

A viagem de avião do Porto a Nantes durou cerca de hora e meia. Chegámos já de noite, debaixo de chuva, pernoitamos num hotel junto ao aeroporto de Nantes e no dia seguinte seguimos viagem num carro alugado, durante duas horas, até à baía do Monte Saint-Michel. Para ser menos cansativo, procurei alojamento numa das muitas casas de turismo rural da região. Durante essa busca, reparei no mapa que havia muitas quintas com produção de hortícolas e criação de ovelhas e vacas. Perguntei num grupo de produtores de leite franceses por vacarias que poderia visitar na região e vários sugeriram a Ferme (quinta) Cara-Meuh. “Cara” é de caramelo e “Meuh” é como as vacas francesas dizem “múu”. É mais chique😅…
Aceitei a sugestão porque o nome já me era familiar, uma vez que tinha sido convidado para um evento dos produtores de leite Europeus, EMB, nesse lugar mas na altura não foi possível participar.
Depois de visitar o Monte, ao fim da tarde dirigimo-nos à Ferme Cara-Meuh que está a 25 minutos a Norte do Monte Saint-Michel e pertence à família Lefranc há várias gerações, desde 1929.
Em 2009, em plena crise do leite na Europa quando o preço por litro desceu aos 20 cêntimos, houve uma greve do leite durante 15 dias na França e a família desta quinta também participou nas manifestações com espalhamento de leite nos campos junto ao Monte Saint-Michel. Depois, insatisfeitos com os resultados, começaram a procurar formas de valorizar diretamente o leite. Em 2010 começaram a produzir caramelos, natas e manteiga e em 2011 iniciaram a reconversão da produção para o modo biológico. Começaram a fazer venda direta e abrir as portas da quinta ao fim de semana. Agora organizam anualmente o festival “Cara-Meuh”. Em 2017 adaptaram um velho autocarro para galinheiro móvel, e em 2018 começaram a produção de mel. Com as dificuldades do confinamento por causa do covid, anteciparam o projeto de fazer queijo e mais recentemente cerveja com base na cevada que produzem. E agora até lançaram um queijo com
cerveja…
A loja da quinta, aberta nos 7 dias da semana, tem disponíveis mais de 600 produtos próprios e da região e no piso superior um “museu do leite” que merece a visita. Tendo chegado à quinta quase ao anoitecer, já não tivemos luz para ver todo o espaço exterior, mas pudemos ver as vacas a serem ordenhadas, coisa que vemos todos os dias, mas na nossa vacaria temos um robô de ordenha e assim pude mostrar ao meu filho mais novo como era o nosso trabalho antes do robô chegar há 12 anos.
Se visitarem Saint-Michel e não tiverem hipótese de ir à quinta, encontram os caramelos e mais alguns produtos na primeira loja de souvenires logo após a passagem da “ponte levadiça” nas muralhas do monte.
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O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.