Francisco Pavão

Desafios para a Agricultura do Interior do País – Francisco Pavão

A agricultura portuguesa é hoje em dia cada vez mais competitiva. Nos últimos anos assistimos a uma autêntica revolução do sector agroalimentar no que concerne à adopção e ao investimento em novas tecnologias, que do ponto de vista agronómico, quer do ponto de vista técnico nas agroindústrias. Estas alterações têm permitido um aumento da produtividade e uma utilização mais eficiente dos recursos, melhorando a competitividade das explorações agrícolas. Os avanços tecnológicos desenvolvidos pelas Entidades de Ensino Superior Politécnico e Universitário, sobretudo pelas que existem no interior do País, tem ainda permitido dar resposta às exigências do mercado e da produtividade.

A agricultura portuguesa é hoje mais inovadora, mais profissional, mais produtiva e mais orientada para o mercado. Esta é efectivamente uma realidade genérica da agricultura nacional, contudo, bastante circunscrita a uma pequena porção do território nacional, nomeadamente às zonas de regadio, especialmente às do perímetro de rega do Alqueva. No interior profundo do resto do país, a realidade é bastante diferente, predominando as culturas extensivas de sequeiro, nomeadamente o olival, frutos secos (amendoal e souto), pastagens pobres, vinha, associadas a cultivares e raças autóctones e onde o envelhecimento da população é bastante notório.

A competitividade destes territórios terá obrigatoriamente que ser alicerçada na produção de produtos de grande qualidade, associados quer a produtos qualificados (DOP e IGP), mas também a distintos modos de produção (Produção Integrada e Agricultura Biológica), promovendo a sua competitividade nos mercados de excelência, pois nunca conseguirão ser competitivos ao nível do volume e dos preços.

Este tipo de agricultura terá ainda que ter esforços redobrados na consciencialização de que para além da sua função produtiva, apresenta também características que deverão ser consideradas como essenciais para a sua manutenção e apoio, nomeadamente pela diminuição do efeito poluente da agricultura (uso reduzido dos fertilizantes e produtos fitofarmacêuticos), extensificação e/ou manutenção dos sistemas agrícolas tradicionais extensivos (este tipo de culturas é conduzido na sua quase totalidade em regime extensivo de sequeiro, segundo práticas tradicionais de agricultura, contribuindo para a manutenção do “mosaico” agrícola na paisagem portuguesa, caracterizada pela sua heterogeneidade de culturas agrícolas praticadas), conservação dos recursos e da paisagem rural (utilização de cultivares/variedades e raças autóctones com um enorme potencial genético que urge preservar/potenciar) e são ainda uma característica intrínseca da paisagem rural portuguesa. O factor principal da valorização de um produto, passa sobretudo pela sua mais valia comercial, isto é, potenciar a sua excelência, garantindo a viabilidade e a continuidade da cultura deste tipo agricultura. Neste caso, é necessário concertar estratégias de valorização que passem não só pela promoção da excelência das suas qualidades, mas também pela promoção da identidade dos territórios, da sua gastronomia e das suas gentes.

O que faz falta é o Estado e os empresários assumirem de uma vez por todas, a necessidade de desenvolver campanhas de promoção e educação dos consumidores. Se cada português “bem-educado” comprasse mais produtos qualificados do que aquelas que compra, o impacto na economia do interior do país seria enorme.

Urge, a muito curto prazo, intervir nestes territórios desertificados, sobretudo do ponto de vista humano, promovendo o rejuvenescimento das explorações e a fixação de jovens no interior do País, através de medidas de discriminação positiva no apoio às explorações agrícolas, mas também medidas de incentivo fiscal e social.

“Eu acredito, eu sonho com um Nordeste mais próspero, mais consciente, capaz de dar vida e assegurar trabalho a todos os seus filhos, disposto a constituir um exemplo de trabalho, de ordem, de paz num mundo revolto pelas intrigas, ódios e paixões” – Discurso proferido pelo Eng. Camilo de Mendonça em Mirandela a 11 de Outubro de 1969, ainda hoje bastante actual.

Francisco Ataíde Pavão

Presidente da Direcção da APPITAD

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