Escassez de água leva Espanha a reduzir caudais dos rios que entram em Portugal

A bacia hidrográfica do Guadiana em Espanha está a suportar a pior seca desde 1996. A reserva de água nas albufeiras no outro lado da fronteira é de apenas 30%, enquanto o Alqueva está nos 76%.

Pimenta Machado, vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), chegou ao debate realizado na sexta-feira, em Beja, sobre “Perdas de água: a insustentável realidade”, organizado pela Comissão Especializada de Sistemas de Distribuição de Água (CESDA), com uma “muito má notícia” para dar aos participantes no evento: “A precipitação atmosférica em Espanha é muito reduzida e falta água nas albufeiras.” Esta situação pode assumir dimensões “preocupantes” em Portugal já no próximo Verão, pois cerca de 70% da água que o país consome vem de Espanha através dos rios internacionais. E os caudais estão a reduzir.

Neste momento, explicou Pimenta Machado, na bacia do Douro em território espanhol a escassez de água “aumenta porque não chove e vão entrar em regime de excepção”, que permite que Espanha não cumpra os caudais acordados na Convenção de Albufeira sobre a gestão dos rios ibéricos. Este regime, que se aplica a períodos de seca, já foi declarado para o Guadiana em Janeiro e Abril. “O Tejo não está em excepção mas a partir de Junho vamos ter uma gestão de crise”, avisou o vice-presidente da APA.

O Boletim Oficial do Estado (BOE) espanhol publicado a 15 de Março, e consultado pelo PÚBLICO, confirma as apreensões do vice-presidente da APA. Desde o início do último ano hidrológico, a 1 de Outubro de 2021, o valor médio nacional de precipitação acumulada foi de 223,6mm, 38,2% inferior ao valor normal. A 8 de Março de 2022, a reserva hidráulica global em Espanha situava-se nos 40,5%, muito inferior à média dos últimos 10 anos (60,8%).

Os efeitos da escassez de recursos hídricos em Portugal serão visíveis no próximo Verão, advertiu Pimenta Machado, adiantando ao PÚBLICO que está a ser preparada para breve uma reunião em Lisboa com os parceiros espanhóis da Comissão para a Aplicação e o Desenvolvimento da Convenção de Albufeira (CADC), para debater o regime de caudais a que Portugal terá acesso nos rios internacionais (Lima, Douro, Tejo e Guadiana) e no próximo ano hidrológico. No entanto, escusa-se a fazer previsões. “O que sei é que a situação é muito, muito difícil”, antecipando o cenário futuro: “Temos de nos habituar a viver com menos água e a geri-la de um modo mais racional. As notícias não são famosas”, conclui.

Guadiana em situação mais grave

A descida nos armazenamentos de água na bacia do Guadiana é das mais acentuadas em território espanhol. O BOE anuncia “restrições mais severas” na irrigação dos campos do que em campanhas anteriores e numa área de aproximadamente 171.000 hectares. O relatório do Plano Especial de Secas da Bacia Hidrográfica do Guadiana refere que, a 9 de Março, foi declarada para algumas regiões da bacia do Guadiana “situação excepcional por seca extraordinária”, obrigando à aplicação de medidas “urgentes para mitigar os efeitos produzidos pela […]

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