Após mais de cinco décadas de inatividade, o Forno de Cal do Sobreirinho, em Alveite Grande voltou a ser aceso, sob a supervisão do mestre Lino de Oliveira e uma equipa de 20 voluntários, que durante 33 horas consecutivas mantiveram a fornalha acesa.
Trata-se da segunda fase do projeto “Da pedra à cal – cozedura artesanal da cal”, organizada pela Junta de Freguesia de São Miguel, com o apoio da Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares, tendo por objetivo recuperar a memória desta atividade identitária deste território, preservando os processos e técnicas artesanais de extração e manufatura da pedra e da cal,
Recorde-se que esta iniciativa arrancou em outubro, com a caminhada “Da pedreira ao forno da cal” e a colocação da pedra no forno, sendo que as condições meteorológicas adversas obrigaram a uma reprogramação do processo de cozedura.
Para João Miguel Henriques, Presidente da Câmara Municipal, «preservar estas tradições é garantir que a nossa história e identidade se mantenham vivas para as futuras gerações. Ao reativarmos o forno de Alveite Grande e revivermos os saberes antigos, não só celebramos o passado, como criamos um vínculo com o presente, onde as novas gerações podem aprender e valorizar o património que nos define como comunidade», destacou.
Para além do processo de cozedura, o programa incluiu diversas atividades paralelas como uma exposição sobre a cal, oficinas de argamassas e caiação, vídeos alusivos ao tema e uma palestra do arqueólogo Fernando Ricardo Silva. Já a a sessão “Testemunhos de Cal” trouxe à luz memórias de antigos trabalhadores das pedreiras e fornos, proporcionando um espaço de partilha entre gerações. Este encontro sublinhou o interesse crescente na preservação deste património cultural e no envolvimento das novas gerações na valorização do território.
Candidatura “Património de Alveite Grande: entre a pedra e a cal”
Refira-se que a iniciativa “Da Pedra à Cal” enquadra-se na candidatura da Junta de Freguesia de São Miguel de Poiares ao PDR 2020, intitulada “Património de Alveite Grande: entre a pedra e a cal”.
Esta candidatura tem por objetivos a preservação, conservação e valorização do património da aldeia de Alveite Grande, na criação e recuperação de infraestruturas locais que perpetuem a sua história e cultura, e cujo valor identitário e, sobretudo, diferenciador assenta na pedra avermelhada, extraída da Serra com o mesmo nome, e que pode ser encontrada em edifícios locais de grande relevo histórico, bem como igrejas e pelourinhos.
Esta atividade teve aliás uma grande relevância social e económica em Vila Nova de Poiares, como o demonstram recortes da imprensa regional, nomeadamente d’A Comarca de Arganil, que numa edição do ano de 1900, enfatizava a importância de Alveite Grande e da sua serra, aludindo às condições geológicas únicas que se consumavam na venda de pedra, cal e mós.
Esta candidatura engloba uma série de ações e atividades que passam pelo mapeamento e documentação do património físico e imaterial das pedreiras, a inventariação do património cultural da aldeia e das suas gentes, a criação de uma plataforma digital que sirva de repositório e divulgação, a implementação de um circuito interpretativo, recuperando e valorizando os antigos caminhos, as áreas da pedreira e o seu património geológico, paisagístico e cultural associado, e ainda beneficiar o espaço físico da antiga fonte da aldeia, enquanto espaço agregador da comunidade e das suas atividades culturais.
O artigo foi publicado originalmente em Gazeta Rural.