Roullier

Franceses da Roullier começam internacionalização nos vinhos em Portugal

Gigante da agropecuária comprou a Falua, na Região do Tejo, em 2017, e acaba de alargar o projeto aos Vinhos Verdes, com a compra de uma adega em Monção. Em três anos espera alargar o projeto vitivinícola a mais países europeus e aos EUA.

Os franceses da Roullier, conglomerado francês que tem na agropecuária e na indústria de fertilizantes o grosso do seu negócio, decidiu expandir a sua área de atuação para a vitivinicultura e elegeu Portugal para o arranque deste projeto. Comprou, em 2017, a Falua, na região do Tejo, e, já este ano, em fevereiro, alargou a ação aos Vinhos Verdes, com a aquisição de uma adega em Monção. O objetivo é continuar a reforçar a posição quer no mercado nacional, quer com investimentos noutros países, designadamente na Europa e na América do Norte.

“O grupo Roullier foi fundado, em 1994, em Saint-Malo, França, por Daniel Roullier que, apesar de contar hoje com 96 fábricas em 131 países, onde dá emprego a mais de oito mil colaboradores e gera um volume de negócios consolidado de mais de dois mil milhões de euros, continua a ter uma dinâmica e uma vontade constante de partir para novos negócios e geografias”, explica Rui Rosa, administrador da Roullier em Portugal há mais de 20 anos e que, desde 2017, acumula a liderança do sector vitivinícola no grupo. A Roullier está presente em Portugal desde 1994, quando instalou uma filial comercial no país e que reforçou, em 2010, com a abertura de uma unidade industrial em Setúbal, especializada em fertilizantes e nutrição animal. A vontade de reforçar o peso do agroalimentar em território nacional levou Rui Rosa a propor o investimento no sector vitivinícola.

“Temos uma equipa de 70 técnicos de campo que diariamente visitam explorações e a cultura da vinha está por todo o país. Achamos, por um lado, que faria sentido termos vinhas que servissem de montra às nossas soluções de fertilizantes e que nos permitissem, também, fazermos investigação aplicada para o grupo. E, tendo vinha, fazia todo o sentido estarmos em toda a fileira, sendo que o vinho português é um produto de excelência, com grande valor acrescentado, mas que tem, ainda, um grande caminho a fazer para se implementar por esse mundo fora”, adianta Rui Rosa.

Das muitas propriedades visitadas, o grupo escolheu a icónica Vinha do Convento da Serra, assente em calhau rolado, uma especificidade que “confere propriedades muito diferenciadoras aos vinhos da Falua”. A propriedade, com 70 hectares de vinhas próprias e contratos com produtores de mais 200 hectares, e as marcas foram adquiridas a João Portugal Ramos, a quem foi, também, comprada, em fevereiro deste ano, em plena pandemia de covid-19, a adega em Monção, embora, aí, o negócio não tenha incluídos as marcas de vinho. Em Monção pretende processar, já na próxima vindima, 200 mil litros de vinho, adquirindo as uvas a produtores locais. Em estudo estão as marcas com que estes vinhos chegarão ao mercado no início do próximo ano.

O investimento acumulado do grupo Roullier no projeto vitivinícola em Portugal ronda já os 10 milhões de euros, designadamente na expansão da adega da Falua, mas não fica por aqui. Rui Rosa, admite que há vontade de crescer neste segmento de negócios e que o grupo “está atento às oportunidades”, mas não aponta nenhuma área geográfica em especial. “Sabemos que queremos ter uma presença nacional, mas interessam-nos mais projetos com que nos identifiquemos do que uma região em particular”, diz. Ou seja, mais tarde ou mais cedo, o grupo acabará por se estender, de forma natural, para o Alentejo e o Douro, zonas “mais emblemáticas” do vinho em Portugal, mas não tem qualquer objetivo temporal definido. “Estamos atentos às oportunidades, mas não numa perspetiva oportunística”, sublinha este responsável, admitindo que o objetivo é “diversificar e ganhar peso” em Portugal para, depois, partirem para outras geografias. “Portugal é pequeno para a dimensão do grupo Roullier e o desafio que nos é colocado é que, nos próximos três anos, asseguremos presenta externa na produção de vinhos em dois continentes”. A estratégia passa por alargar na Europa e chegar à América do Norte, mas “os contactos são, ainda, muito preliminares”.

Com um volume de negócios de sete milhões de euros em 2019, dos quais 60% obtidos nos mercados internacionais, a Falua exporta para mais de 20 países, com especial destaque para a Polónia, Reino Unido, Brasil, Suíça, China e Colômbia. O objetivo do grupo não é tanto crescer em volume é, sobretudo, reforçar as margens, produzindo vinhos de qualidade, diferenciados e com valor acrescentando. “Com certeza que vamos subir na faturação, até porque lhe acrescentamos mais o projeto nos Vinhos Verdes, mas não é esse o principal objetivo. O nosso desafio está na criação de marcas e de valor”, frisa. Por exemplo, o Conde Vimioso Reserva, o topo de gama da empresa, tem vindo a conhecer “um desenvolvimento muito grande”. Monte da Serra, Nazaré North Canyon, Tagus Creek e Tercius são outras das marcas da Falua, bem como a própria referência Falua.

Quanto às perspetivas para 2020, Rui Rosa admite que a expectativa é, ainda, de “algum crescimento”, mas reconhece que a “incerteza é muito grande”, o que torna “muito difícil” qualquer exercício de quantificação. O mercado nacional “parou completamente”, mas as exportações ajudaram a ultrapassar esta fase, já que, alguns destinos tradicionais, como Inglaterra, Polónia, Colômbia, EUA e Canadá, mantiveram uma atividade “quase normal”.

O artigo foi publicado originalmente em Dinheiro Vivo.


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