Um estudo da Universidade de Nebraska-Lincoln, nos Estados Unidos da América, e dos seus parceiros de pesquisa no Brasil identificou um caminho que permitira ao Brasil aumentar a sua produção ao mesmo tempo que salvaguarda a floresta. Os investigadores consideram que as recomendações podem ser aplicadas noutros países em desenvolvimento em desafios semelhantes.
Em comunicado, a universidade lembra que o aumento da produção agrícola é uma prioridade nacional para o Brasil, o maior exportador mundial de soja. Entre 2015 e 2019, a bacia amazónica representou um terço do terreno convertido para a expansão da soja brasileira.
O estudo antecipa que se a tendência atual se mantiver, o Brasil vai converter cerca de 23 milhões de hectares (57 milhões de acres) em produção de soja nos próximos anos, com cerca de um quarto da expansão a ocorrer em territórios ambientalmente frágeis como floresta tropical e savanas. No entanto, a proibição da expansão das terras agrícolas custaria ao Brasil cerca de 447 mil milhões de dólares em oportunidades económicas perdidas até 2035.
O estudo considera que, com uma estratégia cuidadosamente gerida para intensificar a produção de hectares existentes, o país poderia aumentar a sua produção anual de soja em 36% até 2035, reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa em 58% em comparação com as tendências atuais.
Os autores do estudo descrevem uma estratégia de ‘intensificação’ em três vertentes que exige:
- Aumentar significativamente o rendimento da colheita da soja;
- Cultivar uma segunda colheita de milho em campos de soja em certas áreas;
- Criar mais gado em pastagens menores para libertar mais terra para soja.
Os climas tropicais e subtropicais do Brasil possibilitam o cultivo de duas culturas no mesmo terreno durante a época de cultivo na maioria das regiões, disse o principal autor do estudo Patricio Grassini.
“O nosso estudo mostra que há uma grande oportunidade para o Brasil aumentar os sistemas de produção de gado e, ao fazê-lo, libertar parte da área atualmente utilizada para a produção pecuária e usar esse terreno para produzir mais soja”.
Para determinar quanto rendimento poderia ser melhorado em terrenos agrícolas brasileiros existentes, os cientistas examinaram a produção de soja em quatro regiões-chave: a Pampa e as regiões da Floresta Atlântica ao longo da costa atlântica, onde o cultivo de soja está em curso há cerca de 50 anos, e a Amazónia e as regiões do Cerrado no interior do Brasil, onde a produção de soja começou após a viragem do século XXI.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.