Publicado em: 19 de Fevereiro, 2025
O Pavilhão de Feiras e Exposições de Serpa recebe de 21 a 23 de fevereiro a XXIV Feira do Queijo do Alentejo, que este ano vai contar com cerca de 170 expositores. Este evento é organizado pelo Município de Serpa, em colaboração com várias entidades, e é uma iniciativa privilegiada para a promoção não só do queijo, mas igualmente dos produtos endógenos e dos saberes tradicionais, constituindo-se como um certame central no incentivo à inovação tecnológica, dinamização do tecido empresarial, aproveitamento sustentável dos recursos e valorização turística do concelho.
Em conversa com a Gazeta Rural, o presidente da Câmara de Serpa espera uma “grande afluência de público ao certame” e lamenta a falta de espaço para albergar mais expositores. João Efigénio Palma diz que a autarquia de Serpa está “a estudar a forma de incentivar a produção de leite de ovelha, bem como a certificação do queijo de Serpa”.
Gazeta Rural (GR): Portugal recebeu, no final de 2024, os óscares do queijo. De que maneira isso se reflete na Feira do Queijo do Alentejo?
João Efigénio Palma (JEP): Julgo que a classificação que os queijos portugueses obtiveram, – e dar aqui nota que os queijos de Serpa ficaram bem posicionados, – vai trazer uma maior afluência de público ao certame e, também, pressão para os expositores estarem presente na Feira do Queijo.
Tem sido um problema, bom, com que nos temos debatido, porque o número de candidaturas é grande e, às vezes, há até alguma revolta por parte daqueles que não conseguem lugar. Temos a dimensão que temos, com as condições que temos e com limitações espaciais que são difíceis de ultrapassar, ou tão rapidamente como as pessoas querem.
Além disso, é bom salientar, nós estamos a falar de uma Feira de Queijo, nomeadamente de Serpa. Compreendemos o interesse de todas as outras atividades em estarem presente, como a charcutaria tradicional, a doçaria ou as tasquinhas, mas também não queremos desvirtuar o ‘móbil’ principal da feira, que é o queijo. Entendemos que deve haver algum equilíbrio, mantendo os princípios e a qualidade da feira. Mas todo este interesse tem reflexo no facto de que, nos últimos três anos, ganharmos o prémio 5 Estrelas do Melhor Produto Regional.
Naturalmente que o prestígio que a Feira do Queijo do Alentejo já alcançou faz com que haja interesse na participação e na possibilidade do negócio. Essa dinâmica que a Feira tem, faz com que haja muitos expositores interessados em participar, o que, de certo modo, nos satisfaz, e isso mostra a razão e a valia da aposta neste evento.
GR: Quantos expositores vão estar presentes na Feira?
JEP: Vamos ter cerca de 170 expositoras, sendo que 60 a 70 são de queijo. Portanto, já há aqui um desequilíbrio para outros setores, embora o queijo continue a ser o produto preferencial e é isso que nós queremos. Vamos ter queijos de todas as regiões do país, de Serpa, de Évora, da Serra da Estrela, Castelo Branco, entre outros. Vamos ter queijos DOP, biológicos e também da nossa vizinha Espanha.
Com tantos expositores, vimo-nos ‘obrigados’ a ‘criar’ um pavilhão novo para conseguirmos dar resposta a tantos pedidos que temos para expositores.
GR: É uma feira de queijos, mas onde também se fala do queijo e da sua produção, com um painel sobre a aplicação da inteligência artificial no setor?
JEP: Isto é um processo que tem vindo a ser desenvolvido pela Associação de Produtores do Queijo de Serpa, com o Instituto Politécnico de Beja (IPB), no sentido de perceber a importância da aplicação da inteligência artificial no fabrico do queijo de Serpa, mas também o recurso das novas tecnologias e a toda esta evolução, mas sempre mantendo aquilo que é a produção de queijo de forma tradicional.
Esse é o projeto que a Associação de Produtores tem vindo a desenvolver com o IPB vai ser apresentado no dia 22 de fevereiro, de maneira que se discuta e se perceba como as novas tecnologias podem ser utilizadas na melhoria da qualidade deste produto, mas que continue, apesar de toda a evolução científica, a ter o cunho de um produto tradicional.
GR: Tenho ouvido algumas críticas a projetos de promoção do queijo, que não apoiam a base, ou seja, os pastores e as queijeiras. Qual é a situação na zona de Serpa?
JEP: É também um dos problemas que aqui temos, porque, como sabemos, sem leite não há queijo. E para o queijo de Serpa, como para o Serra da Estrela, e outros, necessitamos de leite de ovelha das raças autóctones. Esse é um dos grandes problemas que vem surgindo, também no Alentejo, porque grande parte da nossa área está abrangida pelo empreendimento do Alqueva. Com o aparecimento de outras culturas, de alguma forma, diminuiu a área de pastagens, mas também a dureza e exigência que existe na criação de gado ovino de leite, além de toda a disponibilidade dos produtores. A produção de leite é essencial no nosso concelho, nomeadamente na Serra de Serpa, onde os solos
são mais pobres. É uma questão que tem vindo a ser discutida, pois nós queremos que existam estes criadores de ovinos de leite, o mais possível certificados, para podermos continuar a produzir o queijo DOP. Neste sentido, tive recentemente uma reunião com a Associação de Produtores de queijo de Serpa e, sem poder ainda adiantar muito, diria que estamos a estudar a forma de incentivar a produção de leite de ovelha, bem como a certificação do queijo, para continuarmos a ter este produto tão importante para o nosso concelho e para o país.
O artigo foi publicado originalmente em Gazeta Rural.