[Fonte: INE] Numa campanha marcada pelas condições climatéricas desfavoráveis, produção recorde de laranja e produção de azeite superior a 1 milhão de hectolitros foram exceções no ano agrícola 2017/18 – 2018
A campanha agrícola 2017/2018, marcada pelo decréscimo das principais superfícies agrícolas cultivadas com culturas temporárias e por quebras generalizadas das produções, saldou-se por um crescimento nominal da Produção do ramo agrícola, consequência de um aumento de 2,1% dos preços base.
Destaque ainda assim para a produção de laranja que atingiu o nível mais elevado desde 1986 e, pelo segundo ano consecutivo, para a produção de azeite acima de 1 milhão de hectolitros.
O Défice da balança comercial dos “Produtos agrícolas e agroalimentares (exceto bebidas)” agravou-se nesta campanha, ascendendo a 3 705,8 milhões de euros.
Decréscimo das superfícies das principais culturas temporárias
Este cenário climatérico dificultou a instalação das culturas, quer de outono/inverno, quer de primavera/verão, com consequências na diminuição das áreas cultivadas. A área de cereais de inverno não ultrapassou os 117 mil hectares, a mais baixa desde que há registos sistemáticos, enquanto a de milho para grão (83,4 mil hectares) decresceu pelo 4º ano consecutivo. Registaram-se ainda decréscimos nas áreas de batata (-12,4%), hortícolas (-2,8%) e culturas industriais, nomeadamente no tomate para a indústria, devido a problemas fitossanitários ocorridos na campanha anterior, e no girassol, resultado da descida do preço pago pela indústria.
Volumes de produção agrícolas alcançados: 5,8 milhões de toneladas de culturas agrícolas e produção de carne e ovos, 1,1 milhões de hectolitros de azeite, 5,9 milhões de hectolitros de vinho, 19,8 milhões de hectolitros de leite
A campanha 2017/2018 saldou-se por uma produção de 5,8 milhões de toneladas de culturas agrícolas e produção de carne e ovos (6,4 milhões de toneladas em 2017), 1,1 milhões de hectolitros de azeite (1,5 milhões de hectolitros em 2017), 5,9 milhões de hectolitros de vinho (6,6 milhões de hectolitros em 2017) e 19,8 milhões de hectolitros de leite (19,0 milhões de hectolitros de leite em 2017).
O tomate para a indústria gerou em 2018 uma produção de 1,2 milhões de toneladas (1,7 milhões de toneladas em 2017), contribuindo com 21,1% do volume total de produção (25,6% em 2017). A produtividade alcançada em 2018 foi semelhante mas o acentuado decréscimo da área levou à redução da produção.
A produção de carnes, com um nível de produção próximo ao apurado em 2017, contribuiu com 15,4% do volume de produção total (13,8% em 2017), registando-se aumentos nas produções de carne bovina (+3,1%, correspondente a 94 mil toneladas) e suína (+1,4% com 383 mil toneladas) e decréscimo da produção de carnes de ovino e caprino (- 0,2% para uma produção total de 16,9 mil toneladas) e aves de capoeira (-1,7%, correspondente a uma produção total de 382 mil toneladas). O acréscimo de produção da carne bovino deveu-se, por um lado ao período de seca que obrigou os produtores, por falta de alimento para os animais nas pastagens, a encaminhar para abate os bovinos adultos (novilhas e vacas) e por outro à conjuntura do resgate promovido pelas cooperativas leiteiras para compensação dos produtores de leite que estivessem dispostos a abandonar a produção, o que determinou a um maior abate de animais de aptidão leiteira. O aumento da produção de carne de suíno beneficiou de um aumento do efetivo no final de 2017, do aumento do peso médio ao abate dos porcos de engorda e da diminuição do efeito de sazonalidade no abate de suínos com os turistas que, ao passarem a visitar o país durante todo o ano, atenuaram as quebras habituais de consumo no período da quaresma e no período pós-férias/regresso às aulas. A diminuição da produção de aves de capoeira deveu-se sobretudo à redução da produção de frango (-3,6%) devido à quebra significativa da importação de pintos do dia (-78%).
O volume de produção de hortícolas em 2018, aproximadamente 896 mil toneladas (936 mil toneladas em 2017), representou 15,4% do volume total de produção (14,5% em 2017).
A produção de 874,5 mil toneladas de cereais de primavera/verão (milho e arroz), que compara com 924,9 mil toneladas em 2017, representou 15,1% do total da produção de 2018 (14,4% em 2017). A ocorrência de fenómenos extremos de vento e precipitação, associados à tempestade Leslie, foi uma das causas para o decréscimo de produção para além do decréscimo de área em resultado da instalação tardia das sementeiras.
As 576 mil toneladas de frutos frescos (683 mil toneladas em 2017), representaram 9,9% do volume total de produção em 2018 (10,6% em 2017). A produção de pomóideas (peras e maçãs) baixou quase 20% em relação a 2017, devido a condições climatéricas desfavoráveis na fase de floração/vingamento dos frutos, agravada pelas precipitações intensas sob a forma de granizo e pela onda de calor do início de agosto. Nas prunóideas, a produção de pêssego beneficiou de condições meteorológicas muito favoráveis na fase de floração/vingamento dos frutos e registou um aumento de produção que se situou 11,5% acima da média do último quinquénio. A produção de cereja baixou, sobretudo devido às más produções do interior norte.
Os pomares de citrinos tiveram em 2018 uma produção de 403 mil toneladas (374 mil toneladas em 2017), o que representou 6,9% do volume total de produção (5,8% em 2017). A entrada em produção de novos pomares contribuiu para este incremento, com a produção de laranja a atingir o nível mais elevado desde 1986.
Em 2018 foi produzido 1,1 milhões de hectolitros de azeite (1,5 milhões de hectolitros em 2017). Não obstante o decréscimo verificado face à campanha precedente, a ocorrência de duas campanhas consecutivas com produções acima de 1 milhão de hectolitros é uma situação pouco comum. Analisando os cem anos de dados estatísticos, esta ocorrência apenas se tinha verificado nos anos de 1956 e 1957.
As vindimas de 2018 geraram uma produção vinícola de 5,9 milhões de hectolitros (6,6 milhões de hectolitros em 2017), reflexo do decréscimo de produção em quase todas as regiões vitivinícolas (Alentejo e Algarve foram exceções).
A produção global de leites em 2018 totalizou 19,8 milhões de hectolitros (19,0 milhões de hectolitros em 2017). O acréscimo de produção foi essencialmente suportado pelo aumento da produção de leite de vaca na Região Autónoma dos Açores, uma vez que no Continente a necessidade de ajustar a produção aos níveis contratualizados levou a uma produção ligeiramente inferior à apurada no ano precedente.
Produção do Ramo Agrícola cresce em termos reais devido ao aumento dos preços base
Nesta campanha agrícola marcada pela diminuição de áreas das culturas temporárias e pela redução das produções de diversos produtos agrícolas, a segunda estimativa das Contas Económicas da Agricultura (CEA) para 2018, elaborada com dados disponíveis até 31 janeiro 2019, aponta ainda assim para um crescimento nominal da Produção do ramo agrícola, consequência de um aumento de 2,1% dos preços base, que mais do que compensou o decréscimo de 1,7% em volume. Uma vez que o consumo intermédio (CI) baixou 0,3%, o Valor Acrescentado Bruto (VAB) da atividade agrícola aumentou 1,3% em termos reais. O crescimento nominal do VAB conjugado com o aumento verificado nos Outros subsídios à produção (+3,0%), determinaram um acréscimo do Rendimento da atividade agrícola, por Unidade de Trabalho Ano (UTA) de 0,2% em termos reais.
Défice da balança comercial dos “Produtos agrícolas e agroalimentares (exceto bebidas)” agrava-se e atinge os 3 705,8 milhões de euros
Ao longo da campanha agrícola em análise assistiu-se a um aumento da procura interna de diversos produtos agrícolas o que teve reflexos ao nível do grau de autoaprovisionamento. Em 2018 Portugal manteve-se autossuficiente nas produções de leite, ovos, azeite, vinho, arroz e tomate para indústria e deficitário nos restantes produtos agrícolas, nomeadamente nas carnes, frutos, cereais exceto arroz, batata, leguminosas secas, sementes e frutos de oleaginosas exceto azeitona e gorduras e óleos vegetais exceto azeite.
Esta conjuntura teve reflexo no saldo da balança comercial dos “Produtos agrícolas e agroalimentares (exceto bebidas)” cujo défice aumentou, face a 2017, 80,0 milhões de euros, fixando-se em 3 705,8 milhões de euros. Esta evolução desfavorável deveu-se ao aumento das importações (+261,9 milhões de euros) ter sido superior ao acréscimo das exportações (+181,8 milhões de euros).
Abaixo apresentam-se as previsões agrícolas para as estatísticas da produção vegetal e as principais tendências para as estatísticas da produção animal por comparação com o período homólogo.
Previsões agrícolas para a Produção Vegetal: 30 de junho de 2019
As previsões agrícolas, em 30 de junho, apontam para uma diminuição generalizada nos rendimentos unitários dos cereais de outono/inverno, em resultado das elevadas temperaturas e escassa precipitação de março. Estimam-se diminuições de 10% no trigo e cevada e de 15% no triticale e aveia. Quanto às culturas de primavera/verão, prevê-se a manutenção da tendência de redução das últimas campanhas para a área de milho, com menos 4 mil hectares semeados. No arroz e na batata, antecipam-se aumentos de 5% na produtividade, enquanto no tomate para a indústria e no girassol deverá registar-se uma manutenção dos resultados alcançados na campanha anterior.
Nos pomares prevêem-se aumentos de produção nas prunóideas, em particular nos pessegueiros (+10%) e nas cerejeiras (que regressa a uma produção próxima das 19 mil toneladas). Nas pomóideas, as macieiras também deverão aumentar a produtividade (+20%), em particular no interior Norte, ao passo que nas pereiras, em consequência de vingamentos irregulares, esperam-se diminuições de 10%.
Principais tendências das estatísticas da produção animal (comparação homóloga de janeiro a maio)
Abates aprovados para consumo
O volume de abate de gado apresenta um aumento global de 1,2%, resultante do acréscimo registado nos suínos (+2,3%), ovinos (+6,2%) e caprinos (+8,7%). Pelo contrário, o volume de bovinos abatidos apresenta de momento um decréscimo de 3,9%, bem como o dos equídeos (-4,3%). O volume total de aves e coelhos abatidos regista um decréscimo de 0,7%, devido a um menor volume de abate de galináceos (-1,6%), que inclui o frango (-0,9%), e também de patos (-6,4%) e codornizes (-9,4%). Já o volume de perus e coelhos abatidos apresenta aumentos de 6,9% e 2,8%, respetivamente.
Aves e ovos
O número de aves do dia indica de momento uma subida de 0,9% e a produção de frango para abate um volume superior em 4,2%. A produção de ovos de galinha para consumo apresenta um incremento de 2,1% em relação ao período homólogo de 2018, enquanto o volume de ovos para incubação regista um decréscimo de 2,8%.
Leite de vaca e produtos lácteos
Em 2019 a recolha de leite de vaca apresenta, para o acumulado em análise, um decréscimo de 2,2% em relação a 2018. Igual tendência se verifica relativamente ao total de produtos lácteos (-4,6%), com volumes inferiores para os lacticínios frescos, caso do leite para consumo (-5,6%), da nata (-10,3%) e dos leites acidificados (-1,5%), bem como para a manteiga (-8,3%). Pelo contrário, o leite em pó e o queijo de vaca registam aumentos de produção de 1,2% e 3,6%,respetivamente.