Os detidos alegadamente traziam imigrantes ilegalmente para trabalhos forçados na agricultura, mantendo-os em condições sub-humanas e controlando-os através de ameaças. A investigação mobilizou 200 inspetores e envolveu buscas em 50 locais, tendo identificado centenas de vítimas de exploração.
Os agentes da autoridade seriam uma espécie de capatazes, que controlariam os imigrantes sob forte tensão e ameaças.
De acordo com o Ministério Público, os suspeitos obrigavam as vítimas a trabalhar muitas horas, abaixo do valor de mercado, sem contrato, e davam-lhes a entender que os abusos não poderiam ser denunciados, aproveitando-se da situação de fragilidade.
Em comunicado, o Departamento Central de Investigação e Ação Penal explica ainda que os factos investigados são suscetíveis de integrarem, em abstrato, a prática do crime de auxílio à imigração ilegal, o crime de tráfico de pessoas, os crimes de corrupção ativa e passiva e o crime de abuso de poder.
Dos 17 detidos, dez são militares da GNR, um é agente da PSP e seis são civis, que controlariam as empresas de trabalho temporário.
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Na reação, a GNR avisa que, a confirmarem-se as suspeitas, tudo será feito para que os autores sejam responsabilizados.
Também a PSP manifesta repúdio e garante que serão acionados procedimentos disciplinares. Esclarece que o agente detido estava de baixa prolongada e desarmado.
A Judiciária diz ter indícios de que se trata de um grupo violento, ao estilo mafioso.
A operação Safra Justa começou cedo na manhã de terça-feira. A Unidade Contra o Terrorismo da PJ usou a Base Aérea de Beja como centro operacional.
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Era no fundo deste corredor, agora sombrio, que dormiam dezenas de imigrantes em condições indignas, consideradas sub-humanas. Um pequeno café de aldeia que servia de casa e cuja fechadura foi arrombada.
De madrugada, entrava em ação a Unidade de Contraterrorismo da PJ. As marcas da destruição eram bem visíveis. Lá dentro, em escassos metros quadrados, as alegadas vítimas do tráfico de seres humanos eram surpreendidas pela operação policial na outrora pacata freguesia de Cabeça Gorda, em Beja.
Um autocarro cheio de trabalhadores estrangeiros seguia a caminho de propriedades agrícolas onde seriam sujeitos a trabalhos forçados. A imagem já faz parte da nova planície alentejana.
Imigrantes considerados vulneráveis a viver e a trabalhar, segundo a investigação, em condições semelhantes à escravatura.
O café Sol Nascente foi apenas um dos 50 locais buscados, para os quais foram mobilizados 200 inspetores.
Na investigação de vários meses, terão sido identificados centenas de imigrantes ilegais vítimas de exploração.