A escassez global de fertilizantes está a fazer aumentar os preços dos alimentos e a deixar os países e as famílias mais pobres em crise. Svein Tore Holsether, presidente-executivo da Yara International, adianta que a subida de preços da energia está a aumentar os custos dos fertilizantes, o que afeta o preço dos alimentos.
Holsether refere que a empresa pela qual é responsável foi forçada a cortar parte da produção devido aos preços mais altos do gás, uma vez que a produção de fertilizantes requer grandes quantidades de energia.
Em declarações à BBC, o presidente executivo da empresa alerta que os países em desenvolvimento serão os mais atingidos pela escassez, com a quebra nas colheitas e aumento exponencial dos preços dos alimentos.
“É de facto assustador, estamos a enfrentar uma crise alimentar e as pessoas mais vulneráveis vão ser as mais severamente atingidas”, referiu o responsável.
Svein Tore Holsether sublinha que o preço da alimentação está a aumentar a nível global e que para algumas pessoas “não é apenas uma questão de carteira, é uma questão de vida ou morte”.
A escassez de fertilizantes desencadeia uma bola de neve de escassez de alimentos e de lucros. Significa, na prática, que os agricultores de países em desenvolvimento não vão conseguir semear certos alimentos com a mesma eficácia, o que irá levar a colheitas menos abundantes. A fertilização é relevante sobretudo em colheitas como as de milho, canola e trigo.
Mas então, o que está a prejudicar a produção de fertilizantes? O processo de formação do amoníaco, presente em vários fertilizantes, depende atualmente da energia hidrelétrica ou de gás natural, fontes de energia que tiveram um aumento exponencial de preços nos últimos meses.
Esse aumento foi provocado por vários fatores, desde logo o aumento da procura, a recuperação da economia mundial após a pandemia e o menor acesso a energias renováveis nesta altura do ano, como a energia solar ou eólica.
A situação levou a um forte aumento no custo de produção de fertilizantes, com o preço do amoníaco a subir 255 por cento em relação ao ano passado.
Holsether considera que a situação atual é “muito volátil” e pediu apoio e financiamento ao Programa Alimentar Mundial (PAM) para que se possa evitar uma epidemia de fome “a larga escala”.
O artigo foi publicado originalmente em RTP.