Empresário angolano pede inclusão da classe no seguimento dos planos de fomento agrícola

O empresário angolano e membro do Conselho Económico e Social da Presidência Carlos Cunha defendeu hoje a partilha de informação entre Governo e empresários sobre os planos de fomento agrícola para não serem “mais um programa igual aos outros”.

O Governo angolano criou vários planos de fomento da produção nacional, nomeadamente o Planagrão, que visa alavancar a produção de grãos em grande escala, tendo como prioridades as culturas de milho, soja, trigo e arroz no leste do país, o Planapecuária e o Planapescas, cuja implementação, salientou o empresário, deve ser acompanhada pelos empresários.

“Nós temos que estudar o ‘modus operandi’, nós participamos na criação, mas queremos participar no ‘modus operandi’, como é que isto vai ser feito, como é que vai ser financiado, como vai ser certificado, quem vai fazer o ‘follow up’ dessas operações, senão isto é mais um programa igual aos outros”, referiu, quando intervinha na V conferência promovida pela revista Economia & Mercado, que abordou o tema “Agroindústria, a Reserva Nacional Estratégica e as Razões por que Continuamos a Depender de Importações”.

O empresário sublinhou que o país evoluiu nos últimos anos, mas “as questões nevrálgicas continuam pendentes”.

“O nosso ‘modus operandi’, a nossa falta de formação técnica, a nossa falta de investigação científica e a nossa falta de respeito pelas decisões superiores – não há um mínimo de respeito por elas, nós chegamos à decisão superior e a execução é como cada um entender”, são ainda desafios do setor, apontou Carlos Cunha.

Para o empresário, a formação técnico-profissional e a investigação são instrumentos “que normalmente se omitem”.

“Temos um profundo défice de conhecimento, é o juro mais caro que nós pagamos nas empresas, é o desconhecimento e depois não se investiga nada, não há uma investigação científica credível, nós não temos, o país não tem essa investigação”, reforçou.

Ainda sobre os planos de fomento da produção agrícola, o presidente da Associação Agropecuária de Angola (AAPA), Wanderley Ribeiro, considerou-os “respostas muito importantes do executivo” relativamente aos problemas que o setor enfrenta.

Wanderley Ribeiro apontou como um desafio grande a “apatia do setor bancário” para financiar a economia, considerando que o Governo tomou para si essa responsabilidade, um esforço que considerou “bastante expressivo”.

Contudo, o representante alertou para a necessidade de olhar para as metas que estão definidas nesses planos, por parecerem “em alguns casos excessivamente otimistas”.

“No caso, o Planagrão por exemplo, é um plano de cinco anos, este ano já está em curso, não sabemos quando é que as verbas vão ser liberadas e implementar um projeto de agricultura, infraestruturar uma fazenda, é algo que leva tempo, pelo menos um a dois anos”, destacou.

“Se o Planagrão tiver uma perspetiva de cinco anos, os dois primeiros anos já ficam abanados em relação à capacidade de se conseguir ver resultados expressivos, é claro que vai se trabalhar com as empresas que já tenham alguma expressão no setor, mas estamos muito animados e expectantes em relação à nossa capacidade de colaboração e trabalho conjunto”, expressou.

O Governo angolano vai implementar um conjunto de medidas de facilitação do acesso do setor privado ao financiamento produtivo, através do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), que vai disponibilizar para o Planagrão 5,7 mil milhões de dólares (5,3 mil milhões de euros), dos quais 3,3 mil milhões de dólares (três mil milhões de euros) para o financiamento do setor privado e o restante para investimentos públicos ligados ao projeto, para o Planapecuária 300 milhões de dólares (280,5 milhões de euros) e igual valor para o Planapescas.

O objetivo atingir até 2027 a produção de 6,1 milhões de toneladas de trigo, arroz, soja e milho, de 110 mil toneladas de carne bovina, 120 mil toneladas de carne suína, 310 mil toneladas de carne caprina, mais de 240 mil toneladas de carne ovina, 3,1 milhões de ovos e 17 milhões de litros de leite, 752 mil toneladas de pescado e 473 mil toneladas de sal.


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