A COP29 – Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, a decorrer em Baku, Azerbaijão, até 22 de novembro, é um dos encontros mais importantes, com dirigentes de todos os países do mundo em contrarrelógio para chegar a um acordo que consiga reverter a tempo a crise climática. Mas, após 28 cimeiras já realizadas, desde 1995, as emissões de gases com efeito de estufa continuam a aumentar.
O ano passado foi o mais quente já registado e 2024 vai a caminho de ser o primeiro a ultrapassar +1,5 ºC face à era pré-industrial.
As promessas continuam por cumprir, levantando dúvidas sobre a capacidade de os governos atingirem a neutralidade carbónica até 2050. Diante de um cenário desanimador, porém, três países, em pontos distintos do Planeta, estão a mostrar que é possível descarbonizar a economia e ir até mais longe. O Butão, o Suriname e o Panamá são os primeiros países – e até agora os únicos – negativos em carbono.
Não será exagero repetir que, mais do que serem neutros, estes três países são negativos em carbono. Significa isto que as suas remoções de CO2 são superiores às emissões lançadas para a atmosfera. E quando isso acontece não é apenas a contribuição para as alterações climáticas que é interrompida. É também um novo ciclo que se inicia com um contributo ativo para reduzir o aquecimento.
As florestas e a energia do Butão
O Butão, encaixado entre a China e a Índia, não fez qualquer promessa para atingir a negatividade carbónica. Nem precisa. As suas florestas absorvem nove milhões de toneladas de CO2, mais do dobro das 4,4 milhões emitidas por ano. Boa parte deste desempenho deve-se ao compromisso declarado na Constituição para manter, pelo menos, 60% do território ocupado com florestas. A fasquia, no entanto, já foi ultrapassada, atingindo atualmente os 72%.
A principal fonte de eletricidade do país é a energia hidroelétrica renovável, cuja produção é inclusive exportada para países vizinhos, contribuindo para compensar ainda mais as suas emissões anuais de carbono. O objetivo, porém, é aumentar a quota de fontes energéticas renováveis como a eólica, o biogás e a fotovoltaica, que no seu conjunto deverão ultrapassar os 50% em 2030.
A caminhada do Suriname e do Panamá
As árvores são também o principal trunfo do Suriname. Cerca de 93% das suas terras estão cobertas por exuberantes florestas tropicais, resultando em níveis mais elevados de absorção do que de emissão de gases com efeito de estufa. O governo trabalha ainda com comunidades indígenas para estabelecer reservas e parques com milhões de hectares.
Abençoado com a Amazónia, o país, localizado na costa nordeste da América do Sul, tem a maior área florestal do mundo.
E aliás, é um dos grandes sugadouros de carbono líquido. As florestas são como poderosos aspiradores, eliminando as suas próprias emissões, mas também a de outros países.
Suriname comprometeu-se ainda a manter a sua quota de eletricidade oriunda de fontes renováveis acima dos 35% até 2030, data a partir do qual irá subir gradualmente a sua fasquia. Os projetos atuais para melhorar o desempenho climático incluem a renovação das frotas de transportes públicos e o desenvolvimento de uma agricultura inteligente, com a gestão sustentável dos solos e dos recursos hídricos.
O Panamá, por seu turno, conta florestas que se estendem por 65% do território. O objetivo é ampliar a sua extensão florestal, acrescentado mais 50 mil hectares até 2050. Entretanto, já conseguiu concluir, no final de 2023, o plano de eliminação progressiva de combustíveis pesados e de carvão, com o sol, o vento e a água a gerar 100% da sua eletricidade. Produzir energia limpa, incorporando gradualmente o etanol nos seus combustíveis fósseis faz igualmente parte do seu programa de descarbonização da economia.
Nesse processo, a pegada de carbono do Canal do Panamá já é monitorizada desde 2013 com o intuito de se tornar neutro até 2030.
Há outros países que, pelo baixo nível de industrialização, nunca comprometeram o seu equilíbrio entre as emissões produzidas e absorvidas. São, portanto, negativos em carbono, mas estão também entre os mais pobres do mundo, como é o caso de Comores ou de Madagáscar, na África Oriental, do Gabão, na Bacia do Congo, do arquipélago Niue, no Sul do Pacífico, ou da Guiana, na América do Sul.
O desafio das grandes economias
Os estados mais desenvolvidos é que são decisivos e um pequeno número de países ricos está a agora a dar os primeiros passos. Em fevereiro deste ano, a Alemanha foi a primeira grande economia a anunciar que pretende introduzir uma meta para atingir as emissões líquidas negativas de gases com efeito de estufa até 2060.
Ainda antes, em 2022, a Dinamarca já se tinha comprometido a cortar nas emissões de gases com efeito de estufa em 110% até 2050, alcançando emissões líquidas negativas. Mas é a Finlândia que ambiciona ser o primeiro dos países mais industrializados a atingir o mesmo resultado. Nesse mesmo ano, anunciou que pretende chegar às emissões líquidas zero de gases com efeito de estufa até 2035 e às emissões líquidas negativas até 2040.
Foi, no entanto, a vizinha Suécia o primeiro país deste grupo a estabelecer, em 2017, uma meta para as suas emissões líquidas negativas, que deve ser cumprida logo após o ano 2045.
Um passo importante foi dado, entretanto, no Dubai, durante a COP28, em dezembro de 2023. A Dinamarca criou o Grupo de Emissores Negativos, uma aliança de países que já atingiram ou pretendem atingir emissões líquidas negativas. Além da Dinamarca, Finlândia e Panamá fizeram questão de inaugurar este movimento. Resta agora esperar pelo fim da cimeira das Nações Unidas, em Azerbaijão, para ver quantos mais se vão juntar ao clube.