Estudo publicado na revista Nature Goescience sugere que, em termos globais, o incremento da florestação na Europa poderá promover a precipitação durante o verão, contribuindo para minorar o risco de seca, que tem aumentado devido aos efeitos das alterações climáticas.
Estudos de modelação efetuados em diversas partes do mundo têm demonstrado que o tipo de uso que fazemos da terra – floresta, matos, pastagens ou agricultura – afeta o clima, ao alterar o balanço hídrico, térmico e biogeofísico da superfície terrestre. Um dos mais recentes (julho 2021), intitulado “Empirical estimate of forestation-induced precipitation changes in Europe”, sugere que a florestação na Europa pode favorecer a queda de chuva durante o verão, minorando o risco de seca nesta estação. O trabalho foi desenvolvido à escala continental e reforça a ideia de que as estratégias de adaptação e mitigação aos efeitos das alterações climáticas devem ter em conta este tipo de estudos.
O desenvolvimento deste tipo de trabalho é complexo, quer pela dificuldade de condicionar o uso da terra (floresta, matos ou agricultura) e estabelecer uma cobertura homogénea a uma escala representativa, quer porque, quando se analisa determinada área, é frequente que os efeitos (precipitação) sejam observados noutros locais, devido à topografia e ao movimento das nuvens, associado aos ventos.
Neste caso, os autores aproveitaram o incremento de cerca de 20% de florestação na Europa, nomeadamente os ocorridos em determinadas regiões do norte e centro europeu, entre 1900 e 1990, para recolher dados (regiões que serviram de pontos de amostragem no mapa abaixo). Aplicaram depois duas metodologias estatísticas independentes à escala continental e comprovaram que o tipo de uso do solo influenciou a precipitação no continente europeu.
Em termos globais, os resultados sugerem que a florestação de terras agrícolas na Europa poderia promover um aumento de precipitação no verão, em várias regiões. Ou seja, a florestação poderia contribuir para minorar o risco de seca, que tem aumentado devido às alterações climáticas.
Possíveis explicações para este fenómeno estão relacionadas com o efeito da estrutura física das árvores nos movimentos das massas de ar e com o facto de as árvores promoverem mais evapotranspiração do que outras formas de cobertura de solo. Acresce que o efeito regulador da floresta nos extremos de temperatura do solo, tanto no inverno como no verão, também foi correlacionado com a precipitação.
Importa destacar que os resultados são variáveis de acordo com a região Europeia (continental, interior, norte e sul) e com a estação do ano, e que as alterações da temperatura média global podem modificar estas previsões.
Como em todos os trabalhos de I&D, o modelo do estudo tem alguns pressupostos, que restringem a extrapolação dos resultados. Por exemplo, a menor disponibilidade de dados no sul de Europa impõe maior incerteza nas previsões nessa região.
Refira-se que o estudo “Empirical estimate of forestation-induced precipitation changes in Europe” foi desenvolvido por uma equipa do Instituto de Ciências Climáticas e Atmosféricas de Zurique, em colaboração com um investigador da Universidade de Newcastle, no Reino Unido.
O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.