Com uma extensão superior a 18 milhões de hectares, a floresta espanhola é o principal uso do solo, representando cerca de 36% do território. Quando se consideram todas as áreas florestadas, mais de metade do país tem uma ocupação de uso do solo florestal. Fique a conhecer mais sobre a floresta espanhola neste artigo escrito em colaboração com Rita Gameiro.
09 de Junho 2022
À semelhança do que acontece no nosso país, as áreas florestais são a principal ocupação do solo em Espanha. Com variações entre as várias comunidades autónomas – mais área florestada a norte e menos a sul –, a floresta espanhola é composta principalmente por dehesas (semelhantes ao nosso montado), azinhais (Quercus ilex) e pinheiro-de-alepo (Pinus halepensis).
Para uma análise mais detalhada da floresta espanhola, há que recorrer aos dados dos Anuarios de Estadística Forestal (publicados desde 2005) ou ao Inventário Florestal Nacional.
A mais recente versão dos Anuarios de Estadística Forestal refere-se a 2019 e foi publicada em 2021. De acordo com este Anuario, Espanha conta com cerca de 27,9 milhões de hectares de superfície florestada, que correspondem a 55,3% da área do seu território. Esta superfície florestal divide-se em 18,4 milhões de hectares (36,3% do território) de superfície florestal arborizada (com mais de 10% de coberto arbóreo) e 9,5 milhões de hectares (18,7% do território) de outras áreas florestadas (com árvores dispersas e menos de 10% de coberto arbóreo).
As três principais formações representam 37% da floresta espanhola: as dehesas 14%, os azinhais 13% e os pinhais de pinheiro-de-alepo 10%. A propriedade florestal é 25% pública e 75% privada, incluindo cerca de 3% de “vecinales en mano comum” (propriedades comunitárias) e 13% de propriedade desconhecida.
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Dehesas, à semelhança dos montados nacionais (constituídos maioritariamente por sobreiro e azinheira), são formações criadas e mantidas pela atividade humana, sendo definidas pelo seu uso múltiplo. O seu estrato arbóreo é composto principalmente por azinheira (Quercus rotundifolia), sobreiro (Quercus suber), carvalho-cerquinho (Q. faginea), carvalho-negral (Q. pyrenaica), zambujeiro (Olea europaea subsp. sylvestris) ou freixos (Fraxinus spp.). Além das árvores, o sistema é composto por um estrato herbáceo, que é utilizado maioritariamente para pastagem de gado ou espécies cinegéticas.
Fazendo uma comparação com a floresta do nosso país, Portugal tem, de acordo com dados do sexto Inventário Florestal (IFN6), 36% do seu território (3,3 milhões de hectares) coberto por áreas florestais. As principais formações florestais são também os montados, que junto com sobreirais e azinhais totalizam cerca de 1 milhão de hectares ou um terço da floresta, seguindo-se os pinhais, sobretudo de pinheiro-bravo (Pinus pinaster), e pinheiro-manso (Pinus pinea), que perfazem perto de 1 milhão de hectares.
De acordo com os dados do Perfil Florestal português, de janeiro de 2021, só cerca de 3% da propriedade florestal portuguesa é pública. A restante divide-se em 6% de propriedade de comunidades locais – os baldios – e 91% de proprietários privados. Contudo, só cerca de 46% dos espaços florestais tem cadastro, estimando-se que mais de 20% do território tenha dono desconhecido.
Os dados disponíveis na edição de 2020 das Estatísticas da Agricultura, Silvicultura e Pescas, do Eurostat, apresentam uma visão geral sobre as áreas florestadas (floresta e outras arborizações) em Espanha: quase 28 milhões de hectares (cerca de 56% da área total do país), sendo o segundo país com maior área florestada da União Europeia (UE), a seguir à Suécia (30,3 milhões de hectares que representam 74% da área total do país).
A floresta espanhola e a sua evolução segundo o Inventario Forestal Nacional
Outra fonte de informação sobre a floresta espanhola é o Inventario Forestal Nacional: com mais de 50 anos de história, encontram-se atualmente disponíveis os resultados do Cuarto Inventario Forestal Nacional – IFN4, cujos dados remontam a 2009 e 2010.
