As florestas da Amazónia em terras indígenas, na América do Sul, ajudam a reduzir a propagação de doenças, de acordo com um novo estudo liderado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
“As florestas são um bálsamo (medicamento) para as ameaças relacionadas com incêndios que afectam os pulmões e o coração, bem como para doenças como a doença de Chagas, a malária e a febre maculosa [ou febre da carraça]”, explica a investigadora Paula Prist, da UICN.
A investigação, publicada na revista científica Communications Earth & Environment, indica que as florestas da Amazónia em terras indígenas reduzem a propagação de 27 doenças. Das doenças analisadas, 21 devem-se a incêndios e seis a doenças zoonóticas (transmitidas por animais ou humanos), ou transmitidas por vectores (vírus, bactérias e parasitas).
Nas regiões com mais de 45% de cobertura florestal, que integra território indígena, verificou-se uma redução do número de casos de doenças relacionadas com incêndios (como a pneumonia) e de doenças zoonóticas (como a malária). A exposição a incêndios provoca um aumento dos sintomas respiratórios, doenças cardíacas, acidente vascular cerebral, enfisema e cancro do pulmão, bem como bronquite, asma, dor no peito e problemas pulmonares e cardíacos crónicos.
Desflorestação associada a aumento de doenças
A desflorestação também está directamente ligada ao aumento das chamadas doenças tropicais negligenciadas, causadas por vírus baterias e fungos, para as quais não existem curas prontamente disponíveis.
A investigação indica ainda que os territórios indígenas podem ajudar a proteger a saúde apenas se for mantido um elevado nível de cobertura florestal. O efeito protector da cobertura florestal, uma espécie de “escudo verde”, leva a uma maior absorção da poluição pelas árvores, à redução do contacto humano-animal e à maior biodiversidade nos territórios.
Os problemas de saúde foram registados na Bolívia, no Brasil, na Colômbia, no Equador, no Peru, em Suriname, na Venezuela e na Guiana Francesa. Os investigadores do estudo examinaram 20 anos de dados referentes a problemas de saúde. O estudo avaliou dados de 1733 municípios que representam mais de 74% da Amazónia.
Paula Prist explica ainda que “garantir que as comunidades indígenas têm direitos sólidos sobre as suas terras é a melhor forma de manter as florestas e os seus benefícios para a saúde intactos”. Estima-se que 2,7 milhões de indígenas vivam na Amazónia.