Milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de desnutrição. Especialistas em alimentação acreditam que as tecnologias de edição do genoma, como o CRISPR, podem ajudar a reduzir substancialmente o número de pessoas afetadas.
Segundo dados da Aliança Global para Melhorar a Nutrição (GAIN, na sigla inglesa), uma fundação criada pelas Nações Unidas em 2002 para reduzir a desnutrição no mundo, mostram que uma em cada três pessoas a nível mundial sofre de algum tipo de desnutrição; 821 milhões de pessoas não têm acesso a calorias suficientes para evitar a fome crónica; 2 mil milhões não consomem vitaminas e minerais suficientes para sustentar um crescimento saudável; uma em cada cinco mortes em todo o mundo estão associadas a dietas inadequadas; 151 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade têm desenvolvimento físico e cognitivo atrofiado devido à desnutrição; 45 por cento de todas as mortes de crianças menores de três anos estão relacionadas ao atrofiamento e definhamento induzidos pela desnutrição; as dietas pobres estão associadas a cerca de 22% da mortalidade adulta.
No entanto, já existem tecnologias de edição do genoma – por exemplo, o CRISPR – “com um potencial ilimitado para ajudar a reduzir a desnutrição”. Quem o diz é o director executivo da GAIN durante um encontro promovido pela Alliance For Science no âmbito do evento Food Systems Summit, no dia 23 de setembro, que irá discutir o futuro dos sistemas alimentares mundiais.
“O mundo precisa destas tecnologias porque milhões de pessoas não têm acesso a refeições suficientemente nutritivas para se manterem saudáveis”, reforçou Lawrence Haddad, que, citando o Relatório do Estado de Insegurança Alimentar das Nações Unidas, sublinhou que “três mil milhões bilhões de pessoas não têm dinheiro para ter uma dieta saudável e 1,5 mil milhões não pode pagar uma alimentação minimamente nutritiva.”
Também presente no encontro, Cecília Acuin, Professora Associada do Instituto de Nutrição Humana e Alimentos da Universidade das Filipinas em Los Baños, chamou a atenção para o caso das Filipinas, que apesar de produzir variedades geneticamente modificadas (OGM) e de usar outras ferramentas biotecnológicas para melhorar os nutrientes de alguns alimentos, teria muito mais a ganhar com a adoção da tecnologia. “A edição de genes acelera o processo de melhoramento das plantas.”
O Instituto Internacional de Investigação do Arroz (IRRI, na sigla inglesa) está a tentar descobrir quais os benefícios nutricionais das variedades de arroz disponíveis no banco de genes. Esperar que o melhoramento convencional propague essas características no germoplasma do arroz levará centenas de anos, mas as tecnologias de edição de genes permitiriam encurtar consideravelmente esse tempo. Um exemplo concreto foi dado por Tom Adams, cofundador e CEO da Pairwise, uma empresa norte-americana de biotecnologia que usa a edição genética para melhorar frutas e vegetais: “Para fazer uma cereja sem caroço, o cruzamento normal levaria mais de 100 anos, mas com a edição de genes levaria menos de cinco anos.”
Eliminando a aleatoriedade do cruzamento, a edição de genes permite avanços rápidos no melhoramento de plantas. Esta tecnologia emergente “dá muito poder à genética para fazer coisas muito precisas”, garantiu Tom Adams.
Um outro benefício potencial da tecnologia é tornar as culturas mais resistentes a ambientes em mudança, prolongando o seu tempo de vida e adaptando as variedades de modo a que produzam durante todo o ano.
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O artigo foi publicado originalmente em CiB – Centro de Informação de Biotecnologia.