Deixem-nos trabalhar! – Carlos Neves

Julho e Agosto. Para alguns são meses de férias na praia com banhos no mar. Para outros são meses de trabalho no campo com banhos dos aspersores da rega. Para uns é tempo de acompanhar a volta a Portugal. Para outros a rega do milho é como a corrida de bicicletas: No princípio há o trabalho da equipa no apoio ao líder: a partir de certa altura ele fica por conta própria a disputar os últimos quilómetros na subida da montanha. Nós também tivemos o apoio na rega do São Pedro, este ano bastante generoso no Inverno e Primavera. Depois veio o Verão e ficamos por conta própria, do nosso trabalho, da água possível e dos sistemas de rega disponíveis. Depois vem Setembro, mês de colher o prémio do nosso trabalho. O ano passado saiu-nos a fava com a terceira descida do preço do leite depois das subidas da ração. Agora o preço do leite já recuperou, mas a ração desceu menos que o prometido e ainda sentimos os efeitos secundários desse ano 2012 que foi muito mau e não podemos deixar que se repita.

Adiante. Temos sempre a alegria da colheita, agora mais fácil com as grandes máquinas automotrizes de ensilar que temos ou podemos alugar e nos permitem fazer o serviço melhor, mais rápido e mais simples, certo? Nem sempre. Há coisas que complicam.

O milho é cortado nos campos e transportado em reboques agrícolas para ser armazenado nos silos junto às vacarias. Nos últimos anos, vários agricultores que circulavam na estrada com reboques de milho silagem foram advertidos pela autoridade de trânsito sobre a obrigatoriedade de cobrir cada carga com uma lona ou rede. Acontece que a esmagadora maioria dos reboques agrícolas (99%?) não estão preparados para essa cobertura. Colocar manualmente uma lona após cada enchimento do reboque é perigoso para o tractorista, para os outros veículos (se a lona não ficar bem fixa) e demora mais tempo que o enchimento do reboque. E assim, à boa maneira portuguesa, temos de viver e trabalhar com leis impraticáveis, esperando ter a sorte de não encontrar na estrada agentes da autoridade ou, se os encontrar, que estejam ocupados com coisas mais importantes que complicar a vida dos agricultores. Se a polícia quiser ser escrupulosa pode multar e impedir o transporte da colheita em tempo oportuno. Em alternativa, podemos “brincar” às escondidas com a polícia, procurando outros caminhos. Ora o trabalho agrícola é muito sério. É um trabalho honrado que precisa do apoio da lei e não de complicações legais. Tendo em conta que a silagem de milho não é uma matéria perigosa que possa causar danos nos outros veículos (como a areia, por exemplo), nos últimos dois anos através da APROLEP fiz vários contactos junto do governo no sentido de ser decretada uma excepção da “obrigação de cobertura” para o transporte de forragens entre os terrenos e as explorações agro-pecuárias. Ainda não fomos atendidos, mas temos de insistir. Há alguns anos atrás, também foi conseguida (creio que por iniciativa da CAP) uma excepção para o transporte de trabalhadores agrícolas nos reboques. Portanto, se houver empenho das principais organizações agrícolas e dos ministérios da Agricultura e Administração Interna, podemos ultrapassar esta dificuldade no trabalho dos agricultores. Semear, regar e colher já é difícil quanto baste. Não compliquem!

Carlos Neves

Confirmo, estamos vivos! – Carlos Neves


Publicado

em

por

Etiquetas: