Alguns membros da comissão de agricultura do Parlamento Europeu apelaram a maiores esforços para apoiar a saúde mental dos agricultores europeus, face ao aumento da pressão económica no setor.
De acordo com o portal Euractiv, o diretor do International Centre for Advanced Agronomic Studies (CIHEAM), Alun Jones, citando um relatório recente, declarou que a agricultura é uma “profissão sob stresse”.
Durante a reunião da comissão AGRI, o responsável notou ainda que “a realidade do setor é que os nossos agricultores estão a trabalhar arduamente para trazer os nossos alimentos e estão muitas vezes a colocar as suas vidas em risco para o fazer”. Alun Jones denuncia também que a falta de dados dos estados-membros continua a esconder toda a extensão do problema.
O relatório, encomendado pela Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho, classifica o bem-estar psicológico como um risco de topo para os agricultores, devido a uma combinação de fatores de stresse, como as alterações climáticas, a burocracia e o isolamento.
Face a este panorama, o diretor CIHEAM alertou para o facto de os agricultores possuírem das mais altas taxas de suicídio. Por exemplo, na França, as taxas na comunidade agrícola são 20% superiores à média nacional. Um agricultor francês suicida-se de dois em dois dias, de acordo com um inquérito realizado pela agência nacional de saúde pública francesa.
Classificando as elevadas taxas de suicídio no setor como “verdadeiramente preocupantes”, o eurodeputado Martin Häusling apelou a uma ação concertada sobre a saúde mental. “Temos de ter isso em conta e temos de garantir que prestamos ajuda aos agricultores o mais rapidamente possível”, sublinhou.
O eurodeputado considera que os fundos comunitários devem ser redistribuídos de forma a diminuir a pressão nos pequenos agricultores. “A principal causa do suicídio são os problemas económicos, por isso devemos pensar na forma como distribuímos a assistência financeira”, declarou.
Uma possível ajuda
A redistribuição poderia ser possível através, por exemplo, da condicionalidade social, o que permitiria que os subsídios da PAC ficassem condicionados aos agricultores que defendem os padrões laborais.
Em 2020, o Parlamento Europeu votou uma série de alterações à PAC, em que estavam incluídas referências obrigatórias à condicionalidade social. No entanto, a questão causou controvérsia entre os Estados-membros.
A chefe de unidade para a sustentabilidade social da DG AGRI da Comissão Europeia, Margaret Bateson, classificou a inclusão da condicionalidade social na PAC como um “passo histórico”, revelando aos eurodeputados que o executivo da UE já está a tentar basear-se no conceito na próxima reforma da PAC para incluir um leque mais alargado de trabalhadores agrícolas.
No entanto, a responsável notou que apenas quatro estados-membros – Austria, França, Luxemburgo e Itália – já optaram por implementar essa condição até 2023. Prevê-se que Portugal e Espanha façam a sua implementação em 2024.
“Será um desafio aumentar a aplicação da lei ou melhorar a aplicação [desta questão]”, alertou.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.