As temperaturas dos próximos dias ou semanas ditam o sucesso da produção de amêndoa na região
É chamada a fase “crítica”, visto que já passou o período da floração e já se começa a ver pequenas amêndoas nas árvores. Mas, a oscilação das temperaturas e a geada pode afectar e queimar o fruto que está agora em crescimento e, por isso, está muito frágil. “Se vierem temperaturas muito baixas, queima o fruto que tem ainda os tecidos muito tenros e susceptíveis de serem queimados pela geada”, explicou o responsável da Cooperativa de Agrícola de Alfândega da Fé. Segundo Mário Lopes, neste momento são precisas temperaturas amenas e em Abril a chuva é bem-vinda para a rega. Rui Tranchete, responsável pela Amêndoacoop, em Torre de Moncorvo, estima que devido às condições climáticas haverá uma quebra na produção. “Não por causa das chuvas mas sim das geadas a produção pode ser afectada”, referiu. Mesmo no distrito, há zonas onde a amêndoa está mais avançada. Armando Pacheco, da LCN-Cooperativa dos Lavradores do Centro e Norte, situada em Mogadouro, explicou que, nesta altura, quando começa o “vigamento do fruto”, o frio “pode ser muito prejudicial”. Por isso, nesta fase, os produtores dizem ainda ser prematuro fazer previsões da campanha que se avizinha.
Campanha anterior e expectativas para 2021
A cooperativa de Alfândega é produtora própria e tem cerca de 30 hectares de amendoal. Na campanha anterior, conseguiu 40 toneladas de amêndoa. Metade da exploração foi plantada apenas há três anos e, por isso, ainda não está a produzir de forma significativa. Já a LCN tem perto de 500 sócios e em 2020 conseguiram cerca de 800 toneladas de amêndoa. Este ano, Armando Pacheco espera que este número seja ultrapassado. “O ano passado foi uma campanha que em termos de produção, os amendoais que estavam a produzir tiveram uma quebra, mas vão entrar muitos, muitos pomares agora em produção e esperamos que nos próximos cinco ou seis anos seja sempre a subir”, disse. Amêndoacoop, em Torre de Moncorvo, conta com cerca de 300 associados. Apesar da quebra do ano passado, que foi “dos piores anos de produção”, devido às temperaturas, também eles estão optimistas para esta nova campanha. As três associações disseram que a maioria da amêndoa vendida fica em Portugal.
Preço aquém do desejado
Nos últimos três anos, o preço da amêndoa tradicional tem vindo a cair. Segundo Mário Lopes, neste momento, a amêndoa convencional com casca ronda 1,20 euros, muito abaixo do que seria ideal, 1,50 euros. Um dos factores que estar a influenciar a baixa de preço, está relacionado com o aumento de produção de amêndoa das mais diversas variedades. “A produção de amêndoa em todo o mundo está a crescer a um ritmo superior ao do consumo e quando isso acontece, o preço tende a descer. Temos mais oferta do que procura e o preço não se torna tão simpático”, referiu. Ainda assim, o responsável pela Cooperativa de Agrícola de Alfândega da Fé considera que este negócio ainda é rentável. “Tendo em conta as novas variedades, que são muito produtivas e em locais onde haja água para a rega, a cultura da amêndoa ainda continua a ser rentável”, afirmou. Já para Armando Pacheco o grande problema está na “cadeia de valores”. O responsável da LCN, em Mogadouro, entende que há uma grande discrepância entre o valor que é pago ao produtor e o que é pago pelo consumidor final. “Toda a parte, desde o produtor, até ao consumidor, fica com muito muito dinheiro. O produtor deveria ficar com a maior parte deste dinheiro e fica com a menor parte”, apontou. Armando Pacheco defende que o agricultor pode alterar esta tendência e a solução está na organização. “O agricultor tem que se organizar de forma a retirar muito intermediários que estão no meio e instituições como a LCN terão um grande papel no rendimento ao agricultor, porque eliminam o compra porta à porta, o ajuntador, depois o que vai vender, todos têm que ser eliminados”, salientou. Contrariamente à amêndoa tradicional, a biológica não sofreu qualquer alteração de preço. Segundo Rui Tranchete, “todos os amendoais que não estavam certificados como agricultura biológica, tiveram uma quebra de 50% do preço”. “Sempre foi muito valorizada a amêndoa em agricultura biológica”, referiu, acrescentando que o agricultor pode então aderir a este tipo de agricultura. A pandemia poderá também influenciar esta quebra de valores. Rui Tranchete considera que com os mercados fechados, muita amêndoa não é vendida. “Na altura da Páscoa, é quando se vende muita amêndoa. Há dois anos houve uma boa produção e todos os nossos clientes [o ano passado] disseram que estavam atestados ainda de amêndoa, porque não conseguiram vender”.
Jornalista: Ângela Pais
O artigo foi publicado originalmente em Jornal Nordeste.