Em Carrazedo de Montenegro, Valpaços, perspetiva-se uma “boa produção” de castanha, embora com “quebras pontuais” provocadas pelo fungo que atingiu alguns castanheiros, reforçam-se alertas pela falta de trabalhadores e prepara-se o regresso da feira.
É nesta zona, em plena Serra da Padrela, no distrito de Vila Real, que se situa a maior mancha de castanha judia da Europa, o fruto que é a principal fonte de rendimento para muitas famílias.
A apanha iniciou-se pela variedade híbrida, daqui a cerca de duas a três semanas será a judia e, depois da quebra verificada em 2020, este ano perspetiva-se uma “boa produção”.
“Até há uns dias as expectativas estavam muito em alta, achávamos que íamos ter um ano brutal de castanhas. As plantas estavam com um comportamento muito interessante”, afirmou hoje à agência Lusa Lino Sampaio, produtor e responsável pela associação Agrifuturo.
No entanto, segundo o responsável, vão verificar-se “situações pontuais de quebra de produção” provocadas por dois fungos – a septoriese e a mixofarela -, que afetaram a folha e o ouriço, respetivamente, do castanheiro.
“As folhas e os ouriços secam e pode implicar também consequências na produção”, explicou o técnico da Agrifuturo Jorge Espírito Santo.
Os fungos atingem a folha do castanheiro, que fica de cor acastanhada e rebordo amarelo, originando a sua queda antecipada, e atacam também o pedúnculo do ouriço, provocando a sua queda precoce e consequentemente a quebra de produção.
Este responsável referiu que estes fungos estão relacionados com os “nevoeiros fora de tempo”, ou seja, o verão mais fresco que se verificou no final de julho, início de agosto.
Foi nessa altura que foi aconselhado aos produtores um tratamento preventivo à base de cobre e, nos soutos onde foi efetuado, as árvores estão saudáveis.
“Não podemos ficar impávidos e serenos e não fazer os tratamentos, neste caso da septoriose e da mixofarela que, se fosse feito a tempo e horas, se calhar não tínhamos esta situação”, referiu Jorge Espírito Santo.
Também Lino Sampaio referiu que as práticas agrícolas que eram feitas há “50 ou 40 anos têm que ficar na gaveta” porque o clima mudou, referindo-se às alterações climáticas.
“As práticas agrícolas têm que mudar e o modo como nós olhamos e fazemos a cultura do castanheiro também tem que mudar. Quem não mudar tem os soutos neste estado”, lamentou.
À Agromontenegro, uma unidade de transformação, embalagem e comercialização de castanha, já chegam muitas encomendas de Portugal e do estrangeiro. Esta empresa, que no ano passado recebeu cerca de três mil toneladas de castanha, trabalha com países como o Brasil, Canadá, EUA, Espanha, França, Inglaterra, Alemanha ou Suíça. A exportação representa 70% do volume de negócio.
As variedades “mais nobres” precisam de mais uns dias. “Temos de dar tempo à natureza”, afirmou o responsável pela empresa, Dinis Pereira.
A Agromontenegro recebe a colheita de 700 a 800 produtores e, segundo o empresário, embora haja zonas mais altas da Denominação de Origem Protegida (DOP) da Padrela, “em que mais por descuido do produtor, que foram um pouco afetadas pela septoriose, a produção vai ser boa”.
“As árvores estão bastante carregadas. Os calibres não vão ser tão graúdos como em outros anos, mas estou convencido em que quantidade e qualidade vamos ter tanto ou melhor do que no outro ano”, salientou.
Nos últimos anos têm sido várias as pragas e doenças que têm afetado o castanheiro, como o cancro, a tinta a vespa das galhas do castanheiro e, este ano, a septoriose, um fungo que, já 2014, também atingiu este território.
Outra das grandes preocupações dos produtores é a falta de mão de obra, um problema que se intensifica de ano para ano.
Na Agromontenegro trabalham 14 pessoas regularmente, mas, nesta altura, a empresa precisa de mais cerca de 50, para a unidade fabril e para a apanha nos soutos.
Dinis Pereira referiu que já tem muitos trabalhadores que vêm de outras regiões mais distantes, como de Resende.
“Acabamos por ter alguma resistência nos agricultores em se quererem modernizar. Andamos a fazer apanha manual com pessoas de 60, 70 anos e pouquíssima gente”, sublinhou Lino Sampaio.
Depois de cancelada em 2020 por causa da pandemia de covid-19, a Feira da Castanha realiza-se entre 05 e 07 de novembro, em Carrazedo de Montenegro, no distrito de Vila Real.
“É muito importante para nós, sobretudo pela notoriedade que nos dá. Dá-nos a oportunidade de falar de uma região e deste concelho que tem a maior mancha de variedade judia da Europa”, sublinhou Lino Sampaio.