por henrique pereira dos santos, em 18.08.25
O boneco acima foi-me mandado ontem, e sobprepõe a previsão de humidade atmosférica na noite que passou (de ontem para hoje), com os fogos activos em grande parte da Península Ibérica.
A mensagem era uma mensagem moderadamente optimista de quem sabe que a entrada de ar húmido é uma grande esperança para uma evolução favorável do combate ao fogo.
O que me chamou a atenção, no entanto, foi a excelente ilustração da localização geográfica dos fogos, uma questão que há anos me levou a fazer uns textos sobre a relação entre meteorologia e concentração de fogos.
A ideia de que arde em Portugal por causa do minifúndio, de não se saberem quem são os donos do terreno, do direito sucessório, a organização do combate e mais umas quantas idiossincrasias administrativas portuguesas e outras menos administrativas, como a grande presença de eucaliptal, tem um problema: a menos que esses factores portugueses sejam tão poderosos que afectem a Bulgária ou o Canadá, aparentemente, outros factores estão em causa na gestão do fogo.
Há, de facto, questões de geografia, ou de natureza, como se lhe queira chamar, e é isso que o boneco acima ilustra, o que arde na Península é sobretudo a faixa Noroeste acima do Tejo, por razões relacionadas com uma elevada produtividade primária, condições para uns quantos dias meteorologicamente muito favoráveis ao desenvolvimento do fogo e escassez de solo agrícola susceptível de suportar agricultura intensiva em larga escala.
Esta é a especificidade portuguesa e galega que justifica que haja mais fogos nesta parte do mundo.
Depois há um processo social transversal, que é o abandono ou diminuição da intensidade de gestão da grande parte do mundo rural em que não entra a produção intensiva.
Esse é um processo transversal em todo o mundo desenvolvido que faz com que arda em todo o mundo rural em que se verifica diminuição da intensidade de gestão, embora em menos anos por causa da tal especificidade geográfica do Noroeste Peninsular.
Claro que prender incendiários ou demitir ministros, governos, autarcas, comandantes de bombeiros, chefes de oficina ou empregados de café vai dar no mesmo, isto é, em nada, para se conseguir ir tendo uma gestão mais sensata do fogo.
O artigo foi publicado originalmente em Corta-fitas.