Dias Medievais levam Castro Marim numa viagem ao passado de 27 e 31 de agosto

A vigésima sexta edição dos Dias Medievais em Castro Marim decorre de 27 a 31 de agosto, prometendo uma viagem inesquecível ao passado. É o maior evento regional de recriação histórica e que marca a agenda cultural de Castro Marim e do Algarve, durante cinco dias emocionantes e muito aguardados e que atrai anualmente milhares de pessoas. Reis e rainhas, cavaleiros de armaduras reluzentes, bobos e jograis, comerciantes, monges, damas e nobres e ainda criaturas demoníacas e mágicas irão invadir a vila de Castro Marim, contando mais uma vez com a participação especial de Guérande, cidade francesa geminada, e de Cortegana (Espanha). O Castelo irá, mais uma vez, ser o epicentro do evento e abrigar as representações de dezenas de artes e ofícios.

Em conversa com a Gazeta Rural, a presidente da Câmara de Castro Marim, diz que os Dias Medievais “são uma marca territorial” e um evento “âncora” do concelho. Filomena Sintra destaca a atividade de salicultura no concelho, hoje com empreendedores das mais diversas áreas.

Gazeta Rural (GR): Que importância tem este evento para Castro Marim, que decorre num cenário muito atrativo?

Filomena Pascoal Sintra (FPS): Os Dias Medievais são uma marca territorial, que traz gente e notoriedade a Castro Marim ao longo do ano. O sucesso que representam estes 5 dias do evento pode ‘medir-se’ pelo número de pessoas que nos visitam.

Nós temos uma preocupação com o rigor histórico. No interior do Castelo temos referência a cerca de 45 artes e ofícios, como o cantoneiro, o barbeiro, o cesteiro, a costureira, a tecedeira ou o ferreiro, com vários quadros bem representados, que nos transportam para a autenticidade daquele tempo, provavelmente com algum riquismo que não haveria naquela altura. Supostamente, naquelas ruelas deambulariam o povo e os mais necessitados, enquanto as donzelas andavam pelo castelo. Pretendemos que todos os grupos de animação estejam ou se desloquem ao castelo, como o torneio a cavalo da GNR, que assegura a segurança do evento.

Fora do Castelo estarão todos os outros vendedores, tudo adaptado à época medieval na procura de trazer uma graça associada à época medieval. Temos na parte das comidas e bebidas muitas coisas variadas e diferenciadas, mas temos também muitos artesãos, embora com menos rigor do que aqueles que estão dentro do castelo, onde não temos capacidade de meter toda a gente que nos procura.

Outro dos destaques dos Dias Medievais são os banquetes, que decorrem num espaço exclusivo e à luz misteriosa das tochas, com uma ementa que reúne as melhores iguarias da época, acompanhadas de performances de grupos de animação. Há um chefe de cozinha de renome que assegura a confeção das cerca de 250 refeições por noite. No Castelo temos as associações que asseguram pratos distintos, como tapas e petiscos variados. Por exemplo, uns oferecem a chouriça assada dentro de uma folha de pita, que é um cato, que faz de prato, outros têm sopas dentro do pão, peixe assado, borrego, etc.

GR: O que representa este evento para Castro Marim?

FPS: Se reportarmos ao início da sua criação, era um pequeno evento. Hoje representa aquilo que mais contribui, ao lado das nossas praias, para a afirmação do nome de Castro Marim e que isso depois se traduz noutros campos de atividade, contribuindo para a valorização da autoestima local e para o posicionamento do território.

Este é um evento âncora, que hoje já se traduz nalgumas atividades que funcionam durante todo o ano, como a Tasca Medieval e outros estabelecimentos mais ligados aos Dias Medievais, criando outras dinâmicas associadas ao longo do ano. Há 30 nos não havia nada disto. O evento foi criado em 1998 e esteve suspenso nos dois ou três anos da Covid, mas começou logo a dar-se nota de quanto isso contribuía para a afirmação de Castra Marim, que hoje tem um património histórico valiosíssimo.

Hoje toda a gente sabe onde foi criada a primeira sede da Ordem de Cristo, pelo rei Dom Dinis, toda a gente sabe hoje outras coisas, porque temos outros canais abertos para comunicar o nosso património natural e cultural. Por exemplo, Paco de Lucía, nome artístico de Francisco Gustavo Sánchez Gomes, o virtuoso da guitarra, que faleceu há cerca de 12 anos, a sua mãe, Lúcia, era de Castro Marim. Tudo isto é um exponencial de afirmação, crescimento e posicionamento do nosso concelho.

GR: Mas, Castro Marim é indubitavelmente associado à extração de sal. Como tem sido o processo de recuperação desse património?

FPS: As salinas cresceram com a afirmação da salicultura tradicional, num processo mais ou menos um processo paralelo. A atividade salineira em Castro Marim, segundo consta, será já milenar. Foi uma atividade que se perdeu, depois da industrialização de Portugal e da Europa, e há cerca de 25 anos, através de muitas atividades da Reserva e da ODIANA – Associação para o Desenvolvimento do Baixo Guadiana, da qual eu fazia parte, começou-se a fazer registros, especialização, formação e trocas de experiências culturais com outros territórios, como Guérande, para levar as pessoas daqui a acreditar que valia a pena voltar àquilo que era tradicional e à valorização de um produto sem igual, que é o sal extraído artesanalmente.

O sal extraído industrialmente é lavado e tudo que pode contribuir para a nossa saúde e equilíbrio, é aditivado quimicamente. Aquilo que é bom do sal, no processo industrial, é retirado e depois é calibrado em laboratório. O sal tradicional é um processo pesado, que exige mão de obra, num trabalho e entrega pessoal grande. Foi difícil, há 25 anos, convencer as pessoas que viveram sempre pobres, associados ao sal, que era importante recuperar a salicultura e o método tradicional.

Hoje já temos uma cooperativa, com 11 produtores, com um posicionamento internacional. Grande parte dos chefes de cozinha, com estrela Michelin em Portugal, já usam sal de Castro Marim, os Chocolate Coral, também de renome internacional, afirmam nos seus ingredientes o sal de Castro Marim. Hoje já toda a gente quer uma salina, mas não é barato comprá-la. Além disso, já há pessoas formadas em áreas tão diversas, como tecnologia, jornalismo, marketing e outras, que são empreendedores na salicultura.

O artigo foi publicado originalmente em Gazeta Rural.


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