[Fonte: Diário do Alentejo] Adaptar plantas às alterações climáticas, melhorando a sua genética, é o trabalho que se promove em Elvas, em plena Estação Nacional de Melhoramento de Plantas, que procura responder às dificuldades agrícolas impostas pelo intenso calor e a frequente falta de água.
“Chove quando as plantas menos precisam e isto é uma particularidade muito grande do ponto de vista da adaptação. Temos que ter sempre isso em conta. O nosso trabalho é perceber muito bem o comportamento das plantas e selecionar as que melhor se adaptam a este condicionalismos”, explica Benvindo Maçãs, que dirige o polo do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária de Elvas.
Isto numa altura em que a Estação de Melhoramento de Plantas se prepara para receber um laboratório que quer encontrar respostas às alterações climáticas, num projeto cofinanciado pelo Ministério da Agricultura em dois milhões de euros.
Para já, o que se vai fazendo por aqui é procurar ajustar o comportamento das plantas aos novos cenários que se são apontados em torno das alterações climáticas, prevendo-se “temperaturas mais altas na primavera e a concentração de chuvas no inverno,” explica, apontando o trigo como um exemplo prático do processo.
“Estamos a cruzar variedades, neste caso, de ciclos mais curtos, fazendo com que o período de enchimento do grão, que é aquilo que é determinante para a produção, também seja mais curto. Isso vai permitir que o trigo seja semeado na época devida, em pleno outono, mas fará com o que enchimento do grão ocorra antes das temperaturas muito elevadas e da maior falta de água que possa acontecer depois”, justifica o mesmo responsável.
No fundo, acelera-se o que natureza já dá, sustentando Benvindo Maçãs que se está a conseguir chegar a novas combinações genéticas através de processos convencionais, ajudados com novas ferramentas moleculares e biotecnológicas. “O objetivo é selecionar as plantas que melhor se adaptam”, insiste, esclarecendo que “as novas combinações genéticas não significam que se esteja aqui a introduzir OGM, porque recorremos apenas a processos clássicos e naturais de melhoramento”, justifica.
OGM são os organismos geneticamente modificados que permitem transformar uma ou duas características de determinada planta, através da introdução de genes estranhos. Não vinha mal ao mundo, segundo o mesmo responsável, mas é uma prática que não tem lugar na investigação que se faz por Elvas.
Um dos projetos que está em curso nesta altura decorre em parceria com um instituto francês, tendo sido os próprios franceses que foram a Elvas porque sabem que dentro de 50 anos vão ter o mesmo cenário que existe no Alentejo, estando ambas as instituições a desenvolver modelos de plantas para adaptação às alterações climáticas, havendo já resultados. Uma das conclusões a que chegaram é que as variedades selecionadas nas condições exibidas pelo Alentejo são mais resilientes a este clima, com pouca chuva e muito quente.