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Fauna auxiliar na cultura da Bananeira na RAM

A agricultura é uma atividade com grande impacto nos ecossistemas. Com a crescente preocupação com o meio ambiente, têm sido implementadas práticas agrícolas mais sustentáveis, assentes nos princípios da Proteção Integrada.

Este modo de produção procura proteger as culturas contra pragas e doenças, integrando os meios de luta culturais, químicos e biológicos, de forma a causar menos riscos para o homem e para o ambiente, maximizando a economia de recursos.

Com a aplicação dos princípios da Proteção Integrada, verificou-se nos últimos anos uma saída do mercado de um grande número de substâncias ativas, passando a ser necessário um melhor planeamento das práticas agrícolas, com uma gestão mais eficiente dos fatores de produção, em que, na seleção dos meios de luta, a utilização de produtos fitofarmacêuticos é sempre o último recurso.

Assim, é importante pensar em alternativas para o controlo dos problemas fitossanitários e é neste contexto que a utilização de organismos auxiliares para manter em equilíbrio os níveis populacionais das pragas e doenças, é uma opção viável que tem sido muito estudada. Atualmente, já existe um grande número de micro-organismos (fungos e bactérias) e de insetos que sabemos como atuam sobre as pragas e doenças, com vantagens para a proteção do meio ambiente e da saúde de todos os intervenientes na cadeia produtiva.

Os auxiliares podem estar presentes na cultura, mas é necessário avaliar a necessidade de intervenção por não existirem indivíduos suficientes que permitam controlar os níveis populacionais dos problemas fitossanitários. Se os auxiliares, que são importantes para o controlo do nosso problema, não estão presentes no ecossistema, é necessário solicitar às entidades competentes as devidas autorizações para a introdução dos organismos pretendidos.

Na Região Autónoma da Madeira, na cultura da bananeira, podemos encontrar fauna auxiliar que controla algumas das pragas que provocam graves prejuízos na cultura:

Tripes

Os tripes são pequenos insetos, com um aparelho bucal picador-sugador assimétrico, que é utilizado para raspar e picar o alimento. O ciclo de vida desenvolve-se entre 15 a 20 dias, dependendo da temperatura e da humidade. Uma vez que o estágio de pupa ocorre no solo, o controle deste inseto torna-se difícil.

As espécies de tripes – Hercinothrips bicinctus e o Thrips florum – são as que encontramos mais frequentemente na RAM e que provocam mais estragos nos cachos.

Os danos provocados na banana pelos tripes Hercinothrips bicinctus caracterizam-se por manchas cinzentas, com pontuações de cor escura, que são os excrementos das ninfas.

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Os tripes das flores, Tripes florum, são normalmente encontrados nas flores abertas e nas brácteas. Os danos provocados por estes insetos caracterizam-se por pequenas saliências nos frutos recentemente emitidos.

O adulto do Tripe predador – Franklinothrips vespiformis, o coccinelídeo – Stethorus spp, (adulto e larva) são predadores dos tripes presentes na cultura da bananeira, contribuindo para o equilíbrio das populações desta praga.

Ácaros

Os prejuízos provocados pelos ácaros fitófagos como o Tetranychus urticae são facilmente identificados por formarem zonas prateadas nas bananas. A formação de pequenas “teias de aranha” entre os bagos são um bom indicador da presença destes organismos.

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Esta praga desenvolve-se melhor quando a temperatura é alta e a humidade relativa é baixa.

O momento adequado para combater esta praga será no início da primavera quando as populações ainda estão baixas, os adultos começam a sair da hibernação e dão início às posturas no verão, sendo importante vigiar com maior frequência as parcelas durante a primavera e o verão.

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Phytoseiulus persimilis é um acaro voraz e é o predador mais usado para o controlo de ácaros fitófagos como o Tetranychus urticae. É aconselhado introduzir este predador no bananal ao primeiro sinal da presença de ácaros. Alimenta-se de todos os estádios de desenvolvimento dos ácaros, ovos, larvas e adultos.

O ácaro predador Amblyseius (Neoseiuluscalifornicus também se alimenta de ácaros tetraníquidos e deve ser introduzido nas bananeiras quando as populações de Tetranychus urticae são baixas.

Para além dos Ácaros predadores – Phytoseiulus persimilis e Amblyseius californicus – o coccinelíde Stethorus (larva e adulto), também contribuem para o controlo desta praga.

Gorgulho da bananeira – Cosmopolites sordidus

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O gorgulho da bananeira Cosmopolites sordidus, é uma das principais pragas que causa grandes prejuízos na cultura. Devido à atividade noturna dos adultos e à localização das larvas no interior da planta, a sua presença numa plantação pode passar despercebida até atingir níveis de infestação elevados.

As fêmeas põem os ovos na base do pseudotronco (bainha das folhas) e na superfície do rizoma.

As larvas completam o seu ciclo no interior do rizoma e avançam para o exterior quando se vão transformar em pupas. As larvas são as responsáveis pelos prejuízos uma vez que quando se alimentam abrem galerias ao longo do rizoma e na parte inferior do pseudocaule da planta com a sua armadura bocal.

Ainda não foram identificados inimigos naturais na RAM que controlem este inseto, mas, é conhecido que o fungo entomopatogénico Beauveria bassiana controla de forma eficaz esta praga.

A utilização de auxiliares no controle de pragas é uma ferramenta importante para os produtores na proteção das plantas, por apresentarem a vantagem de não terem Limite Máximo de Resíduos (LMR) nem Intervalo de Segurança (IS) e sem impacto na saúde humana e no ambiente.

Créditos das fotos

Fig. 1, 2, 3, 8, 16, 17, 18, 19 – Azevedo, A. J. DRA (2020);

Fig. 4 – Aguiar, A. M. F. (2020). Caderno de Campo Proteção Integrada – Bananeira. DRA (2020);

Fig. 5 – Runqian Mao, Entomology and Nematology Department, University of Florida. Caderno de Campo Proteção Integrada – Bananeira. DRA (2020);

Fig. 6 e 12 – Gilles San Martin, CC BY-SA 2.0. Caderno de Campo Proteção Integrada- Bananeira. DRA (2020);

Fig. 7 e 11 – Sonya Broughton, Department of Agriculture & Food Western Australia, Bugwood.org Caderno de Campo Proteção Integrada – Bananeira. DRA (2020);

Fig. 9 – Castner James L., University of Florida;

Fig. 10 – https://www.entocare.nl/control-agents/mite-control-agents/phytoseiulus-persimilis-low-rh/?lang=en ;

Fig. 13 – https://www.predatormitesbiosystems.com/products/neoseiulus-amblyseius-californicus;

Fig. 14 – https://www.evergreengrowers.com/phytoseiulus-persimilis-in-vermiculite-group-persv.html;

Fig. 15 – https://bugsforbugs.com.au/product/persimilis/;

Fig. 20 – https://bragronegocio.wordpress.com/2015/11/10/os-fungos-no-controle-de-insetos/;

Fig. 21 – https://www.indiamart.com/proddetail/beauveria-bassiana-21650325633.html

Bibliografia consultada

– Azevedo, A. Silveira B. (2018, 14 de agosto). Tripes e ácaros na cultura da bananeira. DICA, em: https://dica.madeira.gov.pt/index.php/producao-vegetal/pragas-e-doencas/2548-tripes-e-acaros-na-cultura-da-bananeira;

– https://www.entocare.nl/control-agents/mite-control-agents/phytoseiulus-persimilis-low-rh/?lang=en

– https://bugsforbugs.com.au/product/persimilis/

Alexandra Azevedo
Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural

O artigo foi publicado originalmente em DICAs.


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