Uma investigação, divulgada pela American Chemical Society, desenvolveu um método para engarrafar os “odores do medo” produzidos pelos predadores para repelir insetos destrutivos, de forma a proteger as culturas agrícolas e dos jardins sem a utilização de substâncias mais agressivas.
“Não é incomum usar os nossos sentidos para evitar situações de risco. Se um edifício estivesse em chamas, nós, como seres humanos, poderíamos usar os nossos sentidos de visão ou cheiro para detetar a ameaça”, disse a principal investigadora do projeto, Sara Hermann. “Há evidências de tais respostas comportamentais ao risco através de táxones [unidade de medida que classifica espécies] que sugerem que os organismos de presas podem detetar ameaças de predadores, mas os mecanismos de deteção não são muito bem compreendidos, especialmente com insetos”, explica.
Já outra das investigadoras, Jessica Kansman, afirma que “os insetos confiam em pistas olfativas para encontrar comida, companheiros e lugares para viver, por isso esta é uma grande oportunidade para investigar como usar estes cheiros para manipular o seu comportamento”.
Os afídeos são uma praga altamente destrutiva para uma variedade de culturas, e o seu grande número, a capacidade de transmitir agentes patogénicos vegetais e o aumento da resistência aos inseticidas fazem deles um problema persistente para os agricultores. Eles também são a refeição favorita da joaninha.
O estudo demonstrou que os afídeos e outros insetos herbívoros se afastam de culturas agrícolas e jardins se conseguirem cheirar predadores nas proximidades. A exposição aos odores emitidos pelas joaninhas também pode fazer com que os afídeos abrandem as suas taxas de reprodução e aumentam a capacidade de crescimento das asas, comportamentos concebidos para evitar ameaças. A equipa de investigação tentou determinar se os odores das joaninhas poderiam, por si só, controlar pragas.
Metodologia
O primeiro passo foi identificar e extrair o perfil volátil do odor de joaninhas vivas usando cromatografia gasosa – um processo que separa e permite identificar os componentes individuais do cheiro das joaninhas. Depois, para analisar a resposta dos afídeos, expuseram-nos a cada odor individual que o predador emitia para ver que compostos detetaram.
Dos muitos compostos emitidos por joaninhas, os afídeos tiveram a resposta mais forte às metoxipirazinas, tais como a isopropyl methoxypyrazine, isobutyl methoxypyrazine e a sec-butyl methoxypyrazine. Uma vez identificados os compostos, os investigadores criaram uma mistura especial de odores que pode ser usada num difusor de aromas.
Futuramente, a equipa de investigação planeia realizar testes em campo para ver se os efeitos nos afídeos e nas joaninhas são semelhantes ao observados no laboratório. Os investigadores também querem determinar a área de dispersão dos difusores, e se podem ser aplicadas a outras pragas e predadores, bem como a vários tipos de culturas.
Atualmente, estão a colaborar com uma empresa para conceber difusores especiais para uma eventual utilização comercial por agricultores e jardineiros.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.