Paula Duque e Vasco M. Barreto

Dos equívocos sobre as plantas transgénicas – Paula Duque e Vasco M. Barreto

A tecnologia CRISPR permite modificar o genoma sem introduzir ADN exógeno. É verdade que não atingiu ainda o grau de perfeição que torne a edição perfeitamente limpa, mas o ritmo da inovação tem sido de tal ordem que não será optimismo exagerado antecipar que o atinja nos próximos anos.

Com a progressiva secularização do mundo ocidental, tem surgido um entendimento quase religioso do mundo natural difícil de conciliar com a instrumentalização da natureza essencial às sociedades humanas. Apesar das contribuições decisivas para a nossa saúde e alimentação, tendemos a associar à genética a noção de eugenismo e de interferência na ordem natural das coisas. Mas desde o advento da agricultura que o que entendemos por mundo natural vem sendo redefinido pela selecção artificial: para garantir a sua sobrevivência, o Homem transformou radicalmente as espécies agrícolas, como facilmente perceberá quem por exemplo comparar o milho cultivado com o seu ancestral natural (o teosinto) ou investigar a artificialidade do montado alentejano. Prolongando esta tradição milenar, a tecnologia que permite gerar plantas transgénicas veio no final do século XX facilitar imensamente a manipulação dos genomas e exacerbar os receios dos que defendem uma visão imaculada da natureza.

Os genomas das plantas modificam-se e perpetuam-se essencialmente de quatro formas: 1) por selecção natural ou fixação neutra nas populações de variações espontâneas no ADN (a natureza imaculada a funcionar); 2) por selecção artificial de variedades naturais (as técnicas tradicionais da agropecuária, nomeadamente o cruzamento selectivo); 3) por selecção artificial de variedades induzidas pela acção de agentes mutagénicos, tais como as radiações ou certas substâncias químicas; 4) através de técnicas de biologia molecular, que nas últimas décadas têm produzido

Paula Duque e Vasco M. Barreto

Investigadora em biologia molecular, Instituto Gulbenkian de Ciência

Investigador em biologia molecular, Centro de Estudos de Doenças Crónicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa

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