Edição genética | Dez anos de CRISPR-Cas9

Até à data, as aplicações mais proeminentes do CRISPR-Cas9 têm sido na medicina, mas Jennifer Doudna, uma das ‘inventoras’ desta ferramenta, acredita que as aplicações mais impactantes serão na agricultura e na alimentação.

Já passou uma década desde que foi publicado na Science o artigo de Jennifer Doudna e Emmanuelle Charpentier que descrevia a investigação sobre o desenvolvimento de um método de edição do genoma denominado CRISPR-Cas9  (ou tesouras genéticas) e que lhes valeu o Prémio Nobel da Química 2020.

Nos últimos 10 anos, versões melhoradas destas tesouras genéticas foram introduzidas por muitos investigadores e muitas aplicações de manipulação de genes foram exploradas. Até à data, as mais proeminentes têm sido as aplicações médicas, tais como terapias destinadas a tratar pacientes com anemia falciforme.

Mas o CRISPR está preparado para ter um impacto ainda mais amplo no mundo. Além de poder modificar os genomas das células humanas, esta ferramenta é capaz de alterar os genomas das células vegetais. Aliás, como explicou Jennifer Doudna numa entrevista recente no podcast Babbage, as primeiras aplicações práticas do CRISPR que irão captar a atenção das pessoas serão na alimentação e na agricultura: “As aplicações mais impactantes do CRISPR, para muitos de nós, serão no sector agrícola, pelo menos a curto prazo”.

Mas qual é a diferença entre usar a tecnologia CRISPR e usar os métodos convencionais de mutagénese genética para melhorar as características das plantas? “O CRISPR acrescenta precisão à caixa de ferramentas”, esclarece Doudna. O cultivo de plantas com agentes mutagénicos químicos, por exemplo, tem dependido inteiramente da introdução de alterações aleatórias no DNA das plantas. Além disso, é difícil fazer múltiplas alterações numa planta ao mesmo tempo, o que significa múltiplas rondas de manipulação, cada uma delas aumentando o risco de ocorrência de alterações indesejadas. A tecnologia CRISPR remove essa aleatoriedade, oferecendo alterações precisas a sequências específicas de DNA – uma de cada vez, ou múltiplas alterações numa única experiência.

O artigo foi publicado originalmente em CiB – Centro de Informação de Biotecnologia.


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