A Kineden, que comercializa cacau da Costa do Marfim, maior produtor mundial desta matéria-prima, angariou 40 milhões de euros nos mercados financeiros internacionais para investir no “cacau sustentável”, uma exigência em particular da União Europeia, anunciou hoje a empresa.
“A Kineden vai investir 40 milhões de euros ao longo de três anos” para melhorar a cadeia de processamento e “preparar-se para integrar as melhores práticas em termos de sustentabilidade, certificação, rastreabilidade do cacau”, disse o diretor-geral da Kineden Commodities, Stéphane Apoque.
“O cacau sustentável é o cacau que melhor remunera o agricultor e a Kineden, sendo um ator local próximo dos agricultores”, vai mesmo fazê-lo, assegurou.
O financiamento surge no momento em que a tensão aumentou entre a Costa do Marfim e o Gana, que representam cerca de 60% da produção mundial de cacau, por um lado, e os gigantes do chocolate, por outro.
Os dois países exigem a aplicação de um novo mecanismo de fixação de preços para aumentar o rendimento dos produtores de cacau, enquanto os fabricantes de chocolate querem obter “cacau sustentável”, “sem desmatamento ou trabalho infantil”.
O cacau da Costa do Marfim, que representa 45% da produção mundial, representa 14% do Produto Interno Bruto do país e alimenta 24% da população deste país de aproximadamente 27 milhões de habitantes.
A Costa do Marfim e o Gana introduziram em 2021 um “Diferencial de Rendimento Digno” (DRD), um bónus de 400 dólares (405 euros ao câmbio atual) por tonelada (além do preço de mercado) destinado a remunerar melhor os plantadores (que são milhões a viver na pobreza na África Ocidental) e “garantir a sustentabilidade da economia do cacau”.
Os plantadores são os parentes pobres do setor: recebem apenas 6% dos 100 mil milhões de dólares anuais gerados pelo mercado mundial de cacau e chocolate, bloqueado pelos grandes industriais.
Na Costa do Marfim, mais da metade dos fazendeiros vive abaixo da linha da pobreza, de acordo com um estudo do Banco Mundial. A situação é comparável no Gana, onde cerca de 800.000 famílias vivem do cacau.