Em Defesa dos Lameiros de Trás-os-Montes – Nuno Moreira

Muitos de nós conhecemos ou ouvimos falar dos lameiros de Trás-os-Montes. Trata-se de pastagens permanentes com uma grande tradição de cultivo, com grande representação na Região de Trás-os-Montes, em particular nas áreas de maior altitude como por exemplo a Região do Barroso, de grande valor ambiental e para os sistemas de agricultura de montanha.

Foto: José Vieira

O nosso envolvimento num projecto de investigação aplicada do PAMAF IED tem-nos permitido apreciar e conhecer melhor o seu valor, o contexto em que se encontram e os desafios que enfrentam os seus agricultores.

O seu valor agrícola resulta de serem o principal suporte da pecuária bovina de montanha, nomeadamente de raças autóctones como por exemplo a Barrosã, de serem a principal ocupação dos solos agrícolas e de serem a principal cultura das explorações agrícolas destas regiões (2/3 da área das explorações do Barroso).

Foto: José Vieira

O seu valor ambiental resulta da protecção que fazem do solo, nestas condições muito susceptível à erosão com outras culturas, da contribuição para o ciclo da água e regularização das respectivas bacias hidrográficas, da sua contribuição para a biodiversidade vegetal e animal e da contribuição para a redução dos riscos de propagação dos incêndios florestais, sendo culturas com um baixo nível de consumo de químicos e de um elevado valor paisagístico.

Ora as medidas agro-ambientais, embora tenham considerado estes lameiros entre as produções beneficiadas, concedem-lhes ajudas inferiores a outros sistemas e culturas de bem menor valor ambiental e paisagístico, e, facto ainda mais grave, inferiores aos prémios atribuíveis por perda de rendimento às superfícies agrícolas florestadas.

Foto: José Vieira

Por outro lado, as explorações agrícolas destas regiões são de reduzida dimensão, e consequentemente o são os seus efectivos de vacas aleitantes utilizadores dos lameiros e do feno que produzem. Porém, os insistentes pedidos de acréscimo de quota de vacas aleitantes pelos agricultores da região não têm sido atendidos, já que os critérios de distribuição da Reserva Nacional não os contemplam.

Estas situações são inadmissíveis se tivermos em conta o valor e importância dos lameiros e destas produções para a sustentabilidade dos sistemas de agricultura de montanha e para subsistência do seu mundo rural.

Num período de reformulação das ajudas e dos regulamentos é indispensável que estas situações sejam tidas em conta e que os lameiros e as explorações de montanha sejam tratados de acordo com a sua importância e méritos.

Nuno Moreira
Professor da UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)


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