Estas propostas podem mudar a floresta

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Responsável por um conjunto de atividades económicas que entre indústria e silvicultura vale cerca de €14 mil milhões, a floresta ocupa 36% do território português e é amplamente considerado um dos mais valiosos recursos económicos e ambientais disponíveis no país. O que não impede problemas cíclicos com incêndios, gestão insuficiente ou divergências quanto à melhor forma de proteger a floresta e garantir o equilíbrio entre aproveitamento económico dos rescursos florestais e proteção da biodiversidade. É neste contexto que surge oNovas ideias para a floresta”, projeto do Expresso com o apoio da Navigator que desafiou um conjunto de personalidades a partilhar 30 ideias com potencial para transformar os recursos florestais. Seguem-se as cinco propostas iniciais.

Paulo Lucas, Associação Zero

Bancos de sementes

“A combinação do método Miyawaki [criado pelo botânico japonês Akira Miyawaki e que consiste na identificação da vegetação natural potencial do local e a sua estrutura, ou seja, de que forma as diferentes espécies de herbáceas, arbustos e árvores podem ser combinadas] com a abordagem de nucleação poderá ser uma estratégia muito eficaz para restaurar as serras portuguesas afetadas pelos incêndios recorrentes” explica o membro da direção da associação ambientalista. A ideia “consiste em criar núcleos (ilhas) de floresta nativa, densa e diversa, que poderão funcionar como bancos de sementes para auxiliar a regeneração natural das áreas circundantes”. Segundo Paulo Lucas, “as dimensões ideais de cada núcleo poderão variar, mas áreas entre 100 e 1000 m², seriam um bom ponto de partida”. Já os núcleos, “para serem eficazes”, devem ter “pelo menos 3-4 metros de largura para criar um microclima interno e numa fase inicial minimizar o efeito de orla”.

Elvira Fortunato, FCT-UNL

Da madeira ao grafeno

A ex-ministra da educação e investigadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa defende que “a floresta está a ser redescoberta como um recurso estratégico para a inovação tecnológica sustentável” coma certeza que “muito para além da madeira ou do papel, os seus componentes naturais estão agora a ser transformados em plataformas para o desenvolvimento de dispositivos eletrónicos avançados”. Elvira Fortunato fala, por exemplo, do desenvolvimento de “uma tecnologia baseada em laser que permite transformar a superfície da madeira, do papel ou da cortiça em grafeno, um material com propriedades elétricas e mecânicas excecionais”. Trata-se de um processo que “representa uma revolução na funcionalização de substratos naturais, eliminando etapas químicas complexas e tornando possível o fabrico direto de circuitos condutores e sensores sobre materiais florestais, com baixo custo e reduzido impacto ambiental”. Serão, sem dúvida “as novas placas de circuito impresso, simples de circular, com impacto tremendo no processo de reciclagem dos circuitos electrónicos”.

Pedro Norton de Matos, GreenFest

Resíduos das podas

“Em Portugal e em particular nas regiões de minifúndio, fica por aproveitar um enorme potencial de fertilização dos solos”, explica o mentor do GreenFest, para quem “os resíduos das podas (galhos, folhas e restos vegetais) são frequentemente queimados, desperdiçando o seu enorme potencial de fertilização dos solos e da sustentabilidade agrícola”, com o impacto que isso tem na estabilização dos recursos florestais. Por isso Pedro Norton de Matos sugere um “projecto agro-florestal” em que as “as infraestruturas comunitárias (juntas de freguesia, por exemplo) deverão ser equipadas com uma máquina biotrituradora, que tritura e reduz o volume de restos vegetais, transformando-os em pequenos pedaços (estilha)” que facilitam “o transporte, compostagem, cobertura do solo e também permite o aproveitamento como biomassa para produção de energia”.

Alexandra Moutinho, Instituto Superior Técnico

Aeronaves de vigilância

Detetar incêndios da forma mais eficaz possível está na génese da ideia que dá pelo nome de “Eye in the Sky” [Olho no Céu]. “A ideia evolui do projeto Balua, iniciado em 2009 por estudantes de Engenharia Aeroespacial do Instituto Superior Técnico, que usavam balões estratosféricos para testar tecnologias para a Agência Espacial Europeia”, conta Alexandra Moutinho. “Estes balões, que atingem até 35 km de altitude, oferecem uma visão aérea alargada e podem atuar como repetidores de comunicações em cenários de emergência. No entanto, ao rebentarem, obrigam à localização e recuperação manual da carga útil”. É aqui que entra esta proposta inovadora, que “supera essa limitação ao acoplar a carga útil não diretamente ao balão, mas a uma pequena aeronave que é transportada até à estratosfera e libertada no momento desejado”. Munida de “sensores e sistemas de comunicação, pode navegar com precisão sobre áreas críticas e regressar autonomamente a um ponto definido no solo, onde o sistema pode ser recolhido e relançado”. Ao juntar “a autonomia e o alcance do balão com a mobilidade e reutilização da aeronave”, o resultado é “uma abordagem inovadora, eficiente e de baixo custo no combate aos incêndios”.

Francisco Gomes da Silva, Agro.Ges

Lei de fomento florestal

A falta de investimento em floresta autóctone “focada na conservação de valores naturais” prejudica de forma clara a gestão dos recursos florestais, pelo que Francisco Gomes da Silva considera que a ideia mais transformadora que atualmente se pode aplicar à floresta é uma “lei de fomento florestal” que se foque “nas áreas de floresta abandonada (não gerida) de pinheiro-bravo e de eucalipto” e baseado num “apoio público (PAC, Fundo Ambiental, Fundos da Coesão, …) com valores entre os €1000 (se não houver necessidade de rearborização) e €2000 (se for necessária rearborização) por cada hectare de floresta de pinho ou de eucalipto devolvida à gestão ativa, com obrigatoriedade de certificar a sua gestão visando garantir a sua sustentabilidade”. Sem esquecer que “esta devolução à gestão ativa pode implicar, ou não, a relocalização do povoamento para áreas mais adequadas”. Por outro lado, “este apoio fica condicionado à obrigatoriedade de, cada promotor, plantar uma área adicional com espécies autóctones, em povoamentos destinados à conservação dos recursos naturais (exemplo: para 1 hectare de floresta de produção plantar 0,5 hectares de floresta de conservação), também com obrigação de certificação da respetiva gestão”. Segundo o responsável, “esta iniciativa deveria representar um esforço nacional, com base num programa com duração de 8 anos (duas legislaturas)” e que garante “a intervenção em pelo menos 600 mil hectares de área de floresta abandonada (60 mil hectares por ano)” e a ‘construção’ de 900 mil hectares de nova floresta”.

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