“Ao fevereiro e ao rapaz perdoa-lhe tudo o que faz, desde que o rapaz não seja ladrão e o fevereiro não seja verão”.
Este ditado, que o meu pai me ensinou sobre as tempestades típicas de fevereiro, também vale para estes dias frios de janeiro. Reflete a sabedoria popular sobre os benefícios do frio (e do inverno em geral) na agricultura. O frio mata a bicharada da superfície do solo e da fruta. Até as moscas dos estábulos mais abrigados como o meu desaparecem. O frio é importante para o “afilhamento” das ervas e para uma boa produção de muitas fruteiras no próximo outono, como os Kiwis. Isto sem falar na beleza das paisagens pintadas de branco pela geada que deixou os nossos campos brancos como os postais de natal do norte da Europa ou das nossas zonas de montanha.
Sim, temos de nos proteger e aquecer. A lenha é uma boa opção, aquece várias vezes, duas (a rachar e a arder), disse eu ao meu amigo Sergio Moninhas, quando me contou que ia rachar lenha e me enviou algumas fotos; “mais vezes”, respondeu ele, “também aquece a cortar a árvore, aquece a cortar em rolos, a rachar, a arrumar, a arder e as cinzas aquecem a terra”…
Sim, temos saudades dos dias quentes de verão. Pois, precisamos do frio para ter saudades do calor. Para dar valor ao calor. Quem tem a vida muito facilitada não dá valor às coisas, não sabe o custo das coisas e as coisas não lhe sabem da mesma maneira.
Já repararam que, regra geral, os países mais desenvolvidos do mundo são países frios onde é preciso partir o gelo para pescar e os países com a população mais pobre são os países mais quentes onde basta estender a mão para colher a fruta? Muitos dos problemas da sociedade europeia em relação à agricultura refletem uma sociedade de barriga cheia a baixo preço que não sabe o que é fome, não sabe o que custa produzir… nem o frio que temos de enfrentar para que tenham sempre comida quente na mesa quente da sua casa aquecida.
#carlosnevesagricultor
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.