Floresta em Portugal continental, região a região

Conheça as principais características e particularidades da floresta em Portugal continental, região a região.

A floresta é uma presença transversal e importante de norte a sul do país – representa pelo menos 20% do território em cada uma das regiões Norte, Centro, Alentejo, Algarve e até na Região Metropolitana de Lisboa. No entanto, dadas as características da geografia, do clima e dos solos, assim como da estrutura da propriedade e até da influência histórica e cultural, a floresta em Portugal Continental não é igual de região para região, e as diferenças vão muito além da sua extensão.

Conheça um breve perfil da floresta em Portugal Continental, numa viagem pelas suas cinco grandes regiões, guiada pelos números do IFN6, o 6º Inventário Florestal Nacional, disponibilizado em 2019, pelo ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

Norte: carvalho e castanheiro recuperam, pinheiro e eucalipto dominam

A floresta da região Norte estende-se por perto de 585 mil hectares, mais de 27% deste território. Embora a área florestal tenha aumentado nos últimos anos (13% entre 2005 e 2015, muito pelo crescimento da área de castanheiro, carvalhos e outras folhosas), continua a ser menor do que os registos de 1995, em que rondava os 637 mil hectares.

A mancha florestal é mais significativa em baixas e médias altitudes, com 249,6 mil hectares até aos 400 metros e 211,7 mil hectares entre os 400 a 700 metros de altura.

Com 180 mil hectares em 2015, o pinheiro-bravo (Pinus pinaster) mantém-se como a espécie com maior representatividade e também com maior volume em crescimento. Os povoamentos puros e densos prevalecem, com uma média de 465 árvores por hectare com um diâmetro médio de 20 centímetros. Seguem-se os eucaliptos (Eucalyptus spp.), com 164,1 mil hectares. A ampla presença destas espécies revela o potencial da região para a atividade madeireira e sua transformação.

Em termos de evolução das espécies mais representadas na floresta da região Norte, a área de pinheiro-bravo decresceu e a de eucaliptos aumentou, mas os destaques vão para áreas de carvalhos (Quercus spp.) e castanheiros (Castanea sativa) que, embora menores, registam crescimentos muito expressivos, acima dos 20%. No caso dos castanheiros, este crescimento parece reforçar o interesse pela cultura da castanha, o que é natural, tendo em conta que três das quatro Denominações de Origem Protegida (DOP) deste fruto estão aqui localizadas.

Em termos de dimensão, 225 mil hectares de floresta localizam-se em propriedades entre os 2 e os 10 hectares e perto de 205 mil hectares em zonas mais pequenas, entre 0,5 e os 2 hectares. Não esquecer que a propriedade no Norte, por questões geográficas e históricas, é maioritariamente de pequena dimensão, sendo que mais de metade das propriedades nesta zona tem menos de cinco hectares.

Além dos povoamentos florestais, estimam-se mais de 80 mil hectares de áreas com espécies florestais dispersas em zonas de matos e pastagens, improdutivos (áreas sem vegetação, tais como pedreiras, afloramentos rochosos ou dunas), campos agrícolas e zonas urbanas.

Ocupação do solo (mil hectares) Região do Norte

2015 Variação 2005 a 2015 (%)
Floresta 584,9 2,3%
Matos e pastagens 770,9 -1,3%
Improdutivos 78,9 -2,7%
Águas interiores 22,4 14,3%
Agrícola 523,3 -2,6%
Urbano 148,1 8,1%

Cinco grupos de árvores mais representativos (mil hectares) Região do Norte

2015 Variação 2005 a 2015 (%)
Pinheiro-bravo 179,9 -8,3%
Eucaliptos 164,1 5,5%
Carvalhos 56,1 23,8%
Castanheiro 43,6 29,0%
Outras folhosas 87,8 20,3%

Fonte: IFN6 – Inventário Florestal Nacional, ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, 2019 (dados reportam a 2015)

Centro: o maior reservatório de carbono na floresta em Portugal continental

Considerando o total de carbono armazenado na floresta em Portugal continental, a região Centro é a que mais contribui, guardando nas suas árvores, subcoberto e biomassa morta mais de 38% do stock florestal de carbono nacional: 128 mil toneladas de dióxido de carbono equivalente.

