Fazer crescer hortícolas sem terra? Sim, já é possível

Gonçalo Louro, de 23 anos, descobriu a técnica da hidroponia através do pai e, juntos, investiram numa estufa hidropónica de cultivo sustentável, na própria casa, na Covilhã. Em menos de um mês, produzem 19 mil pés de alface.

Este tipo de agricultura inovadora poupa cerca de 80% de água, o cultivo não é apoiado em terra e consegue realizar cerca de 10 a 11 ciclos anuais, enquanto na agricultura convencional só existem dois.

Tudo começou em 2015, no Dominguizo, na Covilhã, quando Jaime Louro, pai do estudante, se encontrava desempregado. Jaime descobriu a técnica de cultivo na Internet, tendo-lhe suscitado curiosidade. Juntos visitaram algumas estufas hidropónicas em Portugal. Pensaram em investir numa estufa de cultivo sustentável, na quinta onde habitam e que tem espaço suficiente.

Na altura, o Governo tinha criado um sistema de apoios ao investimento de jovens agricultores, o Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020), que se revelou um incentivo para o arranque do projeto. “Com o apoio da Consulai, empresa de consultoria nos setores agroalimentar, agrícola e florestal em Portugal, e da Guardario, Associação de Agricultores e Produtores florestais do Rio Zêzere submetemos a nossa proposta a o programa”, revelou Gonçalo Louro.

Contudo, tiveram de esperar três anos pela aprovação, o que fez com que a previsão de custos iniciais aumentasse. Estimavam investir 130 mil euros, mas o preço subiu 15 mil euros, o que os obrigou a despender mais dinheiro do que previam. O PDR 2020 atribuiu cerca de 90% do investimento inicial (130 mil euros), “o restante tive de ser eu a investir”, sublinhou o jovem agricultor.

Gonçalo Louro criou a empresa Quintalouro, Lda, na qual é sócio maioritário, sustentada numa “estufa com uma área coberta de 1100 metros quadrados, com 19 mil pés a cada 28 dias”, sem qualquer contacto com a terra.

Painéis solares e furos

Escolheram o sistema hidropónico Nutrient Film Technique (NTF), uma técnica que consiste levar uma solução com nutrientes necessários para o crescimento das plantas até às raízes. Neste caso, as hortícolas folhosas absorvem os nutrientes. A água enriquecida retorna ao reservatório, onde é filtrada e tratada para ser utilizada novamente no circuito.

“Esta técnica, para nós, é ainda mais sustentável: temos painéis solares e a estufa é maioritariamente elétrica acabando por ser alimentada por energia solar. Também temos furos artesianos, logo, a maior parte da água que usamos é captada do solo”, sublinhou.

Após atingirem o tamanho suficiente, os alimentos são colhidos e preparadas para seguirem para o comércio. Estão a ser vendidos nas grandes superfícies, supermercados e pequenas lojas locais. Toda a produção, desde a plantação ao escoamento, é realizada pelo pai e filho.

No futuro, Gonçalo gostaria de ver a estufa ampliada e plantar novas culturas. Neste momento, quer conseguir escoar todo o produto para o mercado local.

Poupa 80% da água – Quando chega ao final do circuito, a água enriquecida com nutrientes retorna ao reservatório onde é filtrada e tratada para ser utilizada novamente, poupando assim cerca de 80% da água.

Meteorologia – Esta técnica de agricultura não depende de condições meteorológicas. Realiza entre dez a 11 ciclos anuais, enquanto na agricultura convencional apenas existem dois.

Mais saudáveis – Os alimentos que nascem da hidroponia são mais saudáveis porque absorvem apenas os nutrientes que são necessários, não sendo sobrecarregados com pesticidas.

Testes ao solo – Na agricultura de solo, é preciso realizar testes de fertilidade à terra e, caso não seja apta para o cultivo, o solo tem de ser tratado. Já na hidroponia esses custos são inexistentes, porque não existe terra.


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