Com um levantamento de dados relativo a cerca de 172 espécies arbóreas e 161 espécies arbustivas, o IFN4 revela que as espécies mais comuns nas parcelas de campo avaliadas foram, por ordem de frequência: pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris), pinheiro-bravo (Pinus pinaster), pinheiro-de-alepo (Pinus halepensis), azinheira (Quercus ilex), pinheiro-negral (Pinus nigra), faia (Fagus sylvatica), eucalipto (Eucalyptus globulus), carvalho-negral (Quercus pyrenaica), pinheiro-de-monterey (Pinus radiata), carvalho-roble (Quercus robur), pinheiro-manso (Pinus pinea) e castanheiro (Castanea sativa).
Segundo o IFN4, as zonas mais montanhosas, mais húmidas, apresentam uma maior riqueza e número de espécies florestais. Pelo contrário, as zonas com uma maior influência do clima mediterrânico seco são mais ricas em espécies arbustivas.
O país vizinho tem 5,5 vezes a área de Portugal (cerca de 506 mil km2) e é influenciado pelo Atlântico, o Mediterrâneo e por extensas formações montanhosas, o que faz com que as suas províncias apresentem características e clima variáveis. Isto justifica que as espécies mais abundantes variem em cada região.
A norte, o clima Atlântico traduz-se em temperaturas mais elevadas no verão, mais baixas no inverno e na presença de humidade marinha, permitindo uma maior abundância de espécies e de coberto vegetal. Nesta zona são frequentes as espécies de produção como o pinheiro-bravo, o pinheiro-insigne ou pinheiro-de-monterey e o eucalipto, além da faia-europeia. Na zona oriental de Espanha, de maior influência mediterrânica, e à semelhança do que acontece nas ilhas Baleares, a espécie mais frequente é o pinheiro-de-alepo. Nas ilhas Canárias, onde se encontram espécies da floresta Laurissilva, é o pinheiro-das-canárias (Pinus canariensis), uma espécie endémica, que domina.
Ao longo dos mais de 50 anos que separam o arranque do IFN1 (1965) e o IFN4 (iniciado em 2008), a superfície arborizada em Espanha cresceu de 11,79 milhões de hectares (23% do território) para 18,54 milhões de hectares (37% do território). Este aumento, resultante principalmente do abandono de terras agrícolas e das atividades de reflorestação, é mais notável nas províncias de Almeria (Andaluzia) e de Múrcia. Atualmente, as províncias de Badajoz e Cáceres (Estremadura) são as que apresentam maior superfície florestal arborizada.
A evolução das principais variáveis entre inventários mostra que os bosques espanhóis tendem cada vez mais para populações maduras e árvores de maiores dimensões, com um aumento do volume nas árvores com diâmetro médio (20 a 25 centímetros), com as coníferas a apresentarem uma tendência mais marcada, com valores máximos de volume nas classes de diâmetro à volta dos 25 centímetros.
A recolha de dados do IFN4 permite identificar exemplares de grandes dimensões. Estas árvores são bons indicadores de naturalidade e biodiversidade associada ao ecossistema florestal. A maior parte delas encontra-se na região norte do país.
As árvores com maiores diâmetros são: castanheiro com 3,07 metros, carvalho-séssil (Quercus petraea) com 2,32 metros, carvalho-roble (Quercus robur) com 1,85 metros e pinheiro-das-Canárias com 1,83 metros. Já em termos de altura média são os Eucalyptus globulus que atingem maiores valores, cerca de 21,57 metros. Seguem-se o pinheiro-insigne, com 19,83 metros, a faia com 17,53 metros e o castanheiro com 13,39 metros.
Em termos de volume, as espécies que apresentaram maiores crescimentos foram o pinheiro-silvestre, a azinheira, a faia-europeia, o pinheiro-de-alepo e as principais espécies de produção: eucalipto, pinheiro-de-monterey e pinheiro-bravo, na região atlântica.
De acordo com o State of European Forests 2020 (SoEF2020), a Espanha foi o país europeu com maior aumento de área de floresta entre 1990 até 2020, com uma média de 155,6 mil hectares por ano. A área florestal cresceu de 13,9 milhões hectares em 1990 (28% da área do país) para 18,6 milhões de hectares em 2020 (cerca de 37% da área do país).
O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.