
Na costa ocidental do Algarve, existe uma vila algarvia onde o urbanismo intensivo ainda não chegou, os acessos são condicionados e a paisagem permanece maioritariamente preservada. A proximidade ao mar e a inserção num parque natural conferem-lhe características pouco comuns no litoral sul do país.
Nesta região, é possível encontrar aldeias com casas em taipa, praias recortadas por falésias, e um património arqueológico associado à ocupação muçulmana. O território oferece também núcleos museológicos, igrejas históricas e uma gastronomia local baseada em produtos da terra e do mar.
De acordo com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, grande parte do concelho está integrada no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, o que explica a ausência de grandes empreendimentos turísticos e a conservação dos ecossistemas costeiros.
Traçado islâmico e património edificado
A vila-sede do concelho remonta ao século X, tendo sido fundada durante o período de ocupação islâmica. O traçado urbano reflecte essa origem, com ruas estreitas e construções em taipa. O castelo, embora danificado pelo sismo de 1755, continua a ser um dos pontos de maior visibilidade.
Segundo o Município de Aljezur, vale a pena visitar também a Bordeira, a Carrapateira, Odeceixe e o Portinho do Forno, onde ainda se observa a vivência rural tradicional. Estas zonas mantêm o perfil discreto e oferecem uma experiência próxima do que era a vida quotidiana numa vila algarvia de traça antiga.
Museus e núcleos culturais
O Museu Municipal está instalado no antigo edifício da Câmara Municipal e inclui três núcleos: arqueológico, etnográfico e islâmico. Este último contém peças associadas ao chamado “Legado Andalusino”, recuperadas em escavações locais.
Outros espaços museológicos estão distribuídos por Odeceixe, Carrapateira e Rogil, como a Casa-Museu José Cercas ou o Museu do Mar e da Terra. Há ainda registos da produção agrícola e vínica nos núcleos etnográficos locais.
Património religioso com valor histórico
Entre os vários templos religiosos de Aljezur, destaca-se a Igreja da Misericórdia, reconstruída após o terramoto de 1755. No seu interior, conserva-se um retábulo em madeira, alfaias litúrgicas e imagens datadas dos séculos XVII e XVIII.
O Ekonomista refere ainda a importância das igrejas de Bordeira, Carrapateira e Odeceixe, exemplos da transição estilística entre o manuelino, o renascimento e o barroco popular do sul.
Achados arqueológicos na costa e no interior
Em Vale da Telha encontra-se uma necrópole da Idade do Bronze com 18 sepulturas do tipo cista, cobertas por túmulos de pedra e terra. A disposição circular e as câmaras funerárias preservam características únicas da época.
Outros sítios de interesse incluem os silos da Barrada, o povoado islâmico de pescadores e o Rîbat da Arrifana, um complexo religioso islâmico classificado como Monumento Nacional, cuja localização permite controlar visualmente um largo troço da costa.
Praias com características pouco comuns na Europa
A zona costeira é composta por arribas de xisto e grauvaques, com elevada biodiversidade. A Praia de Odeceixe foi uma das “7 Maravilhas – Praias de Portugal”, por permitir banhos simultâneos em mar e rio.
Segundo o Visit Algarve, este é o único parque natural europeu onde se observam cegonhas a nidificar nos rochedos costeiros. Aves como o falcão-peregrino e a gralha-de-bico-vermelho são comuns na região.
Outras praias recomendadas incluem a da Amoreira, Monte Clérigo, Arrifana, Bordeira e Vale Figueiras. Algumas apresentam condições favoráveis à prática de surf, pesca ou caminhadas costeiras.
Gastronomia com base em produtos locais
A gastronomia de Aljezur baseia-se no peixe fresco, no marisco (percebes, ouriços, lapas) e em pratos de caça como o javali e o coelho-bravo. A batata-doce e o feijão completam muitos dos pratos típicos servidos nas ementas da zona.
De acordo com o portal Algarve 365, o pão do Rogil, os pastéis e o bolo de batata-doce são referências obrigatórias para quem visita Aljezur. A doçaria tradicional inclui também fritos com mel e calda de açúcar.
A preservação dos modos de vida rurais e da paisagem natural faz desta vila algarvia um exemplo de equilíbrio entre património, ecologia e identidade local, cada vez mais raro no contexto turístico da região sul.
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