Florestas autóctones: testemunho vivo da biodiversidade para a posteridade

Formam o grande conjunto de espécies lenhosas com origem no território português, pelo que o seu valor é incalculável, principalmente com as ameaças que hoje enfrentam: alterações climáticas, espécies exóticas, incêndios rurais e desinvestimento. Para reforçar a sua importância e fomentar a discussão, 23 de Novembro é Dia da Floresta Autóctone.

Quando confrontados com descrições dos conjuntos arbóreos e arbustivos que compõem a floresta autóctone portuguesa, é recorrente verificarmos o emprego de termos como “resiliente”, “policulta”, “diversa”, “adaptada”. No entanto, são poucos os pensadores da área que conseguem mensurar a riqueza deste património biológico que, ao longo de milhares de anos, se inter-relacionou com (e influenciou) os diferentes ecossistemas e bioclimas existentes em Portugal e que, aos dias de hoje, se apresenta como uma herança viva de todos esses processos – ao mesmo tempo que espelha as variações do território.

Paulo Farinha Marques, professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e especialista em arquitectura paisagista, parte deste quadro para expor a sua visão da floresta nativa portuguesa. “É como se fosse um verdadeiro jardim, tão diverso que parece que alguém especial o veio plantar.” Nele cabem, a norte, o carvalho-roble e o padreiro, a sul o sobreiro e a azinheira, nos territórios com clima mais rigoroso o castanheiro e a cerejeira-brava, nos locais mais amenos o loureiro, nas zonas mais altas, o teixo e a bétula, e o amieiro e o freixo nos territórios ladeados por cursos de água.

O carácter único deste património – que hoje tem a sua existência celebrada e assinalada –, por configurar um “repositório da informação biológica mais precisa que existe”, deveria constituir, na opinião do docente, um motivo mais do que suficiente e válido para a sua conservação – um processo contínuo, ainda a decorrer, inerente à condição de seres vivos. “Está sempre a replicar-se e a reinventar as suas substâncias, os seus genes e o seu valor.” Em última instância, uma política de conservação face à floresta autóctone, à luz dos dias de hoje, que permita, no futuro, “com mais capacidade anímica, científica e executiva”, retomar essa mesma floresta. Um recomeço que surge como resposta à destruição, ao “deitar abaixo”.

Uma floresta planeada (e plantada) para dar resposta aos objectivos económicos

Ao longo dos séculos, a história da floresta autóctone reflecte a evolução dos processos económicos que serviram de base à subsistência da vida humana – principalmente desde que esta começou a ser dominante. Segundo Helena Freitas, docente da Universidade de Coimbra e investigadora no Centro de Ecologia Funcional, “ao longo do século XX, sobretudo devido ao aparecimento de novas actividades económicas,” a floresta autóctone portuguesa sofreu transformações profundas, “fazendo que ela correspondesse (e respondesse) a algumas dessas actividades”.

Numa primeira fase, a fileira

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