O Fundo Monetário Internacional (FMI) recomenda aos países mais afetados pela quebra na exportação de bens alimentares da Rússia e da Ucrânia que permitam o aumento dos preços, mas protegendo sempre os grupos mais vulneráveis.
“Os países devem permitir que os preços internacionais se reflitam nos preços domésticos, mas protegendo as famílias que estão mais necessitadas”, lê-se numa análise do FMI ao efeito que a invasão da Ucrânia pela Rússia teve no preço dos bens alimentares e da energia, principalmente na África subsaariana.
“Os governos enfrentam escolhas políticas difíceis, tentando proteger as suas populações de preços alimentares inéditos e preços de energia galopantes devido à guerra na Ucrânia”, escrevem os economistas do FMI David Amaglobeli, Emine Hanedar, Gee Hee Hong e Céline Thévenot, numa análise com o título ‘Resposta aos preços elevados da alimentação e da energia deve focar-se nos mais vulneráveis’.
Na análise, que apresenta algumas recomendações para os governos, estes economistas do FMI abordam as várias medidas tomadas pelos governos para lidar com a subida dos preços da energia, principalmente do petróleo e gás, e dos alimentos, nomeadamente das matérias-primas alimentares, que são particularmente vincadas nos países africanos, onde cereais como o trigo têm um consumo significativo.
“A nossa pesquisa das medidas anunciadas pelos governos mostra que muitos governos tentaram limitar o aumento nos preços a nível interno, ou cortando impostos, ou dando um subsídio direto no preço”, escrevem, alertando, de seguida, que “estas medidas de apoio criam novas pressões nos orçamentos, que já estão pressionados pela pandemia”.
Limitar o efeito do aumento dos preços internacionais “nem sempre é a melhor abordagem”, alertam, salientando que “os decisores políticos devem permitir que os preços internacionais mais altos se reflitam na economia doméstica, ao mesmo tempo que protegem os agregados familiares mais afetados pelos aumentos”.
Em última análise, salientam, “isto é menos oneroso que manter os preços artificialmente baixos para todos, independentemente da sua capacidade de pagar”.
Comentando a evolução dos preços, os economistas do FMI apontam que “os preços do trigo, uma matéria-prima cuja Rússia e Ucrânia representam um quarto das exportações, subiram 54% face ao ano anterior”, o que origina “elevados custos para os países e incerteza sobre os fornecimentos devido às perturbações nas importações de alimentos e energia”.
As pessoas dos países de baixo rendimento são mais vulneráveis à subida dos preços porque a comida representa 44% do consumo, em média, o que compara com 28% nos mercados emergentes e 16% nas economias avançadas; para além disso, também a subida dos preços da energia pesa mais nas famílias com menores rendimentos.
“As famílias de altos rendimentos tendem a usar mais combustíveis que as de baixos rendimentos, e são utilizadores maiores de gasolina quando comparados com os agregados familiares mais pobres, que nos países em desenvolvimento tendem a usar mais querosene”, diz o FMI.
Os economias salientam, por isso, que “as políticas governamentais para mitigar o impacto social do aumento dos preços têm de levar em contas estas diferenças e garantir que o peso não é sentido de forma desproporcional pelos mais pobres”.
Até 2024 ou 2025, “os governos têm de focar-se em investir em redes de segurança social e reformar os subsídios atuais; estas revisões vão ajudar os países a melhorar a resiliência e promover uma despesa mais produtiva para sustentar o crescimento inclusivo”, conclui o FMI.