A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) elogiou hoje a “liderança” de Cabo Verde na agricultura com escassez de água, notando que isso tem contribuído para a melhoria da segurança alimentar no país.
“Em toda a África, Cabo Verde tem uma liderança em termos de agricultura em contexto de escassez de água, uma liderança que está a ser construída há muitos anos”, frisou a representante da FAO no país, Ana Touza, em declarações aos jornalistas, no âmbito do II Fórum Internacional sobre Escassez de Água na Agricultura (WASAG), que arrancou hoje na cidade da Praia.
Segundo a responsável, essa liderança do país tem sido em termos de irrigação gota a gota, mas outra inovação é o uso da água dessalinizada, num projeto que arrancou na segunda-feira em São Domingos, ilha de Santiago, com apoio da Hungria.
“E também utilização de águas residuais. Tudo isso são inovações”, frisou a também coordenadora residente interina do Sistema das Nações Unidas em Cabo Verde, para quem a quantidade de hortícolas e frutas nos mercados do país é o resultado de todo esse trabalho dos camponeses, produtores, o Governo, setor privado e parceiros internacionais.
O impacto é na qualidade da nutrição, na disponibilização de alimentos na mesa dos cabo-verdianos, prosseguiu a responsável, que considera que o fórum, que vai discutir como fornecer água de melhor qualidade e melhor agricultura, “tem tudo a ver” com a segurança alimentar.
Considerando que Cabo Verde tem uma boa política em termos de gestão da água e combate à seca, a representante da FAO garantiu, porém, que o país não está sozinho, e que os parceiros internacionais estão dispostos a continuar a ajudar nessa caminhada.
“Cabo Verde já ganhou papel de liderança, já está na primeira linha de discussão desse tema, não só da discussão e também da implementação das boas práticas que tem para mostrar e tem uma liderança em termos do uso eficiente da água”, concluiu.
Sob o lema “Tornar a agricultura resiliente às mudanças climáticas, escassez de água, uma oportunidade de ação e colaboração”, o II Fórum Internacional WASAG vai decorrer até sexta-feira, com mais de 2.200 participantes, incluindo os que estão a assistir online, de mais de 80 países.
Agricultura biossalina, sistemas de irrigação pressurizada, água e migração, agricultor inclusivo, seca, inovação, tecnologia, dados, ciência, água e nutrição são alguns dos muitos temas que vão ser discutidos durante os quatro dias de trabalho.
O evento visa, entre outros, mobilizar compromissos políticos para acelerar as ações estratégicas, incluindo as políticas públicas e investimentos necessários para enfrentar a escassez de água na agricultura, formular mensagens assertivas sobre a escassez de água na agricultura nos principais eventos internacionais.
Também pretende proporcionar espaços de reflexões e contribuições para a avaliação a meio percurso do estágio de implementação dos Objetivos da Década Internacional para a Ação (2018–2028), na Conferência Mundial sobre a Água das Nações Unidas, em março de 2023, e discutir as formas de tornar mais efetiva e impactante as parcerias para a implementação da nova Estratégia de Ação do WASAG no período 2021–2024.
O Quadro Global sobre a Escassez de Água na Agricultura (WASAG, na sigla em inglês) foi criado em 2017 pela FAO e reúne mais de 60 parceiros, incluindo governos e organizações intergovernamentais, agências da ONU, instituições académicas e de pesquisa, e organizações da sociedade civil e do setor privado de todo o mundo.