelos e Óbidos, Alcobaça ou Encostas d’Aire, para além da imensidão do Vinho Regional Estremadura.

João José Carvalho Ghira
Engº Agrónomo
Presidente da Comissão Executiva da CVRE (Comissão Vitivinícola Regional da Estremadura


Publicado

em

por

Etiquetas: