Diana Policarpo e José M. Rodrigues, em Viseu

Diana Policarpo investiga a conexão entre a vida humana e vegetal, a resiliência ecológica e os vestígios sedimentados do trabalho e da extração excessiva da terra.

As obras que vão integrar a exposição desenvolvem-se entre cardos imponentes, alguns espinhosos que, através de uma ação fitorremediadora, têm a capacidade de absorver compostos nocivos que se encontram incrustados em solos com distintos níveis de contaminação, e que podem também transmitir as histórias registadas por aqueles que ali trabalharam.

Uma instalação sonora multicanal vai apresentar gravações de campo, composições bioacústicas e narrativas faladas num pulso vivo, simultaneamente contaminado e regenerador, captando as vibrações subtis do solo e da vida vegetal associada numa síntese de comunidade.

Três desenhos em técnica mista, concretizados em papel produzido de forma exclusiva a partir da biomassa do cardo (Cynara cardunculus), expandem esta narrativa, imaginando corpos a dissolverem-se na paisagem, mapeando simbioses, transformações e ecologias especulativas, enquanto revelam as interações estabilizadoras, curativas e culturais desta planta no saber local e nas práticas tradicionais.

Coincidências felizes e auspiciosas: enquanto Diana Policarpo trabalhava em torno da abordagem científica sobre a contaminação e regeneração dos solos, na Escola Superior de Agrícola de Viseu (ESAV), o investigador Paulo Barracosa desenvolvia trabalho sobre as capacidades regenerativas do cardo, bem como o seu vasto potencial, com recurso às mais diversas utilizações da biomassa, numa abordagem multifuncional que procura o aproveitamento integral e sinérgico da planta.

Os investigadores Jorge Gominho do Instituto Superior Agrícola (ISA), de Lisboa, e Rogério Simões da Universidade da Beira Interior (UBI) surgem naturalmente neste percurso de recolha de informação e partilha pelo trabalho desenvolvido de valorização da biomassa de cardo para a produção de papel que, neste caso, serve de base para a criação artística.

No percurso de recolha de informação técnico-científica e cultural, Diana Policarpo levou a cabo visitas de estudo a diversos locais no território onde existiram extrações mineiras com diferentes graus de perturbação e que, algumas delas, estão a ser alvo de projetos de recuperação em distintos graus de desenvolvimento sob a responsabilidade da EDM – Empresa de Desenvolvimento Mineira. Houve a preocupação de envolver nestas ações preparatórias os responsáveis autárquicos e técnicos da EDM.
No caso da visita às antigas minas da Urgeiriça, no concelho de Nelas, onde foram acompanhados pelo responsável técnico da EDM, Carlos Martins, decorreu ainda uma reunião de trabalho com o Presidente da Autarquia, Joaquim Amaral, que envolveu técnicos de diferentes áreas de especialidade e entidades.
Nas várias minas visitadas no concelho de Mangualde, localizadas na freguesia de Tavares, decorreu, igualmente, um encontro com o Presidente da Junta de Freguesia, Alexandre Constantino, que acompanhou as visitas.

O Parque Botânico Arbutus do Demo, em Vila Nova de Paiva, foi ainda um dos locais visitados, surgindo neste roteiro por ser um exemplo de boas práticas no que concerne à preservação e valorização da biodiversidade, com particular ênfase para a flora autóctone e que, pela proximidade às minas da Queiriga, poderá vir a constituir-se no futuro como polo de propagação e multiplicação de plantas de espécies endógenas com potencial aplicação em projetos de fitorremediação, requalificação e valorização da paisagem em antigos espaços de extração mineira.

A residência artística do fotógrafo José M. Rodrigues integra o programa “Sopro Luminar”, criado pela VNBM e o Centro de Artes Visuais – Encontros de Fotografia (CAV), de Coimbra.No contexto da residência, foi já realizado um curso intensivo de fotografia com os alunos do 3º ano da licenciatura em Artes Plásticas e Multimédia, da Escola Superior de Educação de Viseu (ESEV).
Uma masterclass, a decorrer no Polo 2 da VNBM, vai culminar com uma exposição dos trabalhos produzidos pelos participantes, bem como por fotografias do próprio José M. Rodrigues. A mostra dará ênfase ao diálogo entre o trabalho dos alunos e o do próprio fotógrafo para aprofundar aspetos como a composição, a cor e a geometria, e como estes elementos estão ligados no interior de cada um de nós, com uma finalidade. Para o artista, trata-se de uma aprendizagem que permitirá aos participantes saber lidar com a imagem, com aquilo que sentem, facilitando a sua visualização. Além de noções de fotografia, também a organização de uma exposição, sobretudo as sequências, têm destaque no quadro da formação.

A partilha de conhecimento inclui o acesso a um conjunto alargado de fotografias de um artista com a vitalidade própria de uma experiência nacional e internacional de 52 anos.

O artigo foi publicado originalmente em Gazeta Rural.


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