A área de floresta predomina sobre as demais ocupações do território na região Centro, seguida por áreas de matos e pastagens e agrícolas.

A floresta estende-se por mais de um milhão de hectares, o que equivale a perto de 38,8% do território do Centro, e coloca esta região como a que tem a segunda maior área de floresta em Portugal continental. Esta área aumentou ligeiramente entre 2005 e 2015, mas fica aquém dos cerca de 1122 milhões de hectares que representava no final do século passado (1995).

Cerca de 67% da floresta da Região Centro situa-se nas terras mais baixas: 733,4 mil hectares abaixo dos 400 metros de altitude. Acima dos 700 metros, a área florestal é de menos de 100 mil hectares. Na dimensão da propriedade, voltam a predominar as áreas entre 0,5 e os 2 hectares (mais de 392 mil hectares de floresta) e entre os 2 e os 10 hectares (quase 380 mil hectares de floresta).

Com 460 mil hectares em 2015, o pinheiro-bravo (Pinus pinaster) mantém-se como a espécie com maior representatividade, embora a sua área se tenha reduzido em quase 12% desde 2005. Inversamente, os eucaliptos aumentaram a sua presença no mesmo período, totalizando 40,2% na floresta do Centro.

O Centro é a região com mais pinheiro-bravo e eucaliptos (Eucalyptus spp.) em todo o país, o que revela a aposta em espécies com procura pela indústria de base florestal – pasta e papel, madeira e também mobiliário. Em ambos os casos dominam os povoamentos puros e densos, com uma média de 536 pinheiros por ha e 792 eucaliptos por ha.

O sobreiro (Quercus suber) é outra das espécies a registar maior crescimento: passou dos 33,8 mil hectares em 1995 para os 41,6 mil ha em 2015. Nesta espécie, os povoamentos puros também dominam, com cerca de 114 árvores por hectare.Além das áreas florestais, estimam-se mais de 87 mil hectares com árvores de espécies florestais dispersas integradas sobretudo em zonas de matos e pastagens e campos agrícolas.

Ocupação do solo (mil hectares) Região do Centro

2015 Variação 2005 a 2015 (%)
Floresta 1 093,1 0,9%
Matos e pastagens 838,9 -0,7%
Improdutivos 84,0 -1,2%
Águas interiores 41,9 6,3%
Agrícola 601,1 -3,9%
Urbano 160,9 13,5%

Cinco grupos de árvores mais representativos (mil hectares) Região do Centro

2015 Variação 2005 a 2015 (%)
Pinheiro-bravo 460,0 -11,8%
Eucaliptos 439,7 17,3%
Carvalhos 41,6 17,2%
Castanheiro 21,5 -22,7%
Outras folhosas 70,2 26,0%

Fonte: IFN6 – Inventário Florestal Nacional, ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, 2019 (dados reportam a 2015)

Região de Lisboa: floresta cresceu, mas urbanização ganha terreno

Ao contrário do que muitos imaginam, na Região Metropolitana de Lisboa, a área urbanizada (62,2 mil hectares) não é a mais representativa. À sua frente estão as áreas florestais com 66,3 mil hectares, as áreas agrícolas com 68,1 mil hectares e matos e pastagens com 74,7 mil hectares. Ainda assim, Lisboa é a região com menos floresta em Portugal continental.

A floresta da Região Metropolitana de Lisboa conquistou novo espaço desde 2005 (+2,3% de área), mas é, no entanto, a urbanização que ganha em termos de expansão (+7,4%). Estas duas classes cresceram à custa das áreas de matos e pastagens e de zonas agrícolas e improdutivas.

Três espécies e um género totalizam quase 80% da área de floresta da Região de Lisboa. O sobreiro (Quercus suber) é a mais comum, com mais de 18 mil hectares, o equivalente a 27,5% da floresta. Seguem-se, respetivamente, o pinheiro-manso (Pinus pinea), o pinheiro-bravo (Pinus pinaster) e os eucaliptos (Eucalyptus spp.).

Já em 2005 o sobreiro era a espécie mais representativa na floresta da região e a sua área aumentou mais de 14% em dez anos. Subida maior (16,1%) só a do pinheiro-manso, que passou da quarta à segunda posição e ocupa 13,7 mil hectares. Os eucaliptos reduziram a sua área em perto de 9% e estão agora na quarta posição (12,5 mil hectares), atrás do pinheiro-bravo, que manteve a sua área (13,5 mil hectares).

A floresta estende-se por propriedades de maiores dimensões do que no norte e centro: a maioria entre 2 e 10 hectares (21,2 mil hectares de floresta), mas as áreas entre os 10 e os 50 hectares e com dimensões superiores têm expressão significativa, estando nelas localizados mais de 32 mil hectares de floresta.

Os povoamentos de sobreiro são maioritariamente puros, com cerca de 68 árvores por hectare. No caso do pinheiro-manso, os povoamentos mistos representam mais de metade da área, ao contrário do pinheiro-bravo, em que dominam os povoamentos puros.

Em matas nacionais e perímetros florestais é o pinheiro-manso o mais representativo, seguido do pinheiro-bravo (0,5 e 0,3 mil hectares). Já fora da floresta, os principais contributos para a arborização vêm de matos e pastagens e de zonas urbanas. No total, estas árvores dispersas trazem mais 12,5 milhões de hectares de área arborizada à região de Lisboa.

Ocupação do solo (mil hectares) Região de Lisboa

2015 Variação 2005 a 2015 (%)
Floresta 66,3 2,3%
Matos e pastagens 74,7 -1,5%
Improdutivos 5,0 -28,6%
Águas interiores 24,9 1,2%
Agrícola 68,1 -4,2%
Urbano 62,6 7,4%

Cinco grupos de árvores mais representativos (mil hectares) Região de Lisboa

2015 Variação 2005 a 2015 (%)
Pinheiro-bravo 18,2 14,5%
Eucaliptos 13,7 16,1%
Carvalhos 13,5 0,0%
Castanheiro 12,5 -8,8%
Outras folhosas 5,1 -7,3%

Fonte: IFN6 – Inventário Florestal Nacional, ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, 2019 (dados reportam a 2015)

Alentejo tem a mais extensa área de floresta em Portugal continental e ilhas

Mais de 1,3 mil milhões de hectares no Alentejo são floresta. Isto significa que mais de 42% do território alentejano é florestal, sendo esta a mais extensa de entre as cinco regiões de floresta em Portugal continental e também se considerarmos as regiões autónomas. O Alentejo é, de resto uma das zonas menos urbanizadas do país, na qual as áreas florestais, agrícolas e de matos e pastagens perfazem mais de 95% do território.

Na floresta da região do Alentejo merecem referência as espécies folhosas, que ocupam mais de 1,1 mil milhões de hectares. O sobreiro (Quercus suber) é, de longe, a mais importante: ocupa mais de 609 mil hectares (45,66% da área florestal), embora esta área se tenha reduzido um pouco desde 2005 (-4,1%). Esta predominância contribui para fazer da região do Alentejo a mais importante em Portugal na produção de cortiça, com uma média de 734 mil toneladas a cada ano.

Ao sobreiro segue-se a azinheira (Quercus rotundifolia), espécie sem expressão a norte do Tejo, mas que cobre aqui mais de 317 mil hectares e tem registado crescimento ligeiro.

As duas espécies associadas ao montado alentejano dão-nos pistas sobre a importância dos sistemas agroflorestais nesta região. Embora a sua área seja elevada, os montados são maioritariamente esparsos, com uma média de 73 sobreiros e 38 azinheiras por hectare em povoamentos puros e com o subcoberto ocupado principalmente por pastagens.

Os eucaliptos (Eucalyptus spp.), embora em retração desde 2005, são a terceira espécie mais comum. Segue-se o pinheiro-manso (Pinus pinea), a espécie que mais crescimento regista na floresta do Alentejo, tornando-a na região que mais contribui para a produção de pinhão em Portugal, com uma média anual de 2,9 milhões de toneladas.

Entre as características distintivas desta região está ainda a dimensão da propriedade, com cerca de 40% da floresta (523,5 mil hectares) a estender-se por áreas de pelo menos 50 hectares. Também aqui a dimensão da propriedade está ligada à história e cultura do nosso país.

Refira-se que além das áreas florestadas, as árvores dispersas – principalmente em matos e pastagens e em campos agrícolas – contribuem com mais 179 mil hectares de zonas arborizadas.

Ocupação do solo (mil hectares) Região do Alentejo

2015 Variação 2005 a 2015 (%)
Floresta 1334,6 -1,4%
Matos e pastagens 857,3 8,6%
Improdutivos 18,8 3,9%
Águas interiores 83,4 11,1%
Agrícola 820 -7,3%
Urbano 46,4 16,0%

Cinco grupos de árvores mais representativos (mil hectares) Região do Alentejo

2015 Variação 2005 a 2015 (%)
Pinheiro-bravo 609,4 -4,1%
Eucaliptos 317,5 3,3%
Carvalhos 199,6 -6,2%
Castanheiro 131,5 14,1%
Outras folhosas 55,1 -11,6%

Fonte: IFN6 – Inventário Florestal Nacional, ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, 2019 (dados reportam a 2015)

Floresta do Algarve estende-se por mais de 30% do território

Na região do Algarve, a floresta ocupa perto de 30% do território e estende-se por mais de 145 mil hectares. Isto é bastante menos do que a área ocupada por matos e pastagens, que predominam em mais de 224 mil hectares. Apesar de mais representativas, as áreas de matos e pastagens reduziram-se ligeiramente desde 2005, enquanto a área florestal aumentou 2%.

A sul predomina a floresta de espécies folhosas (mais de 64% da área florestal), embora individualmente a espécie mais comum seja o pinheiro-manso (Pinus pinea), que representa perto de 28% da floresta. O pinheiro-manso aumentou muito a sua representatividade entre 1995 e 2005 (de 23,8 mil hectares para 40 mil) e desde então que a sua área se tem mantido relativamente estável.

O sobreiro (Quercus suber) é a segunda espécie mais representada (cerca de 24% da área de floresta) e tem visto a sua área aumentar.

Aumento expressivo teve também a alfarrobeira (Ceratonia siliqua), cuja área cresceu 35,6% desde 2005. Este aumento indica que a alfarrobeira, uma árvore histórica na região, está a reforçar a sua relevância na floresta algarvia – de resto, o Algarve é a única região em que esta espécie surge entre as mais comuns da floresta em Portugal continental. Ainda assim, os eucaliptos (Eucalyptus spp.) mantêm-se como a terceira espécie florestal da região algarvia, embora com ligeiro decréscimo de ocupação neste período.

Não sendo os mais representativos, são os sobreiros e os eucaliptos que dão o maior contributo para o carbono armazenado pela floresta algarvia.

No Algarve, a dimensão das áreas florestais é, em média, menor do que no Alentejo, mas maior do que nas outras regiões continentais, com 92 mil hectares de floresta em zonas entre os 2 e os 50 hectares.

Ocupação do solo (mil hectares) Região do Algarve

2015 Variação 2005 a 2015 (%)
Floresta 145,3 2,0%
Matos e pastagens 224,4 -0,4%
Improdutivos 4,9 8,9%
Águas interiores 20,2 3,6%
Agrícola 80,4 -6,5%
Urbano 24,5 11,4%

Cinco grupos de árvores mais representativos (mil hectares) Região do Algarve

2015 Variação 2005 a 2015 (%)
Pinheiro-bravo 40,4 0,0%
Eucaliptos 35 11,1%
Carvalhos 29 -0,3%
Castanheiro 16 35,6%
Outras folhosas 10,9 -26,8%

Fonte: IFN6 – Inventário Florestal Nacional, ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, 2019 (dados reportam a 2015)

O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.


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