Dizem que é jornalismo e que nos defende da má informação

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O Observador (com certeza outros também), publicou uma peça da Lusa, citando a QUERCUS, que, no essencial, diz que a informação sobre fogos em Portugal está toda errada e que dois terços dos eucaliptos ardidos não aparecem nas estatísticas.

Que a QUERCUS tenha estes delírios, é normal, estou farto de ler coisas de supostos ambientalistas a dizer coisas semelhantes porque não estão disponíveis para deixar os factos influenciarem as suas ideias.

Mas olhemos para o assunto do ponto de vista de um jornalista.

Uma associação cuja capacidade técnica não é especialmente reconhecida e que não tem nenhum trabalho concreto de cartografia do que quer que seja, resolve dizer que toda a cartografia oficial de um assunto que é dos mais discutidos no país está errada.

O comunicado da Quercus a que a Lusa resolveu dar publicidade diz “A COS, atualizada apenas de 5 em 5 anos, e os ortofotomapas que lhe dão suporte, cuja última edição remonta a 2018, apresentam um desfasamento significativo face ao território real, e para agravar esta situação, a COSc, de carácter anual, sofre do mesmo problema técnico pois classifica como “mato” vastas áreas de eucaliptal jovem, em regeneração ou em rotação após corte, mascarando assim a verdadeira extensão desta cultura florestal”.

O normal seria o jornalista verificar se é mesmo assim e qualquer uma das centenas de pessoas que contactam minimamente com o assunto rapidamente esclarecia que o ICNF usa a COS de 2023 e que os exemplos dados pela Quercus são delírios que não são suportados pela informação oficial (por exemplo, no tal incêndio que dizem que são classificados 62% de matos, a verdade é que a informação oficial diz que são 80% de eucaliptos).

Não se trata do jornalista saber ou não do assunto, não tem saber, como eu não sei, trata-se é de perceber que o que está a ser dito é semelhante a aparecer alguém a dizer que a força da gravidade não é de 9,8 m/s2 porque alguém atirou um berlinde do terraço e chegou a um valor diferente.

O mínimo que se espera do jornalismo é uma ronda pelos físicos que conhece a perguntar se realmente há alguma possibilidade dessa pessoa ter razão.

O artigo foi publicado originalmente em Corta-fitas.


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