“Desvios” da PAC ou hipocrisias do sistema… – João Dinis

São muitos esses “desvios”… Dos maiores é este verdadeiro crime económico e social que consiste em atribuir rios de dinheiro em ajudas públicas, sobretudo aos maiores e mais intensivos produtores e exportadores, e mesmo sem obrigatoriedade destes produzirem.

E tanto pior crime ele é porquanto o sistema vigente se debate com as violentas crises financeiras, económicas e alimentares de que tanto se fala e que tanto nos dão cabo da vida.

Todavia, há outros “desvios” em marcha mais subtis mas igualmente pecaminosos… Vejamos:

O Reforço (orçamental) da Ajuda Alimentar aos carenciados.
É tema que foi abordado em recente Conselho de Ministros da Agricultura da União Europeia, onde uma “minoria de bloqueio” de alguns países impediu, para já, o reforço – para 500 milhões de euros à custa do orçamento agrícola – do valor do actual programa comunitário destinado à ajuda alimentar a alguns milhões de europeus disso necessitados.

O Ministro da Agricultura de Portugal é um dos interessados nesse reforço orçamental até porque, segundo os dados disponíveis, no nosso País há meio milhão de Pessoas a necessitar desse tipo de ajuda.

Como é óbvio, não se contesta aqui a atribuição de ajudas alimentares. Sim, que quem tem fome tem direito a comer.

Aquilo que se pretende é pôr a nu a profunda hipocrisia da situação e dos seus principais promotores.

Ou seja, a União Europeia e os seus governantes praticam políticas agrícolas e de mercados que destroem a Agricultura Familiar e os mercados locais (enquanto também promovem políticas de baixos salários e de desemprego efectivo).

A União Europeia e os seus governantes promovem uma PAC irracional que, tal como já atrás se disse como exemplo, atribui rios de dinheiro público aos maiores produtores/exportadores sem obrigatoriedade destes produzirem bens alimentares, o que contribui para a redução das produções em vastas regiões e para a especulação com os preços no consumidor.

Ou seja ainda, a União Europeia e os seus governantes semeiam a fome e outras carências dentro do espaço europeu ( e noutros continentes também…) e, depois, vêm-nos com as “ajudas alimentares” destinadas aos carenciados, afinal, e na sua grande maioria, das maiores vítimas dessas desumanas políticas oficiais.

Mas não só: – acontece que, por trás do suposto altruísmo, a União Europeia e os seus governantes, com a “ajuda alimentar a carenciados”, também acabam é por assegurar escoamento de parte importante da produção e dos “stocks” agro-alimentares dos maiores e mais intensivos produtores/transformadores/comerciantes – o sector do “agro-business” -, afinal daqueles “tubarões” que engordam com a fome dos mais carenciados…

Sim, é mais uma revoltante hipocrisia deste sistema !

João Dinis

A Teoria-Fraude da “Competitividade” – João Dinis


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