No ano passado, a Guarda Nacional Republicana deteve 36 pessoas por incêndio florestal. De acordo com os dados provisórios a que o PÚBLICO teve acesso, até ao dia 18 de Junho deste ano, foram detidas 22 pessoas. Segundo a GNR, “em período homólogo, no ano de 2024, foram detidas 19 pessoas”.
Também em 2024, até 18 de Junho, a GNR identificou 184 suspeitos por fogo posto. No período homólogo de 2025, houve um aumento expressivo, uma vez que o número total de suspeitos aumentou cerca de 56%, para 287 pessoas.
Em 2024, o fogo posto foi das principais causas dos incêndios. Dos 3181 incêndios rurais que foram investigados e dos quais foram excluídos os reacendimentos, 42% foram atiçados por incendiarismo. Tal como o PÚBLICO noticiou, estes mesmos incêndios foram responsáveis por 84% da área ardida (cerca de 85 mil hectares de terreno).
Segundo o relatório de actividades do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais de 2024, “ao contrário do que vinha acontecendo desde 2018, o incendiarismo destacou-se como o principal responsável pela área ardida” em 2024. Ainda assim, foi o ano em que se registou o menor número de incêndios desde que há registo.
Os 6267 incêndios registados no ano passado provocaram ainda 16 vítimas mortais, das quais, nove operacionais, destruíram e danificaram indústrias e resultaram na queima de 137 mil hectares (uma área ardida quatro vezes superior à do ano anterior). A par dos 36 indivíduos detidos pela GNR, foram identificados ainda 551 outros indivíduos suspeitos do mesmo crime. Note-se ainda que 92% da área ardida foi registada em Setembro.
O período de limpeza de terrenos terminou a 15 de Junho, depois de ser prolongado duas vezes consecutivas a pedido de associações ligadas ao sector. Quando questionada sobre o número de terrenos sinalizados aquando do fim do período de limpeza, a GNR afirmou que o número “[se] mantém inalterado”, permanecendo aquele que o PÚBLICO avançou no final do mês de Maio.
Recorde-se que entre o dia 16 de Fevereiro e 30 de Abril de 2025, a GNR sinalizou 10.417 terrenos que poderão vir a estar em infracção por falta de gestão de combustível. Foi nos distritos de Leiria e Bragança onde foram detectados mais terrenos por limpar. Évora e Portalegre foram os distritos com menos propriedades sinalizadas.
Também em Maio, foi apresentado um relatório europeu, em Bruxelas, que alertava para um “aumento da mortalidade” em Portugal associada aos incêndios florestais. “Os impactos crónicos na saúde, embora menos frequentemente estudados, são significativos. Por exemplo, a exposição a longo prazo às partículas em suspensão provenientes de incêndios florestais tem sido associada ao aumento da mortalidade em Portugal, onde entre 31 e 189 mortes foram atribuídas ao fumo de incêndios florestais entre 2015 e 2018”, refere o relatório do Conselho Consultivo Científico das Academias Europeias (EASAC), elaborado por 23 especialistas da União Europeia (UE)
O relatório, intitulado Incêndios Florestais em Mutação. Opções de política para uma Europa com literacia e adaptação aos incêndios, chama também a atenção para as consequências psicológicas dos fogos rurais, que são “cada vez mais reconhecidas”, refere-se. “A perturbação de stress pós-traumático, a depressão e a ansiedade foram documentadas em populações adultas e pediátricas na sequência de incêndios florestais, com efeitos que persistem durante anos”.