O Tribunal de Menores de L’Aquila decidiu retirar os três filhos ao casal, considerando que estavam a viver sujeitos a “graves danos para a integridade física e psicológica”. O caso tem gerado uma forte polémica em Itália, com críticas da primeira-ministra Giorgia Meloni e do vice-primeiro-ministro Matteo Salvini à decisão judicial.
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As autoridades italianas retiraram recentemente os três filhos, uma menina de 8 anos e gémeos de 6, a um casal anglo-australiano que vive numa floresta na região de Abruzzo, numa casa sem água canalizada nem eletricidade. A decisão, tomada pelo Tribunal de Menores em L’Aquila, tem gerado uma forte polémica.
Nathan Trevallion, um britânico de 51 anos, e a sua esposa, Catherine Birmingham, nascida na Austrália, de 45 anos, mudaram-se em 2021 para uma casa rural em Palmoli, na província de Chieti (Abruzzo), com o objetivo de criar os filhos no meio da natureza.
Aparentemente, a família vivia feliz. No entanto, a atenção das autoridades foi atraída em setembro de 2024, quando toda a família foi hospitalizada após ingerir cogumelos selvagens.
Na altura, os profissionais de saúde fizeram queixa, o que deu origem a uma investigação das autoridades e do Ministério Público.
Após a investigação, os técnicos concluíram que a família vivia numa casa sem água canalizada nem eletricidade e com vários problemas de humidade, que poderiam favorecer “o desenvolvimento de doenças pulmonares”.
Além disso, foi mencionado que a família vivia em isolamento social, que as crianças não frequentavam a escola e que a família não tinha qualquer interação social nem rendimento fixo, o que, segundo os técnicos, “dificulta o desenvolvimento de competências sociais, emocionais e cognitivas essenciais, tornando mais difícil a adaptação das crianças tanto ao sistema educativo como à sociedade em geral.”
Com base nessas constatações, o Tribunal de Família e Menores de L’Aquila decidiu retirar os três filhos ao casal, considerando que estavam a viver sujeitos a “graves danos para a integridade física e psicológica”.
Pai diz não compreender a situação
Os menores foram enviados para uma casa-abrigo, para onde a mãe também foi levada, embora não possa estar sempre com eles.
Citado pelo La Repubblica, o pai diz não compreender a situação:
“Não nos chamaram ‘maus pais’. Simplesmente não gostam do que fazemos. As crianças crescem fora do sistema, e penso que é por isso que somos perseguidos. Não estamos a fazer nada de errado. Vivemos felizes, em contacto com a natureza”, disse. “Porque querem tirar as crianças de uma família que é a mais feliz do mundo? Estão a destruir a vida de cinco pessoas felizes”, garantiu.
O caso tem gerado uma forte polarização em Itália. Enquanto alguns defendem a família, considerando que a separação dos filhos é uma penalização excessiva por um estilo de vida alternativo, outros sustentam que a intervenção do Estado é necessária em nome da proteção infantil.
A decisão foi amplamente criticada por figuras políticas de relevo.
A primeira-ministra Giorgia Meloni foi uma das vozes mais ouvidas. Segundo o jornal Il Sole 24 Ore, Meloni afirmou ter ficado “alarmada” com a decisão do Tribunal de Menores e solicitou ao Ministro da Justiça, Carlo Nordio, uma avaliação para determinar se “existem razões” para tal medida.
Ainda segundo Il Sole 24 Ore, o vice-primeiro-ministro e líder da Liga, Matteo Salvini, também se pronunciou sobre o caso, apelidando a decisão dos juízes de “rapto